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Watchmen: Nada nunca termina

Por Paulo Prado



A HBO divulgou, nessa sexta-feira (17), o teaser da primeira série de heróis da sua programação. Watchmen será baseada na obra homônima de Allan Moore, Dave Gibbons e John Higgins dos anos 80. Entretanto, apesar do que se espera de uma adaptação, a produção não será tão fiel quanto os fãs esperam, contudo, será cânone à obra original. 

Os rumores sobre a produção da série emergiram como um divisor de águas entre os apreciadores da graphic novels. Embora muitos tenham visto de maneira positiva, como uma boa oportunidade para tornar possível um grande marco para o “gênero” de heróis, tanto na TV quanto no cinema, grande parte dos que admiram o romance não dispõem das mesmas expectativas.

Watchmen é um símbolo que marca a ascensão dos graphic novels. A abordagem de temáticas mais adultas, despertando o interesse desse público para as histórias em quadrinhos, conquistou os formadores de opiniões e a grande massa, levando a conquistas dos prêmios Kirby, Eisner e Hugo. Também se encontrando como o único do gênero entre os 100 melhores romances eleitos pela revista Time, assim tornou-se um clássico da cultura pop. 



O carinho dos fãs direcionado à história, conquistado pelo seu sucesso, já é o suficiente para criar movimentos online em oposição ao desenvolvimento da série. Allan Moore, um dos melhores romancistas do mundo, é responsável por grandes sucessos da Dc Comics como A Piada Mortal, Watchmen e V de Vingança. Para o roteirista, é importante que não produzam adaptações de suas obras, pois não seguem suas intenções e nunca são fies ao seu trabalho.

O mercado do entretenimento visa o máximo consumo. Em uma visão de mundo artística é importante para o autor que o espectador, a quem está direcionando a obra, tenha as mesmas experiencias e visão de construção. O lucro é complementar, mas a indústria cultural conduz para o primeiro plano. Os grandes gastos com CGI, olimpianos com salários astronômicos que influenciam e agradam ao público, grandes tiragens de revistas, pinturas reproduzidas em grandes números e a necessidade de ofertar um produto que agrade a grande massa para que se obtenha lucro, resultando em adaptações que pouco agradam seus criadores e o grupo de entusiastas que os seguem. Há uma invasão na linha tênue entre o que é arte e o que não, mas é importante ressaltar que as grandes comics surgiram como um dos primeiros vestígios de uma futura cultura de massa.



Damon Lindelof, showrunner da série, se posiciona como mediador dessa situação. Como apreciador do grupo de heróis, entende que é bastante arriscado mexer em algo que é considerado uma das bíblias da cultura pop, mas que também é necessário agradar o coletivo estrangeiro a este ciclo e os executivos da HBO. Em resposta a insegurança dos fãs, Lindelof expos em uma carta aberta como ele irá tratar do desenvolvimento da série.

"Nossas intenções criativas: não temos desejo algum de 'adaptar' os doze volumes que os senhores Moore e Gibbons criaram há 30 anos. Esses volumes são território sagrado e não serão recontados, recriados, reproduzidos e nem passarão por reboot."

"Eles são, por outro, remixados. Pois as linhas de baixo nessas músicas familiares são boas demais e seríamos tolos de não as utilizarmos como base. Os doze volumes originais são como o nosso Velho Testamento. Quando o Novo Testamento chegou, não apagou o que veio antes. Criação. O Jardim do Éden. Abraão e Isaque. O Dilúvio. Tudo isso aconteceu - e assim será com Watchmen. O Comediante morreu. Dan e Laurie se apaixonaram. Ozymandias salvou o mundo e o Dr. Manhattan o deixou após explodir Rorschach em pedaços no frio gélido da Antártica."

"Para ir direto ao ponto, Watchmen é cânone. Da forma como o sr. Moore escreveu, da forma como o sr. Gibbons desenhou e da forma como o brilhante John Higgins coloriu."

"Mas também não estamos fazendo uma 'continuação'. A história será ambientada no mundo que seus criadores sofridamente construíram... mas na tradição do trabalho que o inspirou, a nova história deve ser original. Tem que vibrar na imprevisibilidade de suas próprias placas tectónicas. Deve fazer novos questionamentos e explorar o mundo com novas perspectivas. Mais importante, deve ser contemporânea. [...] Alguns dos personagens serão desconhecidos, rostos novos e novas máscaras para cobri-los. Nós também pretendemos revisitar o século passado das Aventuras Mascaradas por surpreendentes, mas familiares pares de olhos."

Ainda em reposta a insegurança e as dúvidas em como a série irá abordar a temática narrativa o teaser lançado, sexta-feira (17), no Twitter do canal HBO trás o significativo símbolo da série e a epígrafe: “Nada nunca termina”, em referência a fala do Dr. Manhattan para Ozymandias: “No final, nada termina, Adrian. Nunca termina.”



Damon explica sobre a necessidade da série para os dias de hoje. Watchmen tem um forte apelo político, ao se passar em um tempo entre a Guerra Fria e a Guerra do Vietnam, fazendo duras críticas a soberania, tanto militar quanto política, dos Estados Unidos. A série irá se aproveitar dos abalos políticos ocorrido no país nos últimos anos durante o governo Trump e deve ambientar para perspectivas internacionais. "Watchmen era perigosa. Não se deve ser perigoso sem motivo, mas a razão pela qual estou fazendo isso é que estamos vivendo em tempos perigosos, e precisamos de programas perigosos".

Assim como Logan foi de extrema importância para reaver uma nova perspectiva heroica nos cinemas, é esperado que as influências - mais a credibilidade da HBO em criar ótimas séries - de Watchmen reavaliem, retirem da inércia e iniciem um novo episódio no modo de retratar os heróis na TV. A série tem data de estreia prevista para 2019 e a trama da narrativa, apesar de elenco confirmado, ainda permanece em sigilo.

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