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Ready Player One - Crítica

Por L. G. Sousa


Decepção possivelmente não é a palavra certa para traduzir a sensação de assistir o mais novo filme do diretor Steven Spielberg, Ready Player One, que estreou em 29 de março e traz reações polarizadas. O peso do nome Spielberg quando se fala de filmes de ficção rendeu a chance, mas o roteiro e o desenvolvimento dos personagens me trouxeram o sentimento de culpa por ter gastado dinheiro indo assistir a este filme no cinema. 

O filme nos conta a história do garoto Wade Watts, que vive no ano de 2045, num mundo cyberpunk. E como numa realidade desse tipo, as diferenças sociais são gritantes, assim, para aguentar a vida em circunstâncias muito precárias, a humanidade se apoia num jogo, chamado de OASIS. Os jogadores usam espécies de armaduras para trazerem sensações mais reais para dentro do jogo. Porém, quando o esquisitão carismático James Halliday, que criou o jogo, morre, é lançado um concurso que tem como prêmio o próprio OASIS, e é a partir deste ponto que a história se desenrola. 

Wade e seus companheiros, como também a maioria das pessoas dentro do jogo, tentam ganhar este concurso, e assim eles conhecem uma menina com o nickname de Art3mis. A enigmática garota ajuda a vencer os desafios, e acaba virando o interesse romântico de Wade. A principal motivação dos personagens não é necessariamente a ganância pelo dinheiro e o poder que vem com ganhar o jogo, mas sim impedir que a empresa maligna IOI assuma o controle do mundo do OASIS e torne o jogo pago e o entupa de anúncios. 

A animação necessária para tornar OASIS real ficou impecável e cada aspecto do mundo virtual é completamente atraente. É realmente difícil tirar os olhos dos detalhes do jogo, porque todas as cenas são muito bem pensadas esteticamente, e os efeitos especiais do filme ficaram incríveis. Os sons precisos para cada circunstância, como por exemplo, as corridas do início do filme, foram sempre muito bem colocados, e isso proporcionou uma experiência ainda mais envolvente para quem assistiu. Mais do que isso, todo o filme é recheado de referências e músicas da década de 80. 

Mas o filme inteiro se apoia nisso, e não compensa. Todos os personagens são muito superficiais, e o roteiro consegue não desenvolver nenhum dos relacionamentos de forma digna. Eu poderia fazer uma lista enorme de todas as situações em que o personagem principal teve atitudes completamente sem sentido. Cito um grande exemplo: quando a tia dele é literalmente explodida (por culpa da irresponsabilidade e impulsividade do próprio Wade, vale lembrar) e ele, basicamente, não dá a mínima. Outro exemplo que me fez ficar muito irritada e confusa foi quando ele se declara para Art3mis, porque, até aquela hora, eles não tinham tido nenhum momento de real conexão. Na verdade, até aquela situação, eles não tinham tido nenhuma conversa sobre qualquer assunto que não fosse o concurso. E ai, do nada, Wade diz que a ama, e não fez sentido nenhum. Esses, com certeza, não foram os únicos momentos, mas foram os mais gritantes. 

Todas as informações sobre tudo no filme são, simplesmente, jogadas para nós, em especial quando se trata do mundo real. A empresa IOI tem atitudes muito esquisitas, mas, mesmo assim as autoridades não parecem dar a mínima. Na verdade, até o próprio OASIS deveria tomar atitudes em relação aos acontecimentos relacionados a IOI. E o vilão principal, que caso não esteja óbvio, é o presidente dessa corporação, e é movido por uma ganância inexplicável. Quer dizer, ela não foi explicada durante o filme, como qualquer outro aspecto dele. Ele ilustra o típico adulto idiota e malvado, que não entende de verdade os valores do jogo, e tudo que pensa são em formas de tornar o jogo mais rentável para ele mesmo. Essa imagem de vilão poderia se encaixar muito bem no filme, mas da forma que foi abordada deu errado, e muito. Toda a empresa e esse vilão, é tudo um grande clichê, e um clichê que ficou muito chato. 

Na realidade, todo o filme é um clichê atrás do outro. E, não me entenda errado, eu adoro um bom clichê, mas ele precisa ser, no mínimo, bem desenvolvido, coisa que definitivamente Ready Player One não é. A história dele é interessante, mas extremamente mal abordada, a um ponto que fica irritante. De uma até cinco estrelas eu dou 2, única e exclusivamente pelos efeitos especiais e pela animação. Me parece que usaram toda a verba do filme para esses dois aspectos. A tridimensionalidade das animações é totalmente compensada pela bidimensionalidade dos personagens e das histórias de cada um deles.

Um comentário:

  1. É uma boa opção para uma tarde de filmes. Adoro os filmes de suspense, Ready Player One realmente teve um roteiro decente, elemento que nem todos os filmes deste gênero tem. A participação de Mark Rylance foi meu favorita, ele é um ótimo ator, e fez um trabalho excepcional e demonstrou suas capacidades, é um filme que vale muito a pena ver. Recém o vi em Dunkirk, é incrível. Christopher Nolan como sempre nos deixa um trabalho de excelente qualidade, sem dúvida é um dos melhores diretores que existem, a maneira em que consegue transmitir tantas emoções com um filme ao espectador é maravilhoso. Dunkirk é um filme com un roteiro maravilhoso. É um filme sobre esforços, sobre como a sobrevivência é uma guerra diária, inglória e sem nenhuma arma. Acho que é um dos melhores filmes de guerra é uma produção que vale a pena do principio ao fim. É um exemplo de filme que serve bem para demonstrar o poder do cinema em contar uma história através de sons e imagens, que é, diga-se de passagem, a principal característica da sétima arte.

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