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Paulo Moreira: inspirações, processo criativo e linguajar nordestino

Marcando presença na FLiQ 2019, o ilustrador e quadrinista paraibano concedeu autógrafos e falou um pouco sobre a origem de seus personagens

POR DOUGLAS LUCENA
Paulo Moreira na sessão de autógrafos
(Foto: Facebook/FLiQ)

“Inicialmente, [o personagem principal laranja] não era pra ser eu.”

“Com o tempo, passei a desenhar mais e fazer mais histórias com ele porque parei e pensei ‘pô, esse cara aqui sou eu’”, explica.

Numa roda de conversa sobre o tema “A nova cara dos quadrinhos: do Nordeste para o mundo”, promovida pelo estande do Cuscuz HQ na nona edição da Feira de Livros e Quadrinhos de Natal, o ilustrador e quadrinista Paulo Moreira revela que o personagem principal e recorrente de seus quadrinhos não foi pensado para ser uma representação dele.

A identificação com o personagem, de acordo com Paulo, foi um fator relevante para se chegar à conclusão de que, mesmo sem querer, o caricato jovem de coloração laranja acabava por ser sua representação fidedigna. O autor também explica que pelas histórias serem elaboradas a partir de momentos aleatórios vivenciados por ele, as semelhanças surgiram de maneira totalmente natural.

“Geralmente, as ideias vêm do nada, aleatório assim mesmo. As situações que desenho costumam ser do cotidiano, que eu vejo e me dá vontade de desenhar. No processo, eu penso primeiro na ideia do texto, escrevo e depois vou pro desenho”, relata.

O jovem paraibano também comenta sobre o característico sotaque nordestino que os personagens em suas tirinhas possuem, afirmando novamente que o processo criativo se dá através da aleatoriedade, mas também de uma particularidade sua. “Nas tirinhas, eu sempre escrevo como eu falo para dar essa sensação de você ‘ouvir’ a escrita”.

A FLiQ 2019 ocorreu entre os dias 12 e 15 de setembro, no espaço interno do Arena das Dunas, em Natal, reunindo dezenas de leitores em atividades diversas, como oficinas de criação, exposição de trabalhos e até apresentações de poesia. Em uma das rodas de bate-papo do evento, além de Paulo Moreira, também estavam presentes os ilustradores Gabriel Jardim, autor da Turma do Morro – uma versão reimaginada dos personagens de Maurício de Souza – e Gabriel Dantas, autor de Abandonado por Elena.

Convidados tiram foto com os participantes ao final do bate-papo. Agachados, da esquerda para a direita: Gabriel Dantas, Paulo Moreira e Gabriel Jardim (Foto: Facebook/FLiQ)

Mesmo com o público tentando ser igualitário e fazendo perguntas para todos os três convidados, Paulo foi o que ganhou mais destaque, principalmente na hora da sessão de autógrafos: a fila de pessoas que se formava para a aquisição de seus quadrinhos era a maior das três. Seu sucesso nas redes sociais também é inquestionável, já que conta com quase 90 mil seguidores no Instagram, 171 mil pessoas curtindo sua página no Facebook e 85,3 mil seguidores no Twitter.

O Caderneta Nerd realizou uma entrevista individual com o convidado após a sessão de autógrafos. Na íntegra abaixo, você pode conferir tanto as nossas perguntas quanto as que foram feitas pelo público no bate-papo:

Caderneta Nerd - Como se dá o processo criativo das tirinhas?
Paulo Moreira - Geralmente, as ideias vêm do nada, aleatório assim mesmo. As situações que desenho costumam ser do cotidiano, que eu vejo e me dá vontade de desenhar. No processo, eu penso primeiro na ideia do texto, escrevo e depois vou pro desenho. Já aconteceu muitas vezes de eu mudar alguma coisa no meio do caminho e ter que voltar e reescrever a tirinha. Faz parte.

Público - O personagem principal laranja sempre foi você?
Paulo Moreira -
Inicialmente, não era pra ser eu. As histórias que eu escrevia eram muito aleatórias, eu fazia o que vinha na cabeça no momento. Com o tempo, passei a desenhar mais e fazer mais histórias com ele porque parei e pensei ‘pô, esse cara aqui sou eu’, sabe? Me identifiquei demais e acabei tornando ele recorrente nos quadrinhos.
Público - O uso do linguajar nordestino nas tirinhas foi pensado pra ser assim?
Paulo Moreira -
Não, isso foi outra coisa aleatória. Nas tirinhas, eu sempre escrevo como eu falo para dar essa sensação de você ‘ouvir’ a escrita. Terminou que isso se tornou um fator pra muitos se identificarem e começarem a me acompanhar, mas não foi nada pensado no começo por mim não, foi natural. Tem muito dessa naturalidade também na personalidade dos personagens, porque todos eles têm um traço meu, da minha própria personalidade.

Público - De onde surgiu a ideia das tirinhas da mosca, da lagartixa e da aranha?
Paulo Moreira -
Eu tinha ido esperar uma amiga no aeroporto e tava fazendo algo pra passar o tempo. Como meu celular tava descarregando, eu comecei a desenhar aleatoriamente e a ideia veio. Desenhei um, gostei muito, e depois veio o resto dos animais. Foi tipo uma bola de neve assim de ideias. Tô planejando fazer um livro das histórias deles no fim do ano.

Caderneta Nerd - E a ideia do Junio Total? De onde veio a inspiração pra fazê-lo?
Paulo Moreira -
Pô véio, então, num veio de canto nenhum [risos]. Assim, porque o bicho é um super-herói e era um personagem que eu queria explorar de ter um super-herói que, sei lá, todo mundo tem um super-herói e é o herói que dá o leque pra várias possibilidades de você tirar onda com ele. E eu queria fazer um super-herói que fosse um pouco escroto, fosse ‘mei’ ruim. E foi isso, tem muito ‘arrudêi’ não.

Uma das tirinhas do Junio Total (Foto: Facebook/Paulo Moreira)

Caderneta Nerd - Seus desenhos são muito autorais, mas você tem alguém que te inspira, seja nacional ou internacional?
Paulo Moreira -
Tem vários ilustradores que eu me inspiro assim em questão de estilo, em questão de tirinhas e tal. Tem o Chico, pronto, Shiko¹ que tá aí, que tem os desenhos aí, foi um dos primeiros que eu vi, que eu conheci que era ilustrador, que é foda e que era lá da Paraíba, que eu fiz ‘caramba, pô, o bicho é um cara que faz ilustração e faz ilustração de gente da Paraíba, faz quadrinho bem urbano e num é aqueles quadrinhos de super-heróis ou quadrinhos de sagas, sei lá, megalomaníacas assim e ele faz histórias de gente daqui que é muito bom’. Foi um dos que me inspirou muito pra eu querer e ficar ‘ah, quadrinhos e ilustrações, dá pra tirar algo bom daí’. Teve vários outros, Vitor Cafaggi que ele fazia as tirinhas de Valente, que ele fez a Turma da Mônica, e outros assim que eu não tô lembrando agora.

¹: Francisco José Souto Leite, mais conhecido como Shiko. Artista plástico, ilustrador, grafiteiro, roteirista, quadrinista e diretor de curtas-metragens, que também estava presente na 9ª FLiQ.

Caderneta Nerd - Agora para encerrar: sobre seu brainstorming, como você sabe quando uma tirinha vai ser pontual e quando vai ser uma história mais longa, dividida em várias tirinhas?
Paulo Moreira -
Então, isso é meio que um pouco aleatório, que geralmente quando eu saio e ando na rua assim, eu chego em casa e sempre tenho umas duas ou três ideias pra tirinha. Porque assim, dá pra fazer tirinha de qualquer situação. Se você prestar atenção, qualquer ceninha assim, qualquer retrato, dá pra você tirar uma tirinha, porque eu gosto de pegar tirinha e fazer coisas dessas situações que acontecem no dia a dia que a gente nem repara, mas que são engraçadas e dá pra fazer alguma coisa disso. Aí eu gosto de pegar essas situações que eu vejo no dia a dia. E também às vezes quando eu tenho um ‘cliquezinho’ assim, eu pego e anoto no celular e quando eu chego em casa, eu gosto de ler assim e começo a desenvolver a ideia. Quando eu desenvolvo a ideia, vejo que dali dava pra puxar outra tirinha e assim vai surgindo várias outras.

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