Mãe! - Crítica
Por PH Dias
CONTÉM SPOILER!!!
No
princípio, criou Deus os céus e a terra
A frase acima remete ao
Gênesis do mundo e da criação de todos os seres vivos por Deus, segundo a
Bíblia. O filme de Darren Aronofsky
constrói seu filme a partir dessa visão, da figura do Ele/Criador (Javier Bardem), tentando fazer uma
poesia e ao mesmo tempo mantendo uma metáfora sobre o processo de criação,
mediante a alegorias bíblicas e de como elas podem influenciar esse meio e até
a pessoa da Mãe (Jennifer Lawrence).
Dessa forma, o filme começa mostrando o que irá tratar, com um primeiro ato
bastante indiferente e claustrofóbico, devendo-se muito à maneira como ele guia
a câmera através das ações dos personagens e mostrando desde o início que algo
vem para sufocar, ou seja, o terreno é muito bem preparado para o que estar por
vir. Êxito esse de um roteiro muito bem construído e encaixado, com diálogos e
ações que fazem à narrativa avançar e prendendo a atenção do espectador.
O desenvolvimento dos
personagens é bastante rico e complexo. Aronofsky consegue montar bem seus
indivíduos, principalmente os principais da história, criando arcos com um
início, meio e fim, em que são aproveitados todos os tipos de ações perante o
que já foi mostrado no primeiro ato. Sendo assim, existe uma coerência quanto
ao desenvolvimento psicológico da pessoa da Mãe – a cena mais indispensável é
da expulsão das pessoas que a Mãe faz durante o enterro, mostrando bem a
concordância quanto à psique da mulher, bem como o do Criador. Destaque para o
final da trama, no qual ele percebe que o seu poema fez muito sucesso e está
criando e recebendo muitos fãs, ao ponto de ser retratado como uma divindade.
A atuação é um dos
pontos fortes do filme. Jennifer Lawrence consegue expressar uma personagem
diferente de tudo que já interpretou na sua carreira, uma atuação que precisa
trabalhar progressivamente com os jeitos e os modos do personagem, exemplo: no
começo ela está mais “tranquila”, atuando muito mais com as feições; aos poucos,
quando o clima de suspense vai aumentando, vemos uma Mãe mais agoniada e
indiferente, trabalhando mais com o seu jeito de indignação e apreensão ao que
ocorre dentro da casa, e já no terceiro ato ela consegue colocar toda sua
raiva, ódio, descrença quanto a situação fora do normal que está ocorrendo na
trama por meio de gritos mais histéricos do que o normal somado com as loucuras
de sua personagem.
Javier Bardem também
mostra porque é um dos grandes atores da atualidade. Ele controla o personagem
do início ao fim da trama e se mostra como um homem carinhoso e afetivo em
cenas que precisa desempenhar essa capacidade. Além disso, em cenas de maior
raiva e repúdio, ele expressa de maneira muito bem colocada essa virtude do
Criador, por meio da cena em que o diamante que sobrou da casa queimada é
quebrado. Destaque para os personagens de Ed
Harris e da Michelle Pfeiffer,
que rouba a cena quando aparece, exibindo seu poder de fala e de argumentação
nos diálogos com a Mãe. Não iria surpreender caso receba uma indicação para
Melhor Atriz Coadjuvante.
A fotografia é
belíssima, Matthew Libatique
consegue dosar bem os filtros, seja para cenas dentro e fora da casa com tons
mais amarelados e claros para mostrar um tom mais de calmaria e amenidade, seja
na parte da noite, principalmente no terceiro ato, em que ele usa cores mais
escuras para mostrar um clima de escuridão e medo que permeia a trama. Sem
falar na cena da reconstrução da casa que esteticamente é muito bem colorida,
que forma uma ideia de nascimento de um novo mundo que floresce, depois que
outro é destruído.
No fim, o filme
apresenta um terceiro ato diferente e corajoso – comparado às demais produções
atualmente – e a explicação por trás de todo aquele contexto messiânico que a
figura do Ele passa é muito boa. Porém, o problema maior é que o filme dá
margens para muitas interpretações e infelizmente o público pode não entender
algumas situações e alegorias que o filme expressa. O diretor não poderia ter
se arriscado tanto ao ponto do filme ou ser muito amado ou odiado. Ademais, a
interpretação que fica é de que o amor que o Criador contempla dentro de nós é
capaz de curar todos os problemas e nos influenciar de alguma forma.
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