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Darling in the Franxx: nem tudo o que reluz é ouro

Com referências botânicas, pequenas simbologias e tecnologia avançada, o anime faz um grande elogio à juventude 


*Por Mariana Batista

Pôster de divulgação de Darling in the Franxx (Foto: Divulgação)

Compartilhando algumas semelhanças com o Círculo de Fogo e o ilustre Evangelion, Darling in the Franxx – também estilizado como DarliFra – foi um dos animes estreantes de janeiro de 2018. A produção original de ficção científica é fruto da colaboração entre os estúdios TRIGGER (Little Witch Academia) e A-1 Pictures (Swort Art Online).

No universo pós-apocalíptico da narrativa, a humanidade, conduzida por uma misteriosa organização científica chamada APE, revolucionou a indústria de mineração e energia ao iniciar uma série de escavações mais profundas, com o intuito de extrair energia magma do subterrâneo. A revolução, no entanto, degradou o solo terrestre e deixou a civilização à mercê de monstros pré-históricos chamados Urrossauros. Beirando a aniquilação, a sociedade remanescente, ainda coordenada pela APE, abandona a superfície e refugia-se em fortalezas móveis, os latifúndios

Cada latifúndio possuiu um esquadrão de defesa formado por grupos de pilotos adolescentes e gigantescos robôs humanoides chamados Franxx. Devido à sua estruturação, o funcionamento dessas máquinas depende exclusivamente da conexão mental entre um menino e uma menina e, por isso, tais adolescentes organizam-se em casais cognitivamente compatíveis. Eles têm como nomes próprios apenas um código numérico formado por três dígitos e são chamados de parasitas. Mesmo que protejam o lugar onde vivem e sejam condecorados por isso, percebe-se que a vida destes jovens só é digna de importância se estiver a bordo daqueles robôs humanoides. 

Integrantes do Esquadrão 13 (Foto: Divulgação)

Diante disso, há o esquadrão 13 e suas interessantes relações interpessoais. O pequeno grupo é o único que, além de possuir Franxx de diferentes modelos, também possui nomes próprios. Zorome, Futoshi, Mitsuru, Goro, Miku, Kokoro, Ikuno e Ichigo têm personalidades distintas e levemente contrastantes que vão se complementando e se desenvolvendo juntas no decorrer da história. Suas respectivas tramas, que oscilam entre acontecimentos do passado e suas influências no presente, são bem explicadas e distribuídas ao longo do anime, criando histórias paralelas bastante envolventes e com enfoque em discussões a respeito de temas como a sexualidade e a autoaceitação. 

A trama principal é guiada por Hiro e Zero Two, ambos, posteriormente, alocados ao esquadrão 13. O garoto, outrora um exímio parasita, não conseguiu se conectar com sua parceira e falhou vergonhosamente em seus testes finais de aptidão. Desde então, ele vem lidando com um complexo de inferioridade no qual sente que não é capaz de realizar coisa alguma pelo fato de não ter conseguido pilotar um Franxx. Zero Two também tem problemas para pilotar as máquinas gigantescas, no entanto, os seus são ligeiramente mais alarmantes. Por ser meio-urrossauro, sua habilidade em combate é mais elevada que o normal, e seus parceiros não conseguem manter a conexão mental entre eles durante as batalhas. Em geral, morrem depois da terceira. 

No entanto, durante uma batalha inesperada, o casal percebe que é cognitivamente compatível entre si e somente entre si, de modo que não conseguem pilotar um Franxx ao se conectar mentalmente com outros parasitas. Diante disso, Hiro vê em Zero Two uma oportunidade de ser minimamente útil para sociedade que está destinado a proteger. E a garota, por sua vez, parece encontrar um parceiro fixo que atenda aos seus caprichos. Apesar de inicialmente a relação entre eles ter como base apenas seus próprios anseios, ao longo do enredo, percebe-se um processo de desconstrução de ideias nos dois personagens. A partir desse ponto, o anime apresenta uma história muito bem planejada para o casal, se empenhando em desenvolver até mesmo pequenos detalhes que podem passar despercebidos para o público. 

Hiro, à esquerda, e Zero Two, à direita (Foto: Divulgação)

Há acertos no desenvolvimento dos personagens e no uso de simbologias – que vão desde os nomes dos personagens até a posição em que ficam para pilotar os robôs gigantes. Assim como também na construção de uma realidade pós-apocalíptica recheada de referências botânicas cuja fotografia e trilha sonora acompanham de forma satisfatória, alinhadas às piadas de duplo sentido. No entanto, nem tudo que reluz é ouro e DarliFra errou feio ao chegar ao final. Perto de seus últimos minutos, o anime modifica seu enredo original adicionando acontecimentos e abordando questões que poderiam ser melhor trabalhadas sem tanta pompa e densidade em uma provável segunda temporada. Ou, simplesmente, não terem aparecido.

Ainda assim, apesar do final levemente patético, DarliFra é um bom anime. Com toda sua tecnologia avançada e simbologia simples, a animação nos presenteia um pequeno conjunto de reflexões a respeito das relações juvenis e seus respectivos problemas. Da graciosidade do primeiro amor ao tormento que são os problemas de aceitação, a animação é um grande elogio à juventude. 

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