Uma reflexão sobre Okja
Por Bia Navarro
O novo filme da Netflix, Okja, veio mostrar a
outra perspectiva daquilo que é mais comido pela sociedade ocidental: carne. A
crítica começa desde o seu início, quando mostrada a persuasão da indústria
alimentícia, por meio da sua fala megalomaníaca, sensacionalista e mentirosa
sobre seus produtos. Okja e mais centenas de sua espécie foram criadas como
forma de se obter uma maior quantidade de carne para os humanos consumirem.
“Grande, gostosa e não transgênica”, a carne seria retirada sem a necessidade
de sua morte, sustentando até mesmo a ideia de solução à fome mundial. Mas
Okja, aquele ser entre todos os outros, não era qualquer uma. Ela foi criada
com nome, com casa, com boa comida, com amor, com liberdade.
Era diferente, ela é família também. E como tal,
perambulava pela floresta coreana com Mija, a neta do fazendeiro para o qual
Okja fora designada. Ao contrário da neta, ele sabia a real finalidade de
cuidar dela. Basicamente, a empresa que criou os “superporcos” como Okja
distribuiu animais para diferentes fazendeiros ao redor do globo, a fim de
decidir a melhor forma de engordá-los. Então, como sua rotina era natural, o
animalzinho logo se tornou um ser muito, muito grande. Ela viu o lado bom da
vida: explorou, comeu frutas e peixes e descansou muito, até que chegou a hora
dela partir. A menina não ficou nada feliz com isso.
Afinal, é muito mais fácil falar que você gosta
de animais quando se tem um cachorro, um gato, ou qualquer outro bicho
doméstico. Esse filme mostra que, na verdade, a maioria das pessoas gostam
mesmo é de pets. Mas e quando aquilo
que você come é transformado naquilo que você cria? Fica mais difícil de sentir
o tempero na boca. Em contrapartida, é mais fácil você se sentir mal se seu
bichinho é machucado, forçado à reprodução, ficar enfurnado com outros muitos
esperando a morte. É mais fácil você ver o prato feito do que fazê-lo. Mija
pôde ver no olho dos outros animais que eles sentiam e sabiam o que ia
acontecer com eles mesmos, e é isso o que muita gente não sabe ou prefere ignorar.
Os restaurantes são felizes, alegres e espalhafatosos. O abatedouro é um lugar
feio, de tristeza, de sofrimento e de silêncio.
Portanto, a película expõe a exploração humana e
a voz daqueles que lutam por aqueles que não podem falar. Existem pessoas que
se importam, que querem ver e fazer mudança, e o filme mostra que eles não são
perfeitos, mas que possuem empatia e procuram colocar a vida e o amor como
prioridade, ao invés de um bom paladar. O final é tocante, sincero e real, o
que eu, particularmente, gostei muito. O filme se refere à indústria, às
pessoas, ao indiferente. Mas e você? Já parou para pensar se está com tanta
fome assim?
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