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O Mecanismo: 1ª Temporada - Crítica

Por Paulo Prado




A nova série brasileira da Netflix finalmente teve sua estreia tão esperada. Não para menos, pois ela apresenta como temática uma das crises políticas mais importantes de uma nova geração. Baseada na obra literária de Vladimir Neto, “Lava Jato -  O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil”, a primeira temporada da série, produzida por José Padilha e Elena Soárez, retrata uma nação desestabilizada pela corrupção. Denuncia a origem de um câncer.

José Padilha tem a admiração do brasileiro por sempre fazer denúncias em seus filmes a todo e qualquer tipo de corrupção cometidas dentro do âmbito político. Ele é a voz do povo, fazendo justiça ao seu modo produzindo filmes como Tropa de Elite e sua sequência. Mas até onde ele pode ir e usar ao seu favor esse crédito sem limites que o brasileiro lhe presenteou? Até O Mecanismo, tenho certeza.

Imparcialidade é uma palavra difícil para se encaixar nessa crítica, não apenas nela, mas em toda produção relacionada à série. Mas a palavra tendenciosa é a ideal. O roteiro vai além de qualquer denúncia feita até hoje, ele me faz lembrar a opinião de pessoas que se dizem em cima do muro em relação a todo o circo político hoje em espetáculo no Brasil. Que em algum momento desce, se posiciona de um lado, e volta a subir. E o ingresso só custa o valor de uma assinatura da Netflix – ou não depende da sua preferência.

A instabilidade confunde. Padilha tem a necessidade de durante toda a trama se posicionar como isento de qualquer lado, não existe direita ou esquerda, mas não é bem assim que acontece. É interessante a ideia de retratar que a corrupção está presente no ato mais comum que possamos imaginar, o que vou retratar mais à frente, mas há uma quebra de lógica ao criar uma grande bolha tendenciosa envolvendo personagens representantes do último governo populista que o país teve.

Marco Ruffo e Verena lutam contra os corruptos na série.  
A narração, uma marca registrada de Padilha, é dividida entre as duas personagens chave da trama, Marco Ruffo (Selton Mello) e Verena (Caroline Abras). Essa forma de contar o roteiro se torna bastante interessante quando ele se faz um pouco mais complexo para o entendimento. Não posso deixar de assemelhar à série House of Cards de Beau Willimon, que se utiliza da mesma estratégia, mas de maneira imediata com a quebra da quarta parede. O erro se propagada quando esse mesmo tipo de narração é usada apenas para cobrir furos desnecessários no roteiro.


A repetição de arcos, a insistência em contar e recontar a história das personagens desequilibra a jornada do drama. Mas apesar de toda a fragilidade da trama, conseguem se estabelecer em suas motivações. É impressionante como cada passagem da vida de Marco Ruffo se torna essencialmente importante para explicar toda a sua obsessão por Roberto Ibrahim (Enrique Diaz). Selton Mello consegue transformar Ruffo em um ícone, um símbolo de igualdade e justiça.

Verona também é uma personagem de base construtiva sólida, muito importante para a série. A maneira como ela está sempre enfrentando os seus “demônios” descreve significativamente seus princípios. Caroline Abras, consegue muito mais que dar vida, ela vive a personagem, personalidade e atuação se misturam e formam o incrível.

Otto Jr. interpreta um forte personagem, que gosta de ler a HQ Vigilante Sombrio.
O juiz Rigo (Otto Jr.) não consegue ter um desenvolvimento tão profundo quanto o dos seus colegas de combate à corrupção. Não se sabe o real motivo dele estar indo atrás disso tudo. É vaidade? A necessidade de holofotes? Talvez. O protagonismo exacerbado cansa e às vezes pode até ser comparado como uma personificação divina. A única capaz de salvar o mundo, nada mais.

Podemos dividir toda a trama da série em duas partes, a parte em que José Padilha acredita que não existe esquerda ou direita, propondo que o mecanismo é todo e qualquer tipo de corrupção. E a que ele se põe contra a política populista, quebrando a sua imparcialidade diante do outro lado da série, propagando falsas e inconclusivas referências, associando-se ao mecanismo. Deixo essa última parte para se refletir e talvez tema de um futuro artigo.

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” (A. S. Exupéry).   

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