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O Pequeno Príncipe: uma análise sobre a humanidade

Por Josué Cruz


Em O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry descreve os homens sob uma ótica pueril; aborda as atitudes de forma figurada, projetando, em cada personagem, humanos ou não, os aspectos da humanidade. O incômodo existencial é produto da reflexão que o autor nos leva a fazer, primeiramente, sobre como o mundo é supérfluo, efêmero e incerto, como o homem é um ser cada vez mais ocupado, se tornando objetivo, simplista e anestesiado demais. 

Com a vontade condicionada à objetividade exacerbada, Saint-Exupéry diz que julgamos os indivíduos em termos quantitativos. Avaliamos o quanto se ganha, o quanto se pesa, quanto se tem de altura, qual sua idade, o quanto se tem de prestígio, e que nunca avalia-se quem realmente a pessoa é, o que ela gosta e o que sente. Enfim, os algarismos são mais importantes do que as sentimentalidades. 

Outro ponto abordado é o fato de atribuirmos muita importância à aparência. Ele dá o exemplo do astrônomo turco, quando este apresenta sua descoberta do asteroide B612 usando trajes de palhaço e devido a esta indumentária, a demonstração não foi considerada séria e digna de créditos. Onze anos depois, o astrônomo apresentou o mesmo projeto, agora vestido com trajes considerados sérios e elegantes, logo houve a aceitação da descoberta. Isto é, as vestimentas (aparência) são mais importantes que a essência. 

O autor dá exemplos de indivíduos supérfluos, pessoas que vivem somente por aparência e que esquecem o que realmente são. Dessa forma, podemos ter como exemplo a flor que nascera no planeta do Pequeno Príncipe. Esta era bela, porém, narcisista, pensava tão somente em suas qualidades, o quanto era bonita e envolvente, não desfrutava de modéstia alguma e visava conseguir as coisas usando sua persuasão com mentiras e chantagens emocionais. Esta flor representa muitas pessoas, orgulhosas, narcisistas, superficiais, que buscam constantemente o amor e a aprovação alheia. 

No momento em que o principezinho viaja pelos outros planetas, Saint-Exupéry demonstra de maneira genial, representado por cada habitante de cada planeta, as condutas humanas mais vigentes em nossa sociedade. No primeiro planeta, havia um monarca, muitíssimo autoritário que exigia ser obedecido com veemência; o rei representa as pessoas autocratas que falam em disciplinas e cumprimento de ordens, são indivíduos egoístas e imediatistas, não sabem esperar nem compreender os outros, somente a si próprios. Pensam em satisfazer somente suas necessidades, são sujeitos egocêntricos, que têm a certeza de tudo estar girando ao seu redor e em sua função. São pessoas que gostam de julgar os outros por se acharem corretas e imbuídas de autoridades, esquecendo que o homem mais sábio é aquele que julga a si mesmo. 

No segundo planeta, havia um homem muito vaidoso, ele representa todas as pessoas que vivem em função de receber elogios, movidos pelo almejado reconhecimento alheio, se julgam os mais belos, os mais sábios, os mais bem-vestidos, os mais tudo, como se a vida fosse um concurso. A vaidade dessas pessoas ensurdece seus ouvidos às críticas. Tais sujeitos acham que todos são seus admiradores, e que todos têm o dever de reconhecer seus talentos e qualidades, quando isso não ocorre, geralmente sentem-se traídos e desprezados, vivendo em função de elogios. 

No terceiro planeta, residia um dependente químico representando os indivíduos que vivem acomodados, que sentem vergonha por essa acomodação, mas que não fazem nada de diferente para quebrar as rotinas que tanto os prendem na monotonia e no conforto. São seres inertes, que deixam a vida passar, são conformados com tudo e se ocupam somente com lamúrias. 

No quarto planeta, cujo habitante era um empresário, representa as pessoas que nunca têm tempo para nada, vivem imersas em seu trabalho, sem tempo para a família, amigos e para si próprias, esquecem de viver, pois são movidos somente pelo trabalho, pela eficiência, pelo lucro, precisam mostrar que são cidadãos sérios e respeitados. Esses indivíduos ligam somente para a exatidão, trabalham por muitos anos com o intuito de acúmulo de bens materiais, entretanto, quando conseguem obtê-los não usufrui deles, ou seja, trabalham tão somente para possuí-los. 



O quinto planeta era habitado por um acendedor de lampiões, esse asteroide era muito pequeno, e por isso os pores do sol eram muitíssimos ao decorrer de curtíssimos espaços de tempo. O habitante desse planetinha era muito rígido quanto ao cumprimento de regulamentos, mas obedecer tais regulamentos, nesse caso, não é algo que afeta somente ao acendedor, isto é, ele se ocupa muito, entretanto, a atividade de acender o lampião constantemente contribui para a vida de outrem. 

O sexto planeta era habitado por um geógrafo, o qual vivia a escrever num livro de grande espessura. Dizia que conhecia todas as localizações exatas de todas as coisas, tais como: rios, montanhas, vulcões, desertos etc. Ele não conhecia quase nada de seu planeta. Esse geógrafo representa aquelas pessoas que dizem conhecer a vida, as coisas, mas que na prática ocorre diferente, são indivíduos que vivem de teorias e planejamentos, mas que nunca põem em órbita seus planos. São sujeitos procrastinadores que adiam o que poderiam já tê-lo feito, como vivem só de planos e teorias esquecem que a vida se faz na prática. 

O sétimo planeta era a Terra, lá se situavam em grandíssima quantidade todos os indivíduos dos demais planetas, ou seja, lá tinha monarcas, empresários, dependentes químicos, vaidosos, geógrafos e acendedores de lampiões. Com isso, o autor diz que tal planeta é repleto de pessoas grandes e sérias com todos os valores e qualidades que tinham os habitantes dos outros planetas. No diálogo do principezinho com a flor no deserto, é mostrado como os homens são passageiros, levados pelo vento, pois não gostam de lançar raízes (superficialidade dos relacionamentos). Já no diálogo entre o principezinho e a raposa, fica perceptível a ideia de que os homens não criam mais laços, não se cativam mais. Ele expõe que quando cativamos uns aos outros deixamos de ser só mais um (a) na vida do outro, passamos a ser únicos e que criamos relações de interdependência. 

Outro ponto é quando a raposa fala que os homens desejam tudo pronto (imediatismo) e que dessa forma compram o que desejam, no entanto, para se ter amigos, é preciso cativá-los já que não existem lojas de amigos. Outra lição que a raposa dá é que o essencial é invisível aos olhos, além de que somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos. Na conversa com o manobreiro, vemos que nunca estamos felizes onde estamos e que nossa insatisfação é perpétua. 

Fica claro que somos seres que nascemos, vivemos e morremos inacabados, mesmo fechando os ciclos (ciclo da vida: nasce, cresce, reproduz e morre). Somos incompletos, pois é impossível um estado de completude. Na volta do pequeno príncipe ao seu planeta, ele diz que só a casca (o corpo) ficará e que o essencial se vai, e pergunta ainda que graça se tem numa casca, ou seja, o que realmente importa é o que se tem dentro, ideias e sentimentos, mas infelizmente damos valor somente ao invólucro. Com essa ideia, o autor mostra que estamos aqui na vida de passagem e que nada é de fato concreto. Nosso corpo é descartável, é efêmero e o que importa de verdade é o conteúdo e os seres únicos que somos.

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