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Gamers são elas


Por Paulo Prado 

Nyvi Estephan em conversa sobre o empoderamento feminino no mundo dos games. Foto: Paulo Prado/Caderno de Pauta

A estreia do Good Game Convention em Natal neste sábado, 24 de novembro, se apresenta de uma forma pouco habitual aos seus veteranos, SAGA e DIGICOM. Apoiado ao grande sucesso empreendedor da Campus Party, que causou uma verdadeira balburdia na cidade, o evento se sustenta em no empreendedorismo para alavancar e deixar em evidência o tão talentoso mercado de games potiguar, além de investir fortemente no empoderamento feminino, tema aqui discutido. 

A grande e massiva presença masculina no evento não foi suficiente para impedir a afirmação feminina engajada ao tema ensinando a eles que, na verdade, Gamers são elas. O empoderar-se tomou grande forma e os ouvidos, que não estavam distraídos nos vários consoles, mobiles e jogos de tabuleiros, permaneceram essencialmente voltados para os conhecimentos ali revelados. 

A GGCON revela a todos que um game é um grande universo que pode oferecer uma vida, além de estender os conhecimentos sobre a sociedade. Da sua ideia inicial, fazendo interseção com a comunicação, o design, a psicologia, até os últimos pontos gráficos elaborados nos softwares de animação, tão absurdamente caros (deixando ainda mais bonito o desafio de se produzir um game), disponibilizados no mercado. Faz parte de uma grande ciência, tornando-se mais humanístico do que se espera ser. 

Mas o que são os gráficos sem uma narrativa que apreenda a necessidade consumidora de curiosidade do indivíduo? É chegada a essência do primeiro episódio da Game Convention. Algo muito comum em eventos, de qualquer natureza que seja, é a necessidade, mesmo que inapta, do público procurar em seu ídolo ali na frente algo que o inspire a seguir os mesmos passos que ele, algo muito parecido com o Monomito de Joseph Campbell, com algumas falhas. 

É perceptível que a narrativa não se limita apenas ao game, mas também aos gamers para que seus fãs possam seguir em frente. A GGCON, então, revela e entrega às pessoas o alento de verdadeiras histórias que realmente merecem atenção e estas estão vinculadas, legitimamente, às gamers. Elas têm a capacidade inspiradora de verdade, além da falta de dinheiro, da rejeição familiar quanto a profissão, ainda há de enfrentar o desafio da discriminação apenas por ser mulher e esse é o maior desafio, este é o Monomito com o ciclo fechado perfeitamente. 

Nyvi em entrevista para o Caderneta Nerd.
Histórias que inspiram e respiram. É preciso acreditar nelas, é preciso tê-las como inspiração, pois os mesmos desafios que enfrentam no ambiente virtual do game, elas vivem no mundo real. Nyvi Estephan, principal apresentadora de e-sports do país, foi um dos grandes destaques da noite quanto ao tema. Ela levantou apontamentos sobre estereótipos lançados no mundo dos games e do empoderamento feminino que fez equipes femininas se sobressaírem perante equipes masculinas em campeonatos oficiais. Nyvi contou também sobre a emoção de ter conquistado uma posição tão importante em um meio tão elitizado que é a indústria dos games e deixa claro em entrevista para o Caderneta Nerd: 

A importância é justamente ter o máximo de diversidade possível. Em qualquer âmbito é importante ter diversidade seja de sexo ou raça para que as pessoas se respeitem mais. Tem uma frase que eu sempre falo ela por que eu gosto muito, é uma frase do Caetano Veloso que diz: ‘é que Narciso acha feio o que não é espelho’. Então quando as pessoas estão acostumadas a sempre ver um nicho muito parecido, muito igual qualquer pessoa que pareça estranha elas se incomodam, acham estranho e o ideal é que a gente nunca ache estranho, que a gente saiba se respeitar cada vez mais. E perceba que não existe um estereótipo gamer, isso não existe. Gamer é qualquer pessoa, independente de como essa pessoa se vista, independente de orientação sexual, independente de sexo, independente de cor, independente de qualquer coisa e isso é muito importante justamente para quebrar o preconceito. 

Ao ser indagada sobre já ter sofrido algum tipo de preconceito, a apresentadora responde: 

Já, mas eu acho que isso é normal, infelizmente, mas a gente tá aqui para incomodar mesmo e para cada vez mais as pessoas aceitarem a gente melhor. Então, eu não me deixo abalar por isso, prefiro pensar nos momentos bons que me fizeram cada vez mais me sentir aceita nesse meio, mas sim já passei por muitos preconceitos, mas tudo isso vira gratificante quando vejo que uma garota manda uma mensagem para mim falando: ‘olha, eu não desisti de trabalhar com isso por causa de você, me espelho em você, me inspiro na sua luta’. Então assim, a gente está cada vez mais unida para que não exista isso mais. 

A GGCON revelou histórias muitos mais complexas do que se imagina e muito mais gratificantes de se dar o devido valor. Uma narrativa de um game se faz igualmente complexa e nos leva a valorizar a personagem principal pelos seus esforços para adquirir novas habilidade e níveis de conhecimento maior, partindo para a próxima fase. Neste dia, o Mário encontrou o castelo vazio, o Donkey Kong não raptou ninguém e Gamers são elas.

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