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Pantera Negra - Crítica

Após 10 anos, o Universo Cinematográfico Marvel começa a sair de seu padrão e tudo isso sem modificar tanto a sua fórmula perfeita

Por Luiz Gustavo Ribeiro 


Apresentado nos cinemas em Capitão América: Guerra Civil (2016), Pantera Negra chega às telonas com uma grande responsabilidade. O longa é mais que uma história de herói, é um filme político que também traz questionamentos sobre preconceito e discriminação racial de um jeito único. A história aborda temas sobre representatividade e diversidade cultural, que enaltecem a cultura africana de diversos modos.

Após trazer elementos que representam a cultura afro-americana em Creed: Nascido para Lutar (2015), o diretor Ryan Coogler se junta ao roteirista Joe Robert Cole para inovar nos blockbusters de heróis. A base foi um questionamento pessoal da juventude de Coogler que consistia em entender o significado de ser um africano. A repetitiva “fórmula Marvel”, desta vez, abriu caminhos para a inovação. A estrutura do filme segue um novo viés e o humor é mais contido do que os demais filmes do MCU; ele está presentes nos momentos certos, sem comprometer o tom e o bom andamento da história.


Com maestria, logo no início o roteiro consegue explicar o contexto em que T’Challa (Chadwick Boseman) e o Pantera Negra estão inseridos. Chadwick Boseman se mostra bem confortável em sua atuação, ele transmite sua felicidade e seu orgulho em estar estrelando o Pantera Negra nos cinemas. T’Challa se mostrou um jovem rei seguro de suas decisões e sem medo de enfrentar seus desafios, a famosa “jornada do herói” esteve presente durante todo o filme, mas foi feita com bons acréscimos que fizeram o filme se transformar, como o paralelo entre o protagonista e o principal antagonista do longa. 

Killmonger é o melhor vilão da Marvel dos últimos anos.

Me enterre no oceano com meus antepassados que pularam dos navios, porque eles sabiam que a morte era melhor do que a prisão

Inspirado em histórias marcantes como o Coringa de Heath Ledger e o filme brasileiro Cidade de Deus (2002), Erik Killmonger (Michael B. Jordan) é a redenção da Marvel no quesito vilania. Ryan Coogler conseguiu estabelecer um vilão tão importante para a história quanto o herói. Killmonger e toda sua complexidade foi mais do que um barreira no caminho do herói principal, o vilão carregou uma história densa e paralela a de T’Challa, com uma ideologia bem semelhante ao movimento liderado por Malcolm X nos Estados Unidos durante as décadas de 1950 e 1960. A atuação de Michael B. Jordan foi essencial para que o público comprasse os ideais do vilão. Killmonger foi tão convincente que passou a sensação de confiança, já que ele lutava pela coisa certa, mas da forma errada. Além disso, o vilão cresceu na década de 1990, período marcado por violências policiais aos negros americanos, fator crucial para sua forte personalidade.

O elenco é composto por grandes talentos que mostram seu diferencial. A química entre eles se mostrou essencial para a boa construção do roteiro e do ambiente vivido em Wakanda. Um roteiro da Marvel finalmente acertou em grandes personagens femininos: Nakia (Lupita Nyong’o), com uma personalidade mais emotiva e generosa, e Okoye (Danai Gurira), que é mais rígida e disciplinada, ambas carregam fortes personalidades e são imponentes em suas decisões e atuações. Um dos maiores acertos no roteiro é Shuri (Letitia Wright), a irmã mais nova de T’Challa, ela é o alívio cômico do filme e diferente de outros filmes do Universo Marvel, ela não tenta fazer piada a todo momento mas sempre mantém a sua postura animada. W´Kabi (Daniel Kaluuya) é um personagem que se mostra bem flexível em suas decisões, elas acompanham o entorno que influencia um personagem que não apresenta uma personalidade forte. Everett Ross (Martin Freeman) faz bem sua função, apesar de não fazer nada de muito especial, é uma espécie de Agente Coulson. O outro vilão da história é o Garra Sônica (Andy Serkis), o ator apresenta um personagem irônico, debochado, engraçado e bem ameaçador. 

A computação gráfica é o ponto fraco de Pantera Negra 
Wakanda foi muito bem construída, apesar de ter poucas cenas nas ruas, o filme consegue mostrar os três pilares do país que vive escondido das outras nações do mundo. O primeiro pilar é o Vibranium, metal responsável pela riqueza e pela tecnologia avançada presente em todas as áreas do país, que vão da medicina aos uniformes especiais. O segundo pilar é o enaltecimento da cultura africana em si, o figurino, a maquiagem e os acessórios fazem referência ao estilo colorido de Jack Kirby e forma a identidade do povo wakandiano. A população é justamente o terceiro pilar, as diversidades nas tribos, mostra ao mundo que a África não é um país e lá não é todo mundo igual. 

O filme peca na computação gráfica, essencialmente nas cenas de ação. Os bonecos digitais são feitos de uma forma muito artificial, na maioria das vezes os personagens tiraram as máscaras para que pudessem transmitir as emoções do momento. Em suma, as cenas de ação se mantiveram no padrão Marvel, algumas muito boas como a cena da Coréia e os desafios bem coreografados.

A trilha sonora é um grande acerto da franquia. Comandada por Kendrick Lamar, as músicas se encaixam perfeitamente nos ambientes e dão a mesma sensação que Wakanda, ao misturar músicas mais atuais de caráter tecnológico com sons tribais africanos.

Pantera Negra é um filme ímpar para o gênero. Um roteiro bem feito, uma boa história repleta de dramas importantes que empolgam o espectador e com personagens principais fortes e empoderados. Em síntese, Pantera Negra é um filme político que representa muito bem diversos povos espalhados pelo mundo, enaltecendo a cultura africana e se mostrando importante para a indústria. O filme também se destaca pelos seus fortes diálogos e pode-se ter a certeza: se estão elogiando o filme não é só pelo o que ele representa, mas sim porque ele é muito bom e conseguiu um lugar no seleto grupo de melhores do gênero.

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