Slender Man: Pesadelo Sem Rosto – Crítica
Por Paulo Prado
A internet, com suas inúmeras comunidades
virtuais, proporcionou o encontro entre a diversidade cultural dos fandoms e o mercado do entretenimento.
Essa participação tem influência direta sobre as grandes produções
cinematográficas, pois, claro, estamos falando em um meio simples e barato para
se entender um público específico e que possibilita a elaboração de
planejamentos assertivos e eficazes.
A recorrente formação de
conhecimento na rede mundial de computadores coloca os espectadores não apenas
como consumidores, mas também como produtores de conteúdo. Slender Man surge, nesse contexto de interação do
usuário com os meios de comunicação, para se transfigurar na narrativa de
terror mais compartilhada do mundo virtual e agora adaptada para os cinemas.
Sob a direção de Sylvain White, Slender Man: Pesadelo Sem Rosto nos conta a história de quatro
amigas - Wren, Hallie, Chloe e Katie - que decidem invocar o ser místico através
de um vídeo na internet. Apesar de inofensiva, a brincadeira se transforma em
um grande perigo. Pesadelos, alucinações e o repentino desaparecimento de
Katie, exige que as garotas enfrentem as consequências dos seus atos perante a
criatura.
O Homem Esguio surgiu em 2009
quando Eric Knudsen, inspirado nas
histórias de Stephen King e H. P. Lovecraft, criou para o fórum de
discussão Something Awful as
primeiras imagens da entidade. Com duas fotografias, em preto e branco, Knudsen
representou junto a um grupo de crianças a figura de um homem anormalmente
alto, magro, vestido em terno e sem rosto intitulando-as como “The Slender Man”. Após a publicação,
diversas comunidades de creepypastas se
encarregaram de criar uma narrativa para o ser sobrenatural e de remodelar a
sua forma.
Baseando-se no conto criado pela
internet, David Birke tem a missão
de consumar a clipagem de todas as histórias relacionadas a ele e assim criar
um roteiro impreciso e com pouco grau de ousadia. Anda em círculos ao
permanecer obcecado na necessidade de passar ao público a simples mensagem dos perigos
de comunidades digitais, esquece do desenvolvimento fundamental da trama e cai
no clichê de argumentar com terror desnecessariamente dependente da presença
tecnológica.
Embora Slender Man tenha emergido
em grupos de interação social online, seu relato não se constrói a partir da
necessidade do advento da internet. Sua estrutura está ligada as clássicas
histórias de horror, com entidades nascendo a partir de relativas aparições em fotografias
e cultos de invocação. A base ideal para um filme de época é não se fazer tão
evidente o atraso de anos que a lenda teve para chegar aos cinemas. No entanto,
a necessidade de representar uma cultura jovem pouco regrada como crítica
social persistiu.
Em 2014, na cidade norte
americana de Waukesha, duas adolescentes de 12 anos esfaquearam 19 vezes uma
garota, de mesma idade, em culto ao Slender Man. Em razão disto, pressões
sociais para que Slender Man: Pesadelo Sem Rosto não chegasse aos cinemas
tomaram força e levou a Sony e a Screen Gems a recortarem o filme, retirando
cenas consideradas fortes e sensíveis, constituindo um impacto negativo na sua
composição.
Ainda que o longa faça bom uso do
jump scare, o grande fascínio estaria
no uso do terror psicológico, mas falha gravemente. A perturbação de não saber
quando vai dar de cara com entidade é o que conquista o público e os leva a
sempre saber um pouco mais sobre ele. O jogo Slender: The Eight Pages usa e abusa – perfeitamente, vale
ressaltar - deste artificio. O jogador se vê obrigado a constantemente pausar o
game para respirar e acalmar-se. Contudo, o filme nos entrega Slender Man muito
mais do que o necessário, encobrindo rasgos feitos pelo recorte, perfazendo momentos de indiferença com a sua
presença.
O resultado desse contorno pesa
também sobre os personagens, com uma pequena ajuda da carência de estrutura do
roteiro. Os arcos que envolvem os atores Jaz
Sinclair (Chloe) e Alex Fitzalan (Tom) foram quase que completamente apagados do filme, deixando
explicito a falta de coerência dramática e admitindo os vários problemas que
afetaram o seu andamento.
Articulando a todos esses
problemas, a imaginação de como os personagens estão predispostos no universo
falha. Os pequenos detalhes que conduzem o ator a dar origem a características
humanas não se fazem presentes, estabelecendo um caminho em torno da simplória
ideia de retratar “jovens que têm contato com novas tecnologias”. Instituindo o
maior erro do roteiro de Birke, pois conceituar adolescentes não pode se achar
tão simples e automatizado.
Pesadelo Sem Rosto não é o único filme a falhar em oferecer
personagens destituídos de personalidades. Oito
Mulheres e 1 segredo cai nesta mesma armadilha, entretanto o filme consegue
ter um bom caminhar e se sustentar na bilheteria graças à atuação e fama das
atrizes Sandra Bullock, Anne Hathaway, Sarah Paulson, Cate
Blanchett, Helena Bonham, Rihanna, Mindy Kaling e Awkwafina.
Joey King (Wren) e a
brasileira Julia Goldani (Hallie)
são os grandes nomes do drama de terror. Apesar da recente ascensão de Joey nos
cinemas interpretando bons papéis – Invocação
do Mal e Barraca do Beijo – e o
ótimo trabalho, das duas atrizes, em entender o máximo de um papel medíocre,
não foi o suficiente para salvar o filme.
A fotografia, assim como a
atuação do elenco, está entre as poucas coisas boas que conseguem fazer com que
o terror não desande por completo. Luca
Del Puppo cria cada cena de forma única, sutileza que agarra a atenção do
espectador e o transporta para dentro do longa. Já em contrapartida, o CGI deixa a desejar e se desconfigura do
pouco de realidade passada no roteiro.
O
importuno acaso fez com que Slender Man:
Pesadelo Sem Rosto tomasse um caminho divergente ao que a ele foi designado
desde seu princípio. Mas, é independente da casualidade, não é de se esperar
que existisse um tanto a mais. A imperfeição vai além de forças externas, surge
na falta de criatividade, inovação e planejamento, levando à decadência o que
poderia ser um dos melhores filmes de terror de 2018.
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