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Trilogia Corpo Fechado: o universo de heróis e vilões de M. Night Shyamalan

Um passeio até Vidro, para entender a trilogia iniciada há quase vinte anos 


*Por Léo Figueiredo 

Pôster do filme (Divulgação)
É possível que seja um clichê afirmar que o cinema vive hoje a Era de Ouro dos super-heróis. É irônico, olhando para trás, concluir que a década de 1990 foi responsável por afundar o gênero no cinema, apresentando abominações como Batman&Robin. Tornou-se um risco investir em películas dessa categoria. Porém, a primeira década dos anos 2000 fez o gênero ressurgir de modo glorioso, criando uma nova geração de fãs e pavimentando a cultura pop a um status triunfante.

Entretanto, em meados de 2000, mesmo ano em que estreou o primeiro filme dos X-Men, houve um precursor. Um filme ousado para a época e que, consequentemente, não foi um sucesso de bilheteria. Apesar de focar no tema quadrinhos e agradar apenas um determinado público, Corpo Fechado foi ganhando respeito ao longo do tempo. Parte dessa boa reputação se deve ao talento do diretor e roteirista M. Night Shyamalan, que carrega em seu histórico os formidáveis O Sexto Sentido e Sinais.

Graças aos universos da Marvel e DC, todos os anos filmes de heróis pipocam no cinema. E, recentemente, Shyamalan surpreendeu ao público ao revelar seu próprio universo compartilhado, o qual encontrará seu ápice em Vidro. O Caderneta Nerd oferece um passeio por essa que talvez seja a trilogia heroica mais realista dos últimos anos.

[CONTÉM SPOILER] 


O homem inquebrável

Em Corpo Fechado, David Dunn tenta descobrir suas habilidades (Divulgação)

Corpo Fechado foca na narrativa clássica de uma boa HQ: o nascimento do herói e seu nêmeses. David Dunn (Bruce Willis) é o único sobrevivente de um desastre de trem, sem quebrar nenhum osso ou ter qualquer tipo de arranhão. David acaba conhecendo Elijah Price (Samuel L. Jackson), um fanático colecionador de quadrinhos, que o incentiva a descobrir seus dons. Elijah possui uma rara doença nos ossos e, por ter um corpo muito frágil, ele desenvolveu a teoria de que possa existir alguém no mundo que seja seu oposto. Logo David percebe que além de ter um corpo bastante resistente, também nunca ficou doente, tem visões ao tocar pessoas e sua maior fraqueza é a água.

O filme termina com David assumindo sua identidade de herói, e é quando o plot twist – ferramenta comum nas tramas de Shyamalan, uma das marcas pelas quais ele é mais lembrado – acontece. Em um aperto de mão, David descobre que Elijah foi o autor do acidente no trem, assim como de outras tragédias ocorridas na cidade. Elijah, enfim, encontrou seu oposto, o Super-Homem do mundo real, tendo sacrificado várias vidas pelo caminho, e dessa forma estando pronto para assumir sua vil faceta: Senhor Vidro.

“Agora que sabemos quem você é, eu sei quem sou. Eu não sou um erro. Nos quadrinhos, sabe como você descobre quem vai ser o arqui-inimigo? Ele é o exato oposto do herói e, muitas vezes, eles são amigos, como eu e você. Eu devia ter me tocado há muito tempo. Sabe por que, David? Por causa dos garotos... Eles me chamam de Sr. Vidro" 


Kevin e sua Horda

Em Fragmentado, a Fera tem força sobre-humana (Divulgação)

Fragmentado estreou em 2017 e apresentou a história de um homem com Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI). Kevin Wendell Crumb possui 23 personalidades e, logo nos minutos iniciais, uma delas – Dennis – sequestra três garotas, entre elas, Casey (Anna Taylor-Joy). Ocorre que as personalidades de Kevin acreditam que exista uma vigésima quarta identidade, intitulada de A Fera, capaz de fazer coisas sobre-humanas. As garotas, portanto, são os sacrifícios, o alimento para quando a besta se revelar.

O final do filme revela algumas surpresas interessantes. A Fera de fato existe e suas capacidades não são mitos. Casey, a única sobrevivente, terá de seguir em frente com sua vida, sabendo que Kevin está à solta e planeja fazer novas vítimas. E a grande reviravolta acontece na cena dos créditos finais, em que pessoas em uma lanchonete assistem ao jornal local.

A imprensa da cidade chama Kevin de “A Horda”, por suas múltiplas personalidades. E um dos telespectadores da lanchonete é ninguém menos que David Dunn, protagonista de Corpo Fechado. Nesse sentido, Fragmentado trata-se da história de origem de um vilão.

"Ele crê que o tempo dos humanos comuns acabou. Somente através da dor você pode alcançar sua grandeza. Os afligidos são os mais evoluídos"
 

A conexão

Em Vidro, David ficará de frente com a Fera (Divulgação)

Em momento algum Fragmentado foi vendido como a continuação de Corpo Fechado. A informação foi guardada de modo sigiloso e gerou muitas expectativas no público. A breve cena na lanchonete levou os fãs de Shyamalan ao delírio, pois estava claro que algo grande viria a seguir. Vidro encerra a jornada iniciada há quase vinte anos. Infelizmente, Shyamalan já decepcionou algumas vezes em sua carreira.

Embora as críticas a Vidro estejam sendo bastante divididas (mais para o lado negativo), o que pode ser preocupante, será maravilhoso ver o encontro de todos esses personagens e o cruzamento de suas narrativas. Em painel na CCXP 2018, Shyamalan disse que demorou a fazer a sequência de Corpo Fechado por questões comerciais, por pensar que o enredo não conquistaria a grande massa. Com o sucesso do gênero no cinema, conclui-se que Vidro está saindo na melhor época possível. Está na hora do herói indestrutível caçar o inimigo animalesco. Pode não ser o que as pessoas estão acostumadas ou querem assistir, mas com certeza M. Night Shyamalan já deixou seu traço na Era de Ouro dos heróis.

Corpo Fechado está disponível na Netflix. Vidro estreia no Brasil em 17 de janeiro.

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