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Boy Erased: o trauma da terapia de reversão sexual pelos olhos de Garrard Conley

O livro retrata memórias do jovem e chama atenção para o tema ainda pouco debatido

POR ANA FLÁVIA SANÇÃO

Boy Erased: uma verdade anulada (Foto: Divulgação)
"Fui para a terapia achando que minha sexualidade não importava, mas percebi que cada parte de minha personalidade estava intimamente ligada. Cortar um pedaço danificava o resto”. Esse é um dos muitos desabafos de Garrard Conley no livro Boy Erased: uma verdade anulada. Best-seller lançado em 2016, logo tornou-se um sucesso de vendas e de representatividade, dando origem a um podcast e a um filme, dirigido por Joel Edgerton.

Dentro das 315 páginas, Garrard narra os dias que passou numa instituição de reversão sexual, na qual foi matriculado pelos pais após descobrirem sobre sua sexualidade. A narrativa se mescla com as lembranças do jovem de 19 anos - as primeiras experiências homossexuais, a culpa por pertencer a uma família evangélica ortodoxa e o trauma que expôs, contra sua vontade, a sua real personalidade aos pais.


Garrard escreve de forma um pouco monótona no início do livro. E, por ser fruto de memórias, não de diários da época, muito de sua linguagem se torna floreado excessivamente. Apesar de o próprio escritor fazer o alerta sobre essa questão em uma pequena nota logo no início, alguns exageros de comparação e descrição deixam a leitura cansativa em certos momentos. Leva-se em consideração de que se trata de uma não-ficção e que pessoas, mesmo nos dias mais introspectivos, dificilmente comparam potes de ketchup a pedras de rubi, como ele faz em determinado momento da história.

Pensar que Deus e as pessoas que o cercavam reconheceriam seu valor imediatamente se você fosse visto como algo danificado e admitisse isso.


Do meio para o final a história acelera, ganhando um fluxo de acontecimentos, alguns que não esperamos inicialmente devido à personalidade que Garrard deixa transparecer. Dá para sentir a frustração, dor e raiva que crescem gradualmente, até a explosão final. Os dois últimos capítulos do livro são intensos, e o último nos faz ter a sensação de suspirar de alívio junto a ele.


Com tantos debates relevantes sobre a liberdade sexual e os direitos LGBTI+, Boy Erased é apoio na forma de livro àqueles muitos que passaram por situações similares. Acima de tudo, traz à tona o tema ainda tabu, mesmo dentro da própria comunidade: a terapia de reversão sexual que, na maioria das vezes carregada de preceitos religiosos, fere centenas de LGBTI+ física e psicologicamente todos os anos.

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