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As Telefonistas - 3ª temporada - Crítica

Em seu original “Las chicas del cable”, as personagens principais se tornam mais interessantes, mas ficam limitadas pelo excesso de drama

Por Maria Clara Pimentel

Regada com muito drama, um clima obscuro e personagens mais fortes, a terceira temporada da primeira série espanhola a ser transmitida pela Netflix traz uma certa reconfiguração no seu tema principal. Durante os oito episódios lançados no dia 7 de setembro, tudo se movimenta, prioritariamente, ao redor de um desaparecimento misterioso. É claro que a pegada feminista ainda permeia a série, embora com menor intensidade. A nova organização que as telefonistas fundam - denominada As Violetas - atua com certa força ao longo do enredo, mas é escanteada a segundo plano no contexto geral da temporada. 


Seis meses se passam desde o último episódio da segunda parte - no qual Lidia (Blanca Suárez) cai da borda da fachada de um hospital e tem de ser socorrida imediatamente - mas fica evidente o quanto os personagens, no geral, crescem para a nova jornada. Há o aprofundamento de alguns protagonistas, de modo a os revelarem interessantes como nunca os havíamos notado, além de a produção ter incluído algumas personalidades novas e resgatado outras que pensávamos que não fossem voltar.

As telefonistas continuam como Lidia, Ángeles (Maggie Civantos), Carlota (Ana Fernández), Marga (Nadia de Santiago) e Sara (Ana Polvorosa), que estão mais resistentes frente aos problemas que aparecem. Conforme, inclusive, relata Blanca a uma de suas entrevistas acerca das chicas: “Desta vez elas não vão se deixar levar”. Descobertas sexuais, lutas para dar voz às mulheres na Espanha e até se meter com um criminoso altamente perigoso são algumas das problemáticas que elas se envolvem e que comprovam o quote com sucesso.

A fotografia belíssima segue sendo o ponto forte da série. É sempre equilibrada, bonita, sóbria e em tons escuros para realçar uma certa obscuridade. Serve bem para corroborar o drama presente no enredo e o caráter sombrio de certos personagens, seja por meros momentos de descompensação ou por sua real essência. Isso resulta diretamente na diminuição dos momentos de humor da série. E o que, associado ao encolhimento dos momentos românticos entre os personagens, revela o seu tom mais adulto.

Além disso, o ritmo acelerado e impulsivo traz novos obstáculos à trama na mesma velocidade que dá um ponto final a cada um deles. Isso dá a entender a simplicidade da estória e a pouca produção com que é feita. Apesar de não resultar em um ponto crítico, por não interferir na essência da série, dá a sensação de não trazer nada novo, e, por isso, não cativa tanto. A notória perda do humor, como já foi dito, só corrobora esta conclusão. O foco no drama-após-drama impossibilita toda e qualquer tentativa de dar espaço a um tom leve.

O que mais pecou nesta nova temporada de As Telefonistas foi o roteiro. O guia responsável por conduzir todo o enredo passou a sensação de ser nada mais que restrito, limitado e incapaz de aprofundar alguns desenrolares da estória - como é comprovado com a descoberta dos desfechos aos pequenos “complicares” de modo muito rápido. A produção não conseguiria dar conta? Esta é a sensação que nos passa. A maneira como driblaram o final da segunda temporada, pulando um semestre do acontecimento trágico a que Dona Carmen submeteu sua não-mais-nora, tudo para evitar ter que lidar com as consequências problemáticas desse rumo, já saturado, é um bom exemplo de tais desvios.

Outro fator que causou incômodo é o fato de a série não seguir fielmente a realidade da época. Diálogos com tom demasiado revolucionário e feminista certamente não retratam conversas adequadas para uma Madri em transição à década de 30. Datas e fatos históricos também não batem, assim como alguns feitos difíceis de acreditar que aconteceriam em tal período. O rei ser diabético - apenas para ajudar no desenrolar do enredo -, a modernização tão rápida dos meios de comunicação e a herança repentina caída ao colo de uma das personagens principais representam a distorção dos fatos para criar, convenientemente, o ambiente ficcional perfeito.

Por fim, é certo que a série é muito boa, no contexto geral, mas sua 3ª temporada deixou muito a desejar. Isso porque não cumpriu direito com nenhuma das suas duas principais preocupações: apresentar os movimentos libertários, feministas e contra os padrões machistas e opressores como peça-chave - o que, ao menos, é dado mais enfoque nas outras duas temporadas - e representar fielmente a realidade da época. O drama foi utilizado de maneira exacerbada no enredo e acabou dificultando um pouco o fervor por assisti-lo. Contudo, aos que se apaixonaram pela série em seus primórdios, esta última temporada não foi capaz de estragar o fascínio por ela. Até porque todos temos nossos maus momentos.

Desenvolvida pela Bambú Producciones, a Netflix já confirmou sua quarta temporada (amém, com aquele final!) e mal podemos esperar por 2019. Melhores momentos estarão por vir?

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