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Blade Runner 2049 - Crítica

O que nos torna humanos

Por PH Dias 


Uma das principais questões filosóficas colocada no universo de Blade Runner é sobre preconceito e intolerância acerca do que é diferente dentro de uma sociedade, e o que faz essas pessoas agirem contra essa diferenciação de personalidade e classe. Assim como vários outros temas de suma importância que Philip K. Dick escreve e que posteriormente é mostrado no filme de 1982, dirigido por Ridley Scott. E neste novo filme não é diferente.

Denis Villeneuve (A Chegada) explora bem essas questões, através do roteiro bem escrito por Hampton Fancher e Michael Green, os quais desenvolvem formidáveis diálogos entre os personagens. Principalmente quando há o K (Ryan Gosling que vive um androide que trabalha como um Blade Runner) em cena, em que se discute temas sobre a moral e a ética de uma pessoa que é subjugada pelo o que ele é representado socialmente, já que esse androide é sempre repreendido pelo fato de ser um androide.

O design de produção da obra é belíssimo. Dennis Gassner consegue mostrar bem uma Los Angeles tomada por propagandas. E o desenvolvimento dessa ideia é mostrado nos grandes telões de led e nas publicidades gigantescas que sucumbem de alguma forma as pessoas que vivem na cidade, a fim de revelar o poder que as grandes corporações podem ter para ditar as regras desse meio social. Design esse que lembra muito o do filme de 1982, porém o brilho é maior. A fotografia é muito bem explorada, Roger Deakins ilustra bem o contraste das cores mais vibrantes dos comerciais e das propagandas com a “parte” debaixo da sociedade, que é exibida em cores mais escuras para demonstrar o poder dessas grandes empresas sobre a população em geral e como isso afeta o desenvolvimento do meio. Os efeitos especiais também são algo de positivo no filme, pois elucida uma roupagem nova do visual daquele universo, desde os carros voadores até a parte de dentro dos lugares, mostrando um tom mais futurista para esses locais.


Denis Villeneuve mostra que sabe fazer filmes de ficção científica, desde o visual, já explicado acima, até a maneira que ele guia a direção, seja na conversa entre os personagens, no qual ele tira o máximo dos seus atores, seja nas cenas de ação com embates mais verdadeiros e reais. Ou seja, o espectador não percebe os efeitos visuais colocados, como também os cortes de câmera que não são bruscos e dão um tom de naturalidade à obra apresentada na tela.

As atuações são outro destaque. Ryan Gosling consegue transmitir muito bem seus valores de um androide interpretando K (destaque para o quanto ele parece um robô no sentido sentimental da palavra, principalmente nas cenas de maior interação com os outros personagens). Outro destaque para a sua atuação é quando ele se liberta da “caverna” e começa a agir como uma pessoa normal, demonstrando mais sentimento e empatia que era o que lhe faltava quando estava “preso”. 


Harrison Ford (Rick Deckard) tem pouco tempo de tela, porém consegue mostrar bem as finalidades do seu personagem até o terceiro ato. Jared Leto (Niander Wallace), que faz o vilão do filme, também é muito bem aproveitado dentro da história, com destaque  nos diálogos e os objetivos que ele tem quanto a questão do papel social dos androides no mundo. Ana de Armas ( Joi, que é um programa de ajuda às pessoas) é a grande surpresa do filme; além de ter seu arco bem contado, ela consegue transmitir bem os seus valores e compaixões da sua vida. As partes em que ela conversa com K são de uma atuação extrema, uma vez que ela consegue dosar todas as nuances da sua personagem: alegre, carismática, verdadeira. E quando ela precisa ser mais amorosa, Ana passa bem uma forma de afeto ao seu amor por K. Sentimos que é algo sincero, apesar de ela ser um software.

No fim, Blade Runner 2049 é um filme que fala e debate sobre a ideia do ser diferente dentro de um meio social cheio de padrões que não podem ser quebrados, mas a única forma de reconhecimento desses diferentes é mediante aos sentimentos desses outros e reconhecer que somos iguais, embora particulares por dentro.  

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