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7 Motivos que fazem de 2019 o ano perfeito para maratonar Merlí

O enredo, que tinha tudo para ser mais um clichê de colegial, surpreende quebrando tabus e questionando os métodos tradicionais de ensino

POR FRANCISCA PIRES


Exibida no Brasil pela Netflix, a série catalã Merlí conta a história de um professor de filosofia nada tradicional, que, com sua forma de ensinar, causa rebuliço em uma pequena escola pública. Aqui vão sete fatos que provam o quanto a trama aborda de maneira concisa temas que precisam vir à tona, principalmente no contexto social que o mundo enfrenta hoje:

1. O professor Merlí defende o estudo das ciências humanas e suas aulas são voltadas a trabalhar o senso crítico de seus alunos. Enquanto que muitos professores, na ficção e na vida real, se preocupam apenas com o cronograma escolar e em transformar seus alunos em robôs decoradores de respostas, é muito importante que existam profissionais dispostos a incentivar os jovens a pensar por si próprios e a enxergar a sociedade como um todo e não apenas sob a perspectiva de sua realidade.


2. A série propõe uma discussão de sexualidade em boa parte dos seus episódios. São retratados aspectos não só da homossexualidade como também da bissexualidade e, além disso, são exploradas questões envolvendo preconceito e todo o processo que muitos adolescentes enfrentam para entender e reconhecer sua sexualidade. Tudo sempre abordado de maneira natural, leve e bem-humorada.


3. Ainda nesse sentido de trazer à tona questões que precisam ser discutidas, os episódios buscam romper tabus que ainda persistem, mesmo nos dias atuais. Por exemplo, fala-se muito sobre sexo, relacionamento aberto e masturbação, temas que ainda causam constrangimento em boa parte das pessoas. É perceptível que, ao mostrar aspectos tão íntimos da vida de cada personagem, a mensagem que a série deseja a todo momento passar é a da liberdade de escolha. Os personagens são, ou buscam ser, donos de seus corpos, de suas vontades e de suas vidas.


4. A história apresenta brilhantemente um paralelo entre questões do feminismo e da masculinidade tóxica. Ao mesmo tempo em que as adolescentes da série entendem que são livres para fazer o que desejam, os rapazes precisam lidar com essa nova forma com que elas estão se posicionando e se apresentando perante a sociedade. Eles começam a entender que as mulheres não são uma extensão de seus egos e que eles precisam aprender a conviver com essa liberdade de forma respeitosa.


5. No desenrolar do enredo são apresentados quadros de relacionamentos abusivos. Alguns dos sintomas explorados para evidenciar esse tipo de relação maléfica são o ciúme excessivo e a dificuldade de respeitar o espaço do outro. No entanto, não só relacionamentos amorosos são explorados na série. Relações familiares em que pais oprimem e controlam abusivamente seus filhos ou exploram sua força de trabalho e lhes fazem pressão psicológica também ilustram os danos causados a jovens que passam por esse tipo de situação.


6. A série fala sobre gravidez na adolescência e apresenta a maternidade de maneira real e não romântica, expondo todos os desafios e conflitos internos vividos por futuras mães. Enquanto continua sendo vendida pelos meios de comunicação a ideia de maternidade perfeita, no decorrer dos episódios são apresentados conflitos reais e comuns da relação entre mães e filhos,que provam que não é nem um pouco fácil e tranquila a tarefa de criar, muitas vezes sem ajuda, crianças e adolescentes.


7. Por último, mas não menos relevante, Merlí dedica um episódio inteiro para tratar de um assunto ainda muito polêmico: dominação religiosa. A fé torna-se tema de uma das aulas e a turma é questionada pelo professor, que incita um debate sobre a existência, ou não, de Deus. As cenas, ao mesmo tempo que relatam as tragédias que já foram feitas pelo homem em nome da fé, buscam pregar o respeito a todos os tipos de dogmas existentes e principalmente à liberdade de crer ou não em algum deles.

Outros temas como política, educação pública, uso de drogas, síndrome do pânico e suicídio são explorados ao longo dos quarenta episódios que foram divididos em três incríveis temporadas. A série mistura drama e humor na medida certa para explorar com leveza até mesmo os assuntos mais sérios. Merlí é um daqueles programas que você assiste com uma mão na pipoca e a outra na consciência. E você? O que está esperando para se tornar um peripatético*?

*Peripatéticos: denominação criada pelo professor Merlí para batizar seus alunos. O termo faz referência a um círculo filosófico da Grécia Antiga que seguia os ensinamentos de Aristóteles.

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