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Mãos talentosas: a emocionante e inspiradora história de Ben Carson

O médico neurocirurgião Benjamin Solomon Carson que, com suas mãos, salvou vidas usando a fé e a ciência

POR LUCIANO VAGNO

Encontrava-me em mais uma de minhas procuras por um filme na famosa plataforma de streaming Netflix para passar o tempo em uma tarde de sábado. Meu único critério era que o filme deveria ser protagonizado por negros. Depois de algum tempo, encontrei o título Mãos talentosas: a história de Ben Carson (2009). Li a sinopse e pensei: “Mais um filme que se passa em um hospital” – não sou muito fã desse tipo de trama. Contudo, decidi assisti-lo mesmo assim.

Nas primeiras cenas reconheci algumas figuras; já tinha visto uma parte do filme há alguns anos. Continuei assistindo. Logo no começo, somos apresentados a um jovem casal de alemães que estão grávidos de gêmeos. Entretanto, eles são surpreendidos com a notícia que seus bebês estão unidos pelos crânios; são siameses. Surge, então, o nome do médico neurocirurgião cotado para realizar a arriscada cirurgia de separação: Dr. Ben Carson (Cuba Gooding Jr.). O filme conta a história do médico neurocirurgião pediátrico Benjamin Solomon Carson.

Cuba Gooding Jr. interpretando Ben Carson (Foto: Reprodução/Netflix)

Durante a adolescência, Ben ia muito mal nos estudos. As risadas dos colegas faziam o menino sentir-se ainda pior. Contudo, sua mãe, Sonya Carson (Kimberly Elise), lhe dizia: “Você pode ser o que quiser nessa vida” e também “Você pode fazer o que qualquer um faz. E ainda melhor”. Embora tenha estudado até a terceira série, Sonya faz o que pode para criar sozinha Ben e seu outro filho, Curtis, e luta para que sejam bons alunos.

Kimberly Elise dá um show ao interpretar a senhorita Sonya Carson. Em uma comovente cena, sua personagem revela em uma conversa com o psiquiatra que, por não conseguir ler e sentir-se “burra”, teme que seus filhos sigam o mesmo caminho, e conta que já chegou a pensar em tirar sua vida. A atriz ganhou o Prêmio NAACP Image de Melhor Atriz de Filme de Televisão, Minissérie ou Especial Dramático em 2010 por sua atuação, assim como Cuba Gooding Jr. e outros atores do filme.

A mãe de Ben percebe que ele estava precisando usar óculos e, a partir daí, ele começa a ir bem nos estudos. Podemos observar isso quando o menino, depois de ler um livro sobre rochas, responde uma pergunta que o professor faz à turma, ou quando Ben soletra perfeitamente as palavras ditadas pela professora.

Os anos se passam, e agora um dos melhores passatempos dos irmãos Carson é assistir e responder às questões de programas de televisão que testam conhecimentos gerais das pessoas. Ben desenvolve gosto pela leitura e música clássica, que será muito presente em sua vida.

O jovem ganha o prêmio de melhor da turma. Contudo, uma professora faz um comentário racista, alegando que, por ser negro e crescer sem uma figura paterna, era inadmissível que o jovem se saísse melhor do que os demais alunos. O comentário da professora deixa Sonya furiosa, por isso ela decide se mudar com os filhos para sua antiga casa.

Apesar das dificuldades, Sonya Carson priorizava a educação de seus filhos (Foto: Reprodução/Netflix)

Ben passa a estudar em uma escola onde a maioria dos alunos é negra. Lá, ele conhece más companhias, o que acaba refletindo em confusões com sua mãe. Em um momento complicado de sua vida, Ben busca na fé uma forma de mudar seu comportamento explosivo.

Anos depois, e o agora adulto Ben está na faculdade, onde desenvolve fascínio pelo cérebro humano. Lá, ele também conhece a mulher com quem viria a se casar: a violinista Candy Rustin, que o ajuda a estudar para um exame e conseguir uma bolsa a fim de seguir o sonho de ser neurocirurgião. Ben é aprovado e passa a ser residente do Hospital Johns Hopkins. O começo, claro, não é muito fácil.

Surge uma emergência e um homem corre risco de vida. Não há nenhum neurocirurgião presente para socorrer o paciente e resta a Ben a missão de operá-lo, pondo em risco sua carreira e o nome do hospital.

Posteriormente, uma menina é levada às pressas ao hospital. Ela sofre de uma síndrome que faz ter diversas convulsões diariamente. Ben é solicitado para o caso e conta aos pais da criança uma maneira de salvá-la. O método, porém, deixa os pais assustados, pois é bastante arriscado e o neurocirurgião nunca o realizara.

Ao som de músicas eruditas, Ben Carson realiza a cirurgia. Depois de mais de dez horas, restava saber se a paciente ficaria com alguma sequela, como perder a fala, por exemplo. Contudo, inesperadamente, a menina começa a falar, tornando o Dr. Ben Carson reconhecido.

Em meio a tudo isso, Ben e sua esposa estão esperando bebês. Porém, certa noite, Candy acorda com sangramento e é levada às pressas para o hospital, já que ainda era cedo para que os bebês nascessem. A violinista fica bem, mas algo abala a família Carson.

Somos levados de volta aos gêmeos siameses, cujo caso Ben estuda incansavelmente, porém um pouco desmotivado. Após uma conversa com sua mãe, que o aconselha, e um jogo de sinuca, o neurocirurgião sente-se pronto para separar os bebês. Uma enorme equipe é convocada para a realização da cirurgia, que é acompanhada de perto pela mídia.

O neurocirurgião conta aos pais das crianças qual é seu plano para a operação: parar os corações dos irmãos por uma hora para que eles não “sangrem até a morte”. Os pais ficam assustados com a notícia e se assustam também quando ouvem do médico que precisam rezar para que tudo ocorra bem.

Chega o tão esperado dia da separação. Música clássica tocando, sala cirúrgica cheia, todos em seus postos e, às 7h15 de 5 de setembro de 1987, a cirurgia começa.

Surgem complicações no decorrer da operação. Como dito, é necessário interromper os batimentos cardíacos dos bebês e tem início uma corrida contra o tempo. Os momentos seguintes são angustiantes, porém a separação é realizada. No entanto, ainda resta a reanimação cardíaca nos gêmeos, e resta pouco tempo para isso.

Vinte e duas horas depois, a operação é finalizada. Ao reencontrar os pais dos gêmeos, o Dr. Ben Carson os faz uma pergunta que gera choro, suspiros e abraços. Vemos, então, uma das cenas mais emocionantes do longa. No finalzinho do filme, a mãe de Ben reafirma aquilo que sempre disse ao seu filho: “Você pode fazer o que qualquer um faz. E ainda melhor”.

Em uma hora e trinta minutos, “Mãos talentosas” nos ensina valiosas lições, como a força de uma mãe solo, negra, analfabeta, que trabalha, cuida da casa, tem seus problemas como qualquer outra mãe, e luta para dar o melhor de si para seus filhos. Educando-os e preparando-os para o futuro, mostrando a importância da educação e como ela pode mudar realidades. Incentivando que sigam seus próprios sonhos, não importando o quanto se subestimem, ou o quanto façam isso em seus lugares, “você pode ser o que quiser nessa vida”.

No filme, ainda é abordado a questão de se a fé e ciência podem andar juntos. Segundo Ben Carson, podem sim. O personagem reconhece a importância das duas vertentes em sua vida, de maneira que uma não anula outra, mas estão lado a lado; a luta do povo preto para conseguir chegar onde sonha, e sua presença em lugar de destaque.

O verdadeiro Ben Carson ao lado do Ben Carson da ficção (Foto: Reprodução)

Atualmente, o Dr. Ben Carson é Secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos. Para quem se interessar, “Mãos talentosas: a história de Ben Carson” está disponível na Netflix e no YouTube.

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