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House Of Cards: uma era que chega ao fim

Por Evandro Ferreira


O histórico

Novembro de 2018 será um mês histórico para todos os que consomem os produtos televisivos da Netflix, pois chega ao fim, após seis temporadas, a icônica série norte-americana House Of Cards. É o ponto final da história do casal Underwood que chega a essa altura da narrativa envoltos em tramas e polêmicas que ultrapassam a tela da ficção.

O fator histórico que essa série representa está no fato de que ela marca um profundo processo de crescimento e popularização da Netflix como empresa de produção de conteúdo televisivo, foi com esse drama político que a empresa conquistou diversos prêmios antes considerados exclusivos da emissoras de televisão. Em 2013, o seriado ganhou o Emmy de melhor direção em série dramática, melhor elenco em série dramática e melhor direção de fotografia; até hoje a lista só aumentou. 

O que poucos sabem é que a aclamada série que se passa na capital dos Estados Unidos tem a sua origem em um contexto bem diferente do clima obscuro dos porões do Capitólio de Washington, D.C. Todo enredo principal foi baseado no livro House Of Cards do escritor britânico Michael Dobbs. 

Tudo aconteceu em 1987, quando Michael era deputado e conselheiro da ex-primeira-ministra da Inglaterra Margaret Thatcher. A então conhecida como A Dama de Ferro, por causa de seu temperamento e relacionamento com seus subordinados, estava de férias com o escritor, que não estava satisfeito com o resultado de um livro anterior. Thatcher então teria perdido a paciência: – Pare com essa maldita arrogância – disse ela. – Se você acha que consegue fazer melhor, vá e faça. Eu não saí de férias pra ficar ouvindo você reclamar o dia inteiro desse maldito livro.

Com esse impulso e com a iminente queda da então líder do Partido Conservador, além de uma garrafa de vinho, Dobbs escreveu o que seria o esboço da história. Mas antes de virar seriado estrelado por Robin Wright e Kevin Spacey nos Estados Unidos, a obra virou uma série limitada de 4 episódios na BBC na Inglaterra. 


Outro fato que chama atenção no que diz respeito ao preparo para a construção de House Of Cards é o fato de que Beau Willimon, showrunner da série, já trabalhou com políticos como Charles Schumer (Senador de Nova York), Hillary Clinton (Ex-Secretária de Estado do EUA) e Howard Dean (Ex-presidente do Comitê Nacional Democrata). Tais experiências são apontadas como fator de colaboração no realismo na retratação dos bastidores da política.

O escândalo Spacey

Em outubro de 2017, o ator Anthony Rapp revelou em entrevista ao site BuzzFeed, que Kevin Spacey, intérprete do personagem principal de House Of Cards, teria lhe assediado em 1986, em uma festa no apartamento de Kevin. Na época do escândalo, a Netflix demitiu de vez o premiado ator e cogitou o encerramento imediato da série. 

Após longas negociações, foi anunciado que Robin Wright, que vive Claire Underwood, daria continuidade ao legado de HoC para uma temporada final de oito episódios. Evidentemente que uma série de situações foram cogitadas sobre como os escritores dariam destino ao protagonista e se a trama principal não estaria afetada sem o sanguinário Presidente dos Estados Unidos. No dia 2 de novembro, todo mistério terminou. 



Um final de acerto de contas

Para conhecer um pouco mais sobre o enredo principal de House Of Cards, leia a nossa crítica anterior.

A sexta temporada chegou, mas com um certo tempo de antecedência todos ficaram sabendo da morte de Frank Underwood. Nos teasers de divulgação, a Netflix mostrou imagens da lápide do personagem e a sua esposa lamentando (ou não) a sua partida. Eis algo que já é particular da série: as chamadas de propaganda da série sempre contam uma narrativa um pouco diferente do que realmente acontece, a incógnita.

Com o falecimento de Francis, a Presidente Claire assume de vez a Casa Branca e com isso a ponte entre o público - o que está acontecendo em cena a passa a ser pelo ponto de visto dela. Todos os aficcionados por HoC sabem que um dos diferenciais da trama é o recurso de quebra da quarta parede, onde o ator conversa de forma direta com quem assiste o espetáculo. É curioso o tom de deboche dela ao questionar se nós ainda estávamos sentindo falta do agora defunto. 

A sexta temporada foge um pouco mais da teia política e abraça de vez um suspense obscuro ao contar por meio de flashback um pouco do passado da personagem de Robin Wright. Ao mesmo tempo em que ela tenta se livrar do legado negativo do marido, os escândalos em que também esteve envolvida voltam como fantasmas de um passado de lama e muito sangue. 

Outro ponto tocante tratado ao longo da história é o questionamento sobre o papel da mulher em um cargo de grandiosa importância como a de Presidente dos EUA. Desafios são impostos por todos os lados, no entanto, ela sempre reina absoluta sobre os obstáculos. 

Um dos pontos positivos da série é a entrada dos Shepherd´s (Diane Lane e Greg Kinnnear), donos de uma grande corporação, e que, munidos dos segredos Underwoods, vão fazer de tudo para tirar Clair do salão oval. Além disso, os roteiristas acertaram em cheio ao focar de fato na ex-primeira dama, ao explicarem o motivo pela qual ela teve o interesse pelo pobretão ambicioso da Carolina do Sul que viria a ser 47º POTUS. A forma como age mostra que ela sempre esteve no caminho certo do que sempre quis ter: o poder em suas próprias mãos.


Um dos pontos controversos dessa temporada é a quantidade de mortes que acontece nos poucos episódios, a sensação que fica é que o personagem morre e não existe um tempo de respiro das consequências de sua morte. Isso deixou em algumas situações, que não devo falar aqui por motivos de spoiler, a narrativa comprometida e por vezes confusa. 

O último episódio, apesar de corrido, é um aperitivo a parte. Termina com uma grande revelação que faz o telespectador sentir o gosto de satisfação e coerência ao propósito inicial que House Of Cards teve em seus 73 capítulos.

O legado

Um elenco sem igual, um ambiente peculiar, uma trilha sonora marcante e uma história refinada são os atributos oferecidos aqui. Um dos maiores prazeres de acompanhar esse jogo de cartas é ser agraciado com uma trama que como poucas soube desvendar o véu de encanto que temos pela política norte-americana e isso de forma gradual. 


Se no início tínhamos um deputado democrata, com toda a sua polidez, movendo as peças do jogo ao seu favor, no final temos uma alma que fala muito mesmo estando ausente. Se no início tínhamos uma coordenadora de uma ONG engaiolada em seus vestidos de grife, no final temos uma mulher cada vez mais empoderada e jogando nas suas próprias regras e sujando as suas próprias mãos de sangue.

E se você quer uma dica sobre o final dessa epopeia, deixo uma frase das muitas disparadas ao longo das seis temporadas: “A liderança é uma coisa maravilhosa e preciosa. Mas tem um preço: a solidão”. 

Toc toc - bata o anel na mesa e, se ela não estiver bem posta, vire-a. 



Agora, confira alguns vídeos de divulgação da série produzida pela Netflix:



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