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Humano: Uma Viagem pela Vida - Crítica

Por Ricarla Nobre e Sthefanny Ariane


O que você tem em comum com os nômades que cruzaram o deserto? Com o povo da tribo Surma, isolados no sudoeste da Etiópia? Com os palestinos que vivem em Israel? Ou até mesmo com os Sírios que sobrevivem em Aleppo? O que temos em comum com esses povos, tribos e todas as outras pessoas que habitam cada lugar do nosso planeta? Somos humanos, e o que nos torna humanos é a pergunta que o diretor Yann Arthus Bertrand tenta responder ao longo das mais de três horas de filme, em uma produção que levou cerca de dois anos, lançada em mais de 60 países em 63 línguas diferentes.

O filme é composto por uma trilha sonora marcante - cuidadosamente escolhida pelo diretor e por seu amigo Armand Amar, em parceria com a orquestra sinfônica de Praga. Foram selecionadas 23 músicas clássicas, sendo a principal do repertório ‘Human I’. Yann explica como se deu a escolha de sua primeira nota: “Era mais uma visão global das coisas, um universo inteiro em osmose com o filme onde meu ponto de partida era sobre compartilhar e se encontrar. E de fato, a composição que fiz pelas imagens filmadas na Mongólia é um exemplo particularmente bom disso, resume o universo que eu queria para este filme”. Todas as músicas constituem uma terceira voz ao documentário e, portanto, contribuem para concepção de uma ressonância entre as entrevistas, induzindo a um processo de abertura de emoções onde nada é retido.

Foram mais de 2000 entrevistas percorrendo cerca de 65 países, o que fez com que o filme carregasse uma mensagem rica em cultura e diversidade. O diretor afirmou que Humano é resultado de um sonho, após passar 40 anos fotografando pelo planeta. Yann vivenciou muitas coisas que o fizeram questionar sobre como lidamos com a vida em conjunto, e então decidiu responder essa pergunta não por análises ou estatísticas, mas apenas através do homem.Sonhei com um filme em que a força das palavras ampliasse a beleza do mundo. Coloquei algumas mazelas da humanidade no coração do meu trabalho: pobreza, guerra, imigração e homofobia. [...] As pessoas me falaram de tudo; das dificuldades de crescer, do amor e da felicidade. Toda essa riqueza é o centro do filme HUMANO”, comentou em seu site.

O documentário traz a tona grandes problemas enfrentados pela humanidade, alguns deles há séculos, como disputas, doenças, preconceitos e consumismo. Todas essas questões sendo respondidas por pessoas de diferentes classes sociais, crenças, etnias e lugares - nos proporcionando a possibilidade de enxergar esses assuntos em perspectivas totalmente diferentes - dando voz a quem nunca pensamos um dia ouvir.


Você já deve ter lido ou ouvido alguma vez que a vida só vale a pena quando vivida em conjunto, quando compartilhada. O documentário trata desse contraste, partindo dos depoimentos individuais e logo em seguida mostrando uma perspectiva mais ampla; cada imagem escolhida atribui sentido a isso, como os indivíduos interagem com o que lhes cerca. Isso inclui, é claro, a natureza, mostrada de forma exuberante, todas as composições escolhidas em cores vívidas atribuem à fotografia do longa uma plasticidade incrível.

O filme nos passa o que promete, reflexão. A quem já se perguntou o sentido da vida ou o que estamos fazendo neste planeta cheio de riquezas - que muitas vezes transpassa o nosso entendimento, eis algo que vale a pena ser visto. Os humanos são colocados em frente à câmera, em primeiro plano. Em contraste, um cenário na cor preta compõe o fundo, que atribui às feições dos entrevistados um maior destaque e é nessa simplicidade cara-a-cara que eles trazem seus relatos, suas perspectivas dotadas de um conhecimento de mundo fascinante, que ressalta como a relação do indivíduo com o ambiente e a cultura, nos diferencia e ao mesmo tempo, aproxima.

Pode-se dizer que a cada história confidenciada, cresce em nós empatia, e nos faz refletir sobre a insignificância de nossos egos, sistemas globais e econômicos, frente à uma realidade que somos ensinados a ignorar, nós somos todos iguais, não importam nossas classes sociais, ou qualquer tipo de convenção que tenhamos criado para nos “diferenciar”, a simplicidade de ser humano, quando trazida à tona em nós, sempre fala mais alto.


É difícil não se emocionar com os depoimentos. Logo no início é discutido sobre o que é o amor, e a mensagem deixada por Leonard, um jovem que cometeu crime e foi condenado à prisão perpétua. É extremamente profunda e nos lembra da nossa capacidade de comunicar, ensinar e aprender - muitas vezes sem querer ou sem perceber deixamos marcas e ensinamos algo a alguém, e esse algo pode ser positivo ou negativo.

Outro depoimento marcante é o de uma jovem que desabafou sobre nunca ter dito aos pais que os ama, e seu medo é perdê-los sem que eles saibam do amor que ela sente e o quanto é grata pela vida deles. Há também, o depoimento da dona Maria, agricultora, que com toda sua simplicidade conta o que é riqueza e pobreza, nos fazendo questionar se precisamos realmente de muito para ser feliz.

Alguns depoimentos são mais longos que outros, há também os que parecem mais desabafos, mas todos carregados de sentimentos, mostram a dor humana e a capacidade resiliência diante diversas situações; ser mulher; solidão; ser gay; imigração; perder entes queridos; perspectiva sobre a vida; liberdade; cotidiano; vingança; amor; perdão; tudo contado com uma sinceridade e simplicidade única, sem etiquetas, sem rotular, tanto é que não há preocupação em mostrar exatamente de onde as pessoas são, seus nomes, idade, o foco é no que ela tem a dizer, e cada escolha da produção enfatiza isso.

É construído também um contraste entre os locais que têm presença humana com grandes grupos interagindo, e os que não têm, como o revoar das aves e o silêncio da natureza. Como também, o fato de ocuparmos um espaço que não é nosso sem o respeito devido. A natureza, a desigualdade, a capacidade que temos para o bem e o mal, todos os contrastes da composição humana, nos deixam apaixonados pelo potencial que temos, pelo que conquistamos, e também pelas tantas coisas que precisamos melhorar, mesmo quando nos perdemos em nosso propósito neste planeta, tudo isso configura um relato honesto e fiel, que levam a humanidade do simples ao fantástico e tornam esse documentário um presente aos olhos que o contemplaram com sinceridade. Só temos a agradecer ao seu idealizador, Humano é um grande presente.


Aprovado por 95% dos usuários do google. O filme documentário está disponível na sua versão estendida na NETFLIX, uma versão encurtada na WEB e também em uma versão dividida em três volumes no YOUTUBE.

Confira o trailer:




Algumas das imagens espetaculares capturadas por Yann Arthus:




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