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Top 5: rappers feministas que você precisa conhecer

Mulheres fazem do cenário machista do rap palco para resistência contra a opressão

POR FRANCISCA PIRES

Ainda que seja, desde o seu surgimento, um espaço dedicado a dar voz para as minorias, o rap nacional sempre foi composto por uma minoria representada majoritariamente por homens. Questões relacionadas à política, desigualdade social e racismo sempre estiveram em pauta nas linhas que compõem o gênero musical, no entanto, apesar das constantes retaliações, cada vez mais as mulheres têm conseguido ganhar visibilidade e trazer para discussão o combate ao machismo e a misoginia. Aqui vai uma pequena lista de mulheres que estão batalhando para dar voz à luta feminista:

Thai Flow

Thai Flow em seu clipe “Rebordose” (Prod.ChrisBeatsZN) (Foto: Youtube/Reprodução)
A carioca Thaina Denicia deu início a sua carreira em 2017 no conhecido evento de rap do Rio de Janeiro: A Batalha do Real. Pouco a pouco, a cantora vem ganhando destaque com suas letras que exaltam a luta feminista, mostram a realidade da mulher preta nos grandes centros urbanos e a ancestralidade do seu povo, propondo a libertação de padrões de beleza e religiosos. Além de cantora e compositora, Thai é uma militante ativa pelos direitos das mulheres e já fez parte de um grupo de rap chamado: Minas de fato. Suas músicas mais famosas são: Herege, Rebordose, Rosa negra e seus versos em 1910.

Eu já me vendi nas esquinas
Eu já me arranhei nas esgrimas
Cês mataram a menina
Agora vão ter que me ouvir
Como Dandara que lutou junto de zumbi
E nem ouvi fazer homenagem
Cês tem tesão em ménage
Nos fode em coletivo pra dizer que o som é agressivo
Nem me fez gozar e quis ouvir o meu gemido
Menos vaidade, atacar uma as outras
Não passa de auto-sabotagem
Cês gostam de viagem
Então passem a levar a própria bagagem
Sem sucessagem
Ninguém mais nos segura
Eu cheguei

- 1910

Souto Mc

Souto MC para sua estreia na coluna mensal jenipapo — pertencente ao podcast ‘Na Hora do Sabbat’— onde abordou questões da ancestralidade indígena (Foto: Erica Pascoal/Alma Londrina)

Nascida no bairro da Penha (SP), a jovem Caroline de 24 anos, teve contato muito cedo com o Rap e Hip Hop e viu nesse estilo musical uma oportunidade de alcançar conhecimento, evolução, elevação da mente, além de gritar ao mundo todas as suas convicções. Contrariando uma parcela dos amantes do gênero que costumam esperar letras mais melódicas vindas de uma mulher, Souto costuma ser direta e incisiva nas suas letras. Apesar de saber que o rap mais pesado causa um estranhamento inicial, ela acredita que, embora Souto Mc tenha passado muitos anos sendo ludibriada pelo machismo, agora é hora de gritar a luta e a militância cada vez mais alto. “Eu fico imensamente feliz em ver cada vez mais mulheres juntas se fortalecendo e participando do movimento. É extremamente necessário o feminismo para as nossas mulheres. Ninguém pode ser silenciada e não vai”.

Extintas nos querem, caladas preferem
Pelas madrugas, caladas nos matam e ferem
Pelas notícias confere
Que o placar se altere
A cada minuto morre uma e cês querem que eu manere?
Olha o cenário, parece ficção
Olgas Benário de ferro na mão
Olha o cenário de pura contradição
Cobram dicção das mina
Mas tão vigaristas como o Dick são
Quem cês são?
Dispenso sua permissão
Seu contrato de admissão é pouco
Ascensão, o topo, as mina no jogo
Não culpem Dalila pelos erros de Sansão

- Asas Abertas

Lívia Cruz

“Não existe inserção das mulheres no hip hop. A gente tá até hoje lutando bravamente pra estar simplesmente, pra fazer”  -Lívia Cruz em entrevista para revista Vaidapé (Foto: João Miranda/VaiDaPé)
Aos 34 anos, a pernambucana Lívia Cruz representa um dos nomes mais influentes dentro do cenário do rap feminino. Compõe e canta desde os 14 anos, época em que participava de grupos de rap iniciantes de sua cidade natal, Recife. Com letras incisivas, Lívia não costuma desperdiçar uma linha quando o assunto é dar uma resposta bem dada aos machistas de plantão e, não à toa, em 2009 seu trabalho foi premiado pelo Prêmio Hutuz na categoria “Melhores demos femininas da década”. Suas letras falam sobre devolver o protagonismo das mulheres, liberdade de escolha e combate à misoginia dentro e fora do rap.

E nós pode muito mais que segurar refrão
A nos ninguém segura jão, hã
Não que cês não tenham tentado
Quem que cê chamou de puta ai seu arrombado?
Eu não tô pra disputa, é pela luta
É pela nossa ascenção
Sei nem quem cês são
Eu tava lá e não te vi jão
2001 bocada forte fez a ponte
Primeira vez em Sp a minha mãe diz
“Faz o seu e não me desaponte”
Sozinha eu fui beber da fonte
Encarei de front o monstro gigante
Foram vários testes né
Teste o mic, teste o Pa
Vieram os papo de teste do sofá
Cola comigo sua carreira vai bombar
Lembra de onde cê veio e confronte
Do caminho mais fácil se mantenha distante
Porque rap é pra homem né
Mas cê é cobrada 10 veiz mais
Só por ser mulher

Taz Mureb

Taz Mureb em seu clipe “Amor Livre” (Foto: Youtube/Reprodução)

Fundadora da Roda Cultural de Cabo Frio e idealizadora do Coletivo Meninas do Rio, Taz Mureb é compositora, produtora e uma das principais representantes do Rap carioca. Em 2012, seu cd solo “RépidiMina” foi um dos lançamentos mais aguardados do ano e sua carreira como artista de rua rendeu a ela uma postura impecável também nos palcos. Segundo o site Last.fm, a rapper é sinônimo de “críticas sociais, evolutivas e contestadoras, flow nervoso, swing carioca e métrica metralhada”. Taz já se apresentou em diversos palcos, da Lapa à São Paulo, de Cabo Frio à Argentina.

Mulheres boas vão pro céu
E as badsista vem do céu pra fazer rap
Se depender dos machos, o rap vai virar créu
Aprende: rua é escola, não é creche
Seu Mc favorito espanca mulheres
Isso não é novidade
Acontece com uma mina a cada 7 minutos
Enquanto o público aplaude
Não é questão de classe social nem cor de pele
Sujeito que é sujeito tem hombridade
Respeito as minas não pedem, exigem
E hoje só veio entidade
Esses pelas se garantem em dinheiro e banca
Crew é meu filho em casa pedindo a janta
Existe mais mistérios entre as mulheres
do que rotular entre puta e santa

Sara Donato

Sara Donato na final da 112ª edição Dominação [ FINAL + Freestyle das campeãs] (Foto: Youtube/Reprodução)

Confrontando o machismo e a gordofobia, Sara Donato é uma das maiores revelações da nova geração. Hoje com 27 anos, a rapper natural de São Carlos escolheu fazer da sua arte um ato político. É artista independente e busca incentivar amor próprio e resistência para as mulheres que a ouvem através de suas críticas muito bem trabalhadas a cada linha que compõe. Além dos abusos sofridos pelas mulheres, Sara bate de frente com outra vertente machista que é diariamente imposta: os padrões de beleza inalcançáveis, sendo um dos seus singles mais famosos chamado de “Peso na Mente”.

Esse som foi dedicado pras mina
que então “seja pesado”
To cansada de ouvir som meloso pra nois ser dedicado
Onde tá escrito que mina só curte love song?
Pra ser sincera suas rima
é tão ruim quanto seu grau de melação
Não passo pano pra comédia, fala bosta quer ibope
Tem tanto senso comum merece o Prêmio Nobel de loki
Cê adora as mina quieta?
Eu só desejo que você cale a boca
Empoderamento feminino não é sua escolha
Hipócrita pra car**ho, quer falar mal da minha x**a
Me broxa esse seu desempenho de bosta
Boy de condomínio bate panela e fala asneira
No tour pela quebrada só conhece as biqueira
Se perde na carreira e uma par segue o embalo
Batendo continência pra otário
Três das músicas indicadas (1910, Efeito borboleta e Machocídio) são compostas por vários outros nomes que não foram citados aqui, mas que valem a pena serem conhecidos. Além disso, existem projetos como o Poetisas no Topo, dedicados essencialmente a devolver o protagonismo que foi retirado violentamente das mulheres. Se você é mulher, aproveite o crescimento desse atual cenário de representatividade para aprender as letras e se empoderar. Homens, talvez esse seja o momento ideal para sentar, ouvir e refletir sobre essas questões de suma relevância, traduzidas didaticamente em forma de arte para rever suas atitudes e colaborar para a construção de uma sociedade com mais equidade de direitos.

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