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“Mulheres negras podem fazer qualquer coisa, é só querer”

POR GABRIELLE BORGES
Octavia Spencer como Madam C.J. Walker, primeira mulher negra a se tornar milionária nos EUA (Foto: Reprodução/Netflix)

Kasi Lemnons, diretora de Harriet (2019), traz novamente para público a história de uma mulher negra e forte. A Vida e a História de Madam C.J. Walker, minissérie da Netflix dirigida por ela, é mais uma história inspiradora.

Depois da Guerra Civil Americana, na qual os negros lutaram e conquistaram sua liberdade, a vida para essa parte da população continuou difícil - e ainda hoje é; a luta pelo reconhecimento e aceitação social motivam diversas discussões na sociedade. Em meio a esse fato, a minissérie apresenta ao público uma história pouco conhecida, mas importante para os dias atuais: Madam C.J. Walker (1867-1919).

Octavia Spencer, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme Histórias Cruzadas (2011), mostrou o porquê é uma das melhores atrizes da atualidade; com uma atuação impecável, ela construiu, ao longo dos capítulos, uma personagem forte.

Filha de escravos, Sarah Breedlove, nome de batismo de Madam Walker, foi criada em uma plantação de algodão e desde cedo percebeu que a vida não seria fácil. Teve sua liberdade conquistada ainda na juventude, contudo, o direito de ser livre, conquistado sob muitos corpos ensanguentados, não foi o suficiente para que os negros, recém-libertos, conquistassem o respeito da sociedade branca.

Livre, Sarah viu que sua nova vida não seria diferente da qual tinha enquanto escrava, pois trabalhava como lavadeira em troca de alguns trocados para se sustentar. Por ser mulher e, principalmente, negra, teve que encarar e sentir na pele o preconceito, comum às mulheres daquela época e que perdura até hoje. As dificuldades de Sarah pareciam não ter fim: sofreu com um casamento abusivo, no qual não havia nenhum tipo de amor e respeito, e era constantemente agredida e humilhada enquanto trabalhava para sustentar a casa.

Em meio a todo esse sofrimento, seu cabelo começou a cair. Certo dia, por sorte ou coisa do destino, a vendedora de produtos de cabelo, Addie Monroe (Carmen Ejogo) bateu à sua porta. A partir daí, o que seria a história de uma mulher negra que viveu e morreu sem ter conquistado muita coisa, mudaria. Em troca do tratamento para seus cabelos, Sarah passou a lavar as roupas de Addie, mas ela almejava mais do que isso. Um desentendimento entre as duas mudou o rumo da então lavandeira.

Enquanto buscava produzir seu próprio produto para cabelos, Sarah pôde contar com o apoio do seu novo esposo, Charles James Walker (Blair Underwood), que, além calmo e paciente, a apoiava em seus planos, e também o da sua filha A’Lelia (Tiffany Haddish), cujo desejo da mãe era que ingressasse em uma faculdade, mas acabou se casando, para sua insatisfação. Com o sucesso dos produtos, Sarah resolveu que era hora de ampliar os negócios. Saiu de St. Louis, onde morava, e se mudou com a sua família para Indianápolis.

Agora, conhecida como Madam C.J. Walker, a empreendedora queria muito mais: abrir uma fábrica para produzir seus produtos para cabelos de mulheres negras. Encontrou forças para encarar e enfrentar as dificuldades, como uma tentativa de estupro; venceu seus obstáculos e traições, vindas até mesmo de sua própria família; e tornou-se a primeira mulher negra milionária dos EUA.

A minissérie é um retrato de empoderamento feminino, sobretudo se passando em uma época em que as mulheres eram submissas aos homens. Com seis episódios de pouco mais de 45 minutos, a produção peca por não abordar a vida da protagonista de maneira aprofundada, o que também acontece com outros personagens que mereciam mais destaque, por exemplo, A’Lelia, que vive um romance homoafetivo, Cleophus (Garrett Morris), sogro da Madam, e Ransom (Kevin Carroll), seu fiel advogado.

Quebrando tabus, a minissérie traz para o público um elenco majoritariamente composto por negros. Não é uma simples produção, pois ela agrega discussões, como violência contra mulher, preconceitos, casamento e, principalmente, a mulher no mercado empresarial. Como um exemplo de superação, A Vida e a História da Madam C.J. Walker merece ser assistida, pois nos leva a entender mais sobre a nossa história e sobre nossa sociedade.    

   

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