A imagem do Brasil no Cinema e na TV estrangeiros
Entre estereótipos e clichês, essa lista traz algumas produções estrangeiras que têm o país como cenário para suas histórias
POR CAMILA PINTORecentemente a confirmação de que o terceiro filme da franquia Animais Fantásticos, com roteiro de J. K. Rowling e direção de David Yates, será ambientado no Brasil movimentou as redes sociais e a comunidade cinéfila. Muito tem se especulado sobre as gravações serem feitas ou não no Rio de Janeiro, possíveis artistas que poderiam participar do filme (houve até petição para que Fernanda Montenegro interpretasse o suposto papel de Ministra da Magia) e também sobre como o país será mostrado no longa.
Porém, não é de hoje que o Brasil aparece como cenário de produções estrangeiras, seja no cinema ou na TV. No final da década de 1970, James Bond protagonizou uma luta no bondinho do Pão de Açúcar no filme 007 Contra o Foguete da Morte. Já em 1997, o filme Anaconda mostrava os ataques de uma perigosa e gigante cobra que habitava a Amazônia. Além de vários outros filmes hollywoodianos ou não. O fato é que, aos olhos de diretores e produtores estrangeiros, o Brasil costuma ser o destino perfeito para os mais variados (e clichês) propósitos. Alguns desses filmes e animações são exemplos interessantes de qual a imagem se tem lá fora do Brasil e serão mostrados a seguir.
A cidade do Rio de Janeiro já serviu de palco para muitas produções cinematográficas (Foto: Divulgação) |
Saga Crepúsculo: Amanhecer parte 1 (2011)
O penúltimo filme de uma das franquias mais famosas da última década e que adaptou os livros de Stephanie Meyer encontrou no Rio de Janeiro, o cenário perfeito para a romântica lua de mel de Edward (Robert Pattinson) e Bella (Kristen Stewart). Com cenas gravadas na Lapa, Paraty e Angra dos Reis, a primeira parte de Amanhecer explorou a imagem romântica e acolhedora da cidade carioca.Elemento quase obrigatório em qualquer reprodução que se passe no Brasil, o casal de protagonistas já chegou na cidade sendo recebido pelas rodas de samba nos Arcos da Lapa, antes de seguirem para a pequena ilha (que na trama se tratava de uma propriedade particular dos Cullens, pais do noivo) onde tiveram sua tão esperada noite de amor numa cachoeira à luz do luar.
Em entrevista ao portal 247, o diretor Bill Cordon comentou sobre a escolha do país "famoso por sua espontaneidade", não ser por acaso, visto que o filme trazia uma ideia mais família que combinava com o clima da cidade e o estilo do diretor.
Atores Robert Pattinson e Kristen Stewart durante gravações na Lapa (Foto: AgNews) |
Velozes e Furiosos – Operação Rio (2011)
Provavelmente um dos longas ambientados no Brasil mais famoso de Hollywood, o quinto filme da franquia Velozes e Furiosos, dirigido por Justin Lin, é um bom exemplo da falta de preocupação em se retratar fielmente a cultura e o país onde se passa. Tendo em vista que a trama se passa quase completamente no Rio de Janeiro, mas teve uns 90% da gravação rodada em Porto Rico, aos olhos do brasileiro, é difícil reconhecer o próprio país em cenas como, por exemplo, a perseguição de um trem em meio a uma paisagem desértica e montanhosa.As poucas cenas que lembram o país, são as que mostram as favelas do Rio de Janeiro e as praias, estas últimas não tendo sido gravadas aqui. Outro aspecto do longa pertinente a representação do Brasil é a questão da criminalidade. Se tratando desta franquia, seria até ilógico não ter esse elemento na trama, mas não deixa de ser um estereótipo. Tanto que a famosa cena em que Dominic Toretto (Vin Diesel) afugenta policiais com um grupo de traficantes fortemente armados ao dizer a célebre frase "This is Brazil" é uma das lembranças mais fortes de todo o filme. Pelo menos para o público brasileiro.
Cena do filme Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio, em que o personagem de Vin Diesel diz a frase "Aqui é o Brasil" para o personagem de Dwayne Johnson (Foto: Divulgação) |
Turistas (2006)
Com direção de John Stockwell, esse é o filme mais polêmico desta lista. Conta a história de um grupo de jovens turistas americanos que vêm ao Brasil curtir férias dos sonhos na cidade do Rio de Janeiro e acabam caindo nas garras de uma quadrilha de tráfico de órgãos chefiada por um médico psicopata. Esse seria apenas um terror como tantos outros se não fosse a repercussão negativa e as duras críticas que recebeu por uma expressiva parte dos brasileiros. Órgãos como a EMBRATUR (Instituto Brasileiro de turismo) e o Ministério do Turismo chegaram a se pronunciar sobre o filme e acompanhar possíveis repercussões negativas à imagem do país lá fora, principalmente entre os turistas.Entre os principais tópicos que inflaram a polêmica em torno do longa, está a divulgação do filme, que além de utilizar trailers apelativos que enfatizavam a imagem de um país sem regras (vide o slogan "Num país onde vale tudo, qualquer coisa pode acontecer"), ainda se valeu da criação de um site sem vínculo com a produção, onde flashes de uma praia eram exibidos e vez ou outra apresentavam corpos de vítimas de assassinato.
Somado a isso, também foi mencionado na época que a própria produção havia escondido dos atores brasileiros que participaram do filme o roteiro completo onde ficava clara a ideia central da trama. Em meio a tantas críticas negativas (não exclusivas a retratação do Brasil, mas também referentes à qualidade técnica) e campanhas de boicote, o filme acabou sendo um fracasso nas bilheterias e sendo esquecido entre tantos outros.
A atriz australiana Melissa George e o ator brasileiro Agles Steib em cena do filme Turistas (Foto: Divulgação) |
Rio (2011)
Diferentemente dos demais filmes presentes nesta lista, a animação Rio, apesar de ser uma produção hollywoodiana, foi comandada pelo brasileiro Carlos Saldanha, conhecido pelo seu trabalho em A Era do Gelo 2 (2006) e A Era do Gelo 3 (2009). O filme conta a história da ararinha azul macho Blu, que apesar de ter nascido no Brasil, foi logo capturado e levado para os Estados Unidos, onde foi domesticado e criado por Linda (Leslie Mann) e depois trazido de volta para o Brasil para acasalar com Jade, a última fêmea da espécie.Apesar de ressaltar vários aspectos da cultura local e dar um gostinho brasileiro próprio ao filme ao trazer uma trilha sonora repleta de muito samba, Rio dividiu as críticas quanto a forma que o diretor representou o próprio país na tela. De um lado, alguns críticos elogiavam não apenas a qualidade da produção, como também a trilha sonora, que teve a participação do brasileiro Carlinhos Brown na composição das músicas, e os vários elementos da cultura carioca e da ecologia brasileira.
Do outro, no entanto, houve quem não gostou muito da imagem um tanto estereotipada que teria restringido o Rio a samba, carnaval e futebol. Estes alegavam que o diretor, como brasileiro, podia não ter se rendido a imagem já amplamente divulgada e estereotipada do Brasil no cinema estrangeiro. Ainda assim, Rio foi um sucesso nacional e internacional naquele ano, rendendo a maior bilheteria no Brasil e arrecadando 484,6 milhões de dólares no total, além de uma continuação lançada em 2014.
Ararinha azul Blu em imagem de divulgação do filme Rio (Foto: Divulgação) |
Simpsons (2002 e 2014)
Saindo um pouco do cinema e explorando as produções televisivas, nada melhor que trazer uma das séries animadas mais populares e polêmicas da TV americana. Criada por Matt Groening a série conta com 31 temporadas e 631 episódios, entre os quais, dois se passam no Brasil. No polêmico Blame it on Lisa (2002), a família desembarca no Rio de Janeiro e encontra uma cidade suja, onde macacos atacam meninos órfãos, a violência predomina e os policiais são todos preguiçosos e assediadores.A imagem do país retratada no episódio foi tão mal vista, que na época, órgãos do governo carioca ameaçaram processar a FOX. O produtor James Brooks chegou a pedir desculpas quando soube da ameaça de processo. Em 2014, O Brasil foi novamente cenário de um episódio, dessa vez trazendo outro elemento brasileiro tipicamente difundido internacionalmente: o futebol. Nele, a família volta ao país e Homer acaba sendo escolhido para apitar uma partida de futebol, na qual foi comprado para dar a vitória à seleção brasileira.
O episódio ficou conhecido depois por "prever" a lesão que Neymar sofreria durante a Copa do Mundo. Coincidentemente, no mesmo episódio o Brasil perdeu para a Alemanha de 2 a 0. Quando se trata de polêmicas, o criador da série sempre enfatiza que o show brinca com estereótipos, o que fica bem nítido com uma análise bem simples de ambos os exemplos aqui citados.
Cena do episódio Blame it on Lisa, em que Homer é sequestrado no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação) |
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