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Dublagem: a arte de dar voz e vida a personagens

Por Germano Freitas e Marcelha Pereira

Dublar significa ter a sua voz na memória afetiva de todas as crianças que assistiram algum dia ao personagem que você está dublando. Significa que muitos jovens têm o seu trabalho como inspiração, assim como também que nem todos vão reconhecer a sua imagem, mas que vão se identificar assim que souberem qual personagem você deu voz.

E foi com o objetivo de conversar sobre o trabalho de dubladores que a décima oitava edição do Sana, em Fortaleza, trouxe os dubladores Alfredo Rollo (Vegeta, em Dragon Ball), Marcelo Campos (Yugi, em Yu-Gi-Oh), Cecília Lemes (Chiquinha, em Chaves) e Gustavo Berriel (Seu Barriga, Nhonho e Jaiminho, em Chaves).

Alfredo Rollo em palestra no palco Art&Fest. Foto: Divulgação/Sana 2018

Alfredo Rollo falou sobre a relevância da dublagem, além de dar acesso a uma cultura externa a nossa, ele lembra que a dublagem também é responsável pela acessibilidade de alguns filmes para as pessoas com deficiência visual. Sobre sua carreira, em resposta a nós, ele comentou sobre como tem uma boa relação com sua dublagem do Vegeta, que começou como um desafio interessante, “era sempre um desafio, episódios que tinham cenas enormes de reação, risadas de 14 ou 15 segundos sem pausa, tempos depois que eu comecei a ir em eventos foi que eu vi a dimensão que tinha tomado esse personagem”. 

Marcelo Campos em palestra no palco Art&Fest. Foto: Divulgação/Sana 2018

Marcelo Campos, em entrevista exclusiva, falou mais sobre sua vida atual, onde faz poucos trabalhos de dublagem para programas de televisão e cinema, já que está mais focado nos trabalhos no ramo da publicidade. Falando da fama, comenta que não é muito reconhecido diretamente, até mesmo pela voz, mas adora ver a reação das pessoas quando percebem os personagens que fez. “Essa é a função, a gente não se impor no personagem, se não todos vão ficar com a minha cara e cada um tem a sua característica”, ele acrescenta.

Sobre a sua participação em eventos como o Sana, Marcelo gosta de ver a reação de pais e filhos ao encontrá-lo, “eu acho muito legal, os pais quando vem, eles vibram igual os filhos… a pessoa voltou no tempo e eu volto também”. Quanto ao seu sentimento, ele fala: “Eu sou muito realizado de ver isso, que eu cumpri bem o trabalho”. Brincando com a própria idade, ele fala como se sente mais confortável, agora ele tem mais liberdade para escolher os trabalhos que faz e não se sente sujeito às situações de pressão do mercado.

Gustavo Berriel e Cecília Lemes em palestra no palco Art&Fest. Foto: Divulgação/Sana 2018

Os dubladores do Chaves, Cecília Lemes e Gustavo Berriel, participaram juntos de uma coletiva de imprensa e falaram como começaram a dublar os personagens do seriado mexicano mais famoso do Brasil. A Cecília começou a dublar a Chiquinha depois que Sandra Mara, a primeira dubladora da personagem, precisou sair do Brasil. Segundo ela, foi uma surpresa ela ter sido escolhida, já que ela dublava a Paty anteriormente. 

Gustavo começou a dublar seus personagens Seu Barriga, Nhonho e Jaiminho devido o falecimento do dublador Mário Vilela em 2005. Ele mencionou que era presidente de um fã-clube de Chaves na época em que foi convidado por causa da semelhança de voz com o primeiro dublador dos personagens e, segundo ele, foi uma honra trabalhar com os dubladores que eram e ainda são uma inspiração para seu trabalho. 

“Eu tenho que dizer que a criação desse sucesso todo que a gente acompanha e adora partiu dela porque eu também cresci assistindo chaves, sou fã e sempre fui fã. [...] Hoje estou aqui ao lado dela como fã e a fonte de inspiração que ela foi pra mim, vocês não têm ideia, porque foi a partir daí que eu tive uma vontade de querer ir atrás dessa carreira”, comenta Gustavo.

Quando perguntada sobre o que o Chaves significa para ela hoje em dia, Cecília responde: “O que eu levo, o que eu tenho em mim de fazer parte disso tudo é o reconhecimento com esse carinho todo que a gente recebe dos fãs. Eles choram, a primeira vez que eu vi uma pessoa chorando na minha frente eu não entendia, hoje eu choro porque é muita emoção”. 

Na palestra que fizeram no Palco Art&Fest, os dois falaram o quão importante é ter a liberdade criativa para criar nomes e gírias, junto com o diretor, que encaixem nas personalidades dos personagens e para que eles se aproximem do público. E essa é uma das principais lições que se pode tomar do trabalho do dublador: mais do que simplesmente atuar, o trabalho dele é dar vida. É através da voz que ele demonstra se o personagem está triste, feliz, cansado, sonolento, se é calmo, agitado, tímido ou irritado. Sem o trabalho árduo da dublagem bem feita, muitas vozes da nossa infância não seriam tão marcantes. “Pois é, pois é, pois é!”.

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