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Os Incríveis 2 - Crítica

Por Paulo Prado 


O regresso da família Incrível ao cinema norteia novamente as animações rumo a compreender temáticas complexamente adultas e ao mesmo tempo mostrar-se uma boa diversão para as crianças. Incluindo Peter Pan. O filme da família de heróis preserva sua estrutura e acompanha a geração que antes prestigiou a trajetória dos heróis. Hoje, o fascínio não se encontra apenas nas cenas de ação, piadas inocentes – mas nem tanto – e o sonho de adquirir superpoderes, mas por compreender temáticas mais profundas que o aparente. 

Brad Bird avança com o segundo filme dos Incríveis, 14 anos depois, da melhor forma possível. O equilíbrio entre temas encontra-se intacto e um pouco mais evidente agora. Diferente do primeiro filme, com o núcleo do Sr. Incrível (Craig T. Nelson) enquadrando mais tempo de tela, o novo momento da família Pêra se divide em dois arcos igualitários. A Mulher-Elástica (Holly Hunter) ganha destaque em viver a vida de heroína, enquanto Beto adota a vida doméstica possibilitando a abertura de uma incrível janela para a evolução pessoal dos personagens. 


Bird continua o ciclo da família Incrível, retomando exatamente de onde o filme original parou, os expondo a momentos de absolvição e dinâmicas extraordinárias. Elena Pêra rouba as cenas de ação e revive seus dias de glória como heroína, mais do que um símbolo sexualizado, ganha seu espaço, prova e se prova realizando feitos que até mesmo ela duvidava. Desloca a trivialidade alimentada por seu marido, demonstrando uma visão de mundo que vai além de uma vulgaridade machista. Encontra um equilíbrio entre a prudência com a família, cujo o papel de mãe lhe oferece, o desafio de se impor como mulher em um mundo de homens e a vida pública de Mulher-Elástica rendendo bons momentos de espionagem com o apanhar 007. 

Embora a narrativa promova a reposição das partes principais e possibilite participação ideológica, ela vai além e não se sujeita unicamente a estes discursos. A evolução dos personagens expõe tempos de compreensão, ensejos de empatia individuais tanto do Sr. Incrível, em apreender efeitos que o levam a participar do cotidiano pessoal da sua família e deixar de lado por um breve momento a vida de herói, quanto da Mulher-Elástica ao vivenciar e compreender o porque do seu companheiro gostar tão intensamente de atenção heroica. 


A revelação dos poderes do Zezé cativa. O segredo, embora revelado desde a primeira parte, nos coloca no mesmo nível de conhecimento que o bebê incrível. Essa ironia dramática possibilita a abertura do arco de exploração dos seus poderes concedendo a suspensão de diálogos e a priorização da ação resultando em momentos de descontração. Ainda que esses momentos se tornem exageradamente repetitivos e estafantes. Um ciclo sem fim que se iniciou no desfecho do primeiro longa. 

Ainda que Bird acerte novamente no drama que envolve a família Incrível e seus amigos, a mesma façanha, desenvolvida com o Síndrome (Jason Lee), ele não consegue iterar com a vilã Evelyn Deavor (Catherine Keener). O gasto de tempo com ciclos monótonos ajuda para o pouco desenvolvimento de sua motivação. Recusa ao espectador a possibilidade de afinidade e empatia com a personagem tornando-se insignificante para o progresso da trama, ocasionando em uma personagem estreitamente previsível. 


Os Incríveis irrompeu em um momento perfeito marcando a geração dos anos 90 e o inicio da 2000. A ação e o desejo da obtenção de poderes sobressaíam perante as críticas sociais aos olhos infantilizados. O Eterno Retorno. Hoje a indisposição da infância a momentos que não tenham grandes demonstrações de talentos manifesta-se novamente – explosões, mecânicas grandiosas enchem os olhos e deixam bocas abertas. 

O incrível vai além. O ato notável não está concentrado em efeitos utilizados meramente para prender o espectador a cadeira e em tratos de ideologias que aconselham a exposição da empatia com o próximo. Mas, sim no precedente momento de aflição, nervosismo e medo. O medo de desencantar as melhores memórias da infância. Aflição e nervosismo mediante a espera ao longo de 14 anos. E no final de tudo se deliciar no prazer correspondido.

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