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Gotham: uma série que merece respeito

Defeituosa, mas digna de louvor 

Por Léo Figueiredo 



Gotham é podre, há corrupção para todos os lados. De cima a baixo. Essa assertiva, parafraseada de uma fala do personagem Jim Gordon, sintetiza não apenas o que representa uma cidade, como também classifica o teor do conteúdo que a série Gotham tenta passar.

E antes que comparações sejam feitas, Gotham está longe de ser uma nova Smallville. Esta se dedicou a traçar a jornada de Clark Kent até o momento que ele enfim usa a vestimenta do Superman. Gotham não é sobre o jovem Bruce Wayne se tornando o Cavaleiro das Trevas, pois a mitologia do Homem-Morcego é mais profunda que isso.

O objetivo do seriado é mostrar por qual motivo a metrópole precisa de um herói e para isso resolveu focar sua narrativa em Jim Gordon (Ben McKenzie), o detetive que se opõe a toda devassidão que a cidade oferece. É no cotidiano do seu ofício que Gordon se depara com os clássicos vilões do Batman, como o Pinguim (Robin Lord Taylor), Charada (Cory Michael Smith), Espantalho, Capuz Vermelho e até mesmo um personagem que conquistou o pódio de ser cogitado como Coringa. Uns são mafiosos, outros são vítimas de traumas, alguns são verdadeiros narcisistas e psicopatas.


Apesar de não ser fiel aos quadrinhos, a série acerta em explorar personagens de maneira realista e psicótica, revelando de fato toda a indecência que habita na cidade de Gotham. Diante disso, por que o programa merece a atenção dos nerds? Cuidado com os possíveis spoilers.

Uma luz na escuridão

Bruce abraça sua jornada heroica

Boa parte da primeira temporada de Gotham foi dedicada a mostrar conflitos entre máfias rivais (Família Falcone e Maroni), gangues e a violência crescente que assola a cidade. O fato disso é que o episódio piloto começa com a morte dos pais de Bruce e no decorrer da temporada é descoberto que tal fatalidade foi arquitetada, ou seja, alguém os queria mortos.

Quatro temporadas se passaram e a cidade não parece menos perigosa. Pelo contrário, a busca pelo poder e monopólio do submundo do crime ainda é bastante latente na região. Embora o objetivo principal da série não seja mostrar o crescimento de Bruce até se tornar um vigilante, é inevitável que Gotham não mostrasse a indignação do garoto diante de uma realidade tão torpe. Afinal, o Batman é um fruto da violência. Ele existe por causa do trauma de uma criança que viu os pais morrerem diante dos seus olhos.


Gotham exibe o avanço de Bruce Wayne nesse sentido: ele aprende a lutar com Alfred, perde o medo das ruas graças à amizade com Selina Kyle, aprende a investigar, observar e percebe que matar é algo errado. São aspectos interessantes de assistir, uma vez que nenhum dos filmes se aprofundou na infância do órfão bilionário. Até ele se tornar a esperança que a cidade precisa. Uma luz para iluminar as trevas dos meandros de Gotham City. 

Os vilões

Os vilões são um ponto forte da série. À direita, Pinguim e Charada.


Muitos podem criticar Gotham de diversas formas, mas não há como ignorar o fato de que os vilões são bem desenvolvidos e que os atores se entregam perfeitamente aos seus personagens. O destaque aqui vai para Pinguim e Charada. O público pôde acompanhar todo o percurso de ambos para a glória de suas vilanias. O primeiro começa a série como um lacaio e quando finalmente tem o controle sobre o crime da cidade, leva uma rasteira de Theo Galavan. Em seguida chega a se tornar prefeito, mas a sorte nunca está ao seu favor. Inimigos não param de chegar e ameaçar o sossego de Oswald Cobblepot.

Edward Nygma, o Charada, por sua vez, teve um início bem diferente. Ele era legista da delegacia onde Jim Gordon trabalha e seu prazer era soltar charadas nos momentos menos oportunos. O seu arco de mocinho até se tornar vilão é um dos pontos altos da série. Ele mata o namorado abusivo da garota pela qual sofre uma paixão platônica e isso desperta nele uma segunda personalidade. Sua insanidade o leva a se tornar o lendário Charada. 

Há um terceiro personagem, chamado Jerome (Cameron Monaghan). Fique de olho nesse cidadão, pois ainda que tenha sido confirmado que ele não será o arqui-inimigo do Homem-Morcego – o Coringa – o surgimento do verdadeiro Palhaço do Crime pode estar mais próximo do que nunca. A aparição de estreia de Jerome foi na primeira temporada e a atuação foi tão marcante e causou tantos elogios, que ele voltou para as temporadas seguintes. Tiveram até que ressuscitá-lo, só para ter uma ideia do número de fãs que ele conquistou.

Jerome sabe tocar terror, mas já foi confirmado que ele não será o Coringa


O clima e a violência

O clima sombrio é uma das qualidades de Gotham



Toda a fotografia da série traz uma sensação noir. A atmosfera lembra muito a década de 1990 e tecnologias como Internet e Wi-Fi sequer são mencionadas. Essa ambientação traz à série uma sensação de perigo e caos, a qual é fortalecida com cenas explícitas de sangue jorrando. O terror vem sem avisar, por onde menos se espera. Afinal, estamos falando de uma das cidades mais perigosas do mundo da cultura nerd. Era necessário que o seriado trouxesse esse tom marcante de violência.

Os arcos

Ainda que não seja devota dos quadrinhos, Gotham se inspira bastante neles. Inclusive já trouxe grandes arcos do Cavaleiro das Trevas para a sua trama, como Corte das Corujas. Mais recentemente, vem apostado em nuances de Batman: Ano Um e inclusive a narrativa caminha para um sentido muito semelhante ao do primeiro filme da trilogia de Christopher Nolan, Batman Begins.

No presente momento em que este texto está sendo publicado, Gotham se encontra no hiato da sua quarta temporada. Apesar de estar inserindo elementos formidáveis à trama – há um forte indício de que a Liga das Sombras apareça em breve –, é preciso reconhecer que vez ou outra a série não sabe o que fazer com um leque tão grande de personagens. É comum que os núcleos se revezem por episódio e que apenas colidam no fim da temporada.

É verdade que há boatos de que a série pode ser cancelada em breve. Porém, é mais do que necessário salientar que Gotham é o mais sombrio de todos os seriados da DC que estão no ar atualmente e está livre das amarras do “Arrowverse”. Ainda falta muito tempo para vermos Bruce Wayne dentro de um Batmóvel ou Jim Gordon como Comissário, mas até que esse dia chegue espera-se que Gotham continue entregando tudo de melhor que tem a conceder. 

Os novos episódios de Gotham retornam em março.

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