Christopher Nolan: gênio incompreendido ou apenas um bom diretor?

Por Leonardo Figueiredo e P.H. Dias

Na última quinta-feira (27/07) estreou o mais recente filme de Christopher Nolan, Dunkirk, curiosamente a primeira obra inspirada em eventos reais que o diretor conduziu. Considerado por muitos um gênio e exímio diretor – ao ponto de criarem a expressão “In Nolan We Trust” – e também um profissional que aos poucos foi se tornando soberbo, fica o questionamento: ele é um prodígio incompreendido, ou apenas um bom cineasta com boas ideias?

Christopher Nolan é um dos diretores mais bem sucedidos dentro de Hollywood na atualidade, porém isso não começou por acaso; no seu início de carreira ele teve que provar seu valor com produções menores, com mais liberdade criativa comparada a que ele não teria em qualquer estúdio de cinema. O seu primeiro projeto foi em 1998, com um orçamento limitadíssimo e amigos cuidando da produção. Nolan fez um suspense chamado Following e, a partir daí, o sucesso foi imediato: o longa passou em vários festivais e ganhou alguns prêmios.

No entanto, foi no ano de 2000 que ele apareceu para a indústria do cinema lançando Amnésia (Memento), no qual ele e seu irmão, Jonathan Nolan, (colaborador frequente em suas obras) escreveram um roteiro sobre um homem que tem amnésia anterógrada e vai à procura de uma pessoa que supostamente matou sua mulher. Sendo assim, Christopher e Jonathan constroem uma trama invertida das linhas temporais convencionais, dando mais um ar de criatividade e talento que o jovem cineasta tinha em suas mãos.

Com o sucesso do filme, veio o reconhecimento do público e da crítica, que acharam a história muito original. Em seguida, vieram vários festivais importantes como o de Veneza e indicações ao Oscar e Globo de Ouro de Melhor Roteiro. Daí em diante, seu nome foi colocado em projetos de estúdios mais consagrados em Hollywood e, em 2002, veio o primeiro deles: Insônia (Insomnia), uma refilmagem de um filme norueguês de mesmo nome com a participação de Al Pacino, Robin Williams e Hilary Swank. Com Steven Sodebergh na produção, o filme foi bem nas críticas ainda que não tenha concorrido a prêmios como o anterior. 

O respeito mundial surge 

Em seus primeiros filmes, era óbvio constatar que Nolan tinha potencial. Mas talvez nem ele acreditasse que sua ascensão pudesse vir tão rapidamente. Devido ao seu interesse por Batman e a ideia de trabalhar o personagem sob um prisma mais realístico e sombrio, Batman Begins nasceu em 2005, com Christian Bale interpretando Bruce Wayne. No ano seguinte chegou O Grande Truque, inspirado em um romance de Christopher Priest, que narra a disputa entre dois mágicos do século XIX. Ambas as produções foram indicadas ao Oscar de Melhor Fotografia.

Contudo, foi em 2008 que o nome de Christopher Nolan rodou o mundo e o público de todos os países pôde contemplar seu talento. Batman – O Cavaleiro das Trevas surpreendeu em todos os sentidos e é considerado o melhor filme de herói já feito. Com oito indicações ao Oscar, ganhando em duas categorias (Uma para o Coringa de Heath Ledger), o conceito de Nolan atingiu o apogeu dentro da Warner. A partir de agora ele teria carta branca para fazer o que quisesse. 

Trailer de Batman - O Cavaleiro das Trevas:

Em 2010, veio A Origem, estrelado por Leonardo DiCaprio, que conta a história de um grupo especialistas que desejam invadir sonhos para extrair informações. Aqui, Nolan explorou todos os aspectos técnicos que conseguiu, permitindo que o filme ganhasse 5 Oscars. De modo intrigante, A Origem foi indicado a Melhor Filme e não a Melhor Diretor, como se a Academia estivesse relutante em reconhecer a destreza de Nolan. 2012 foi o ano que o cineasta encerrou a trilogia de Batman, de maneira épica e certeira, mais uma vez alcançando a marca de 1 bilhão na bilheteria mundial. Ele participou da produção de O Homem de Aço e logo em seguida, em 2014, levou às telonas Interestelar, sua primeira ficção-científica que se passa em um futuro em que é preciso encontrar um novo planeta para a humanidade habitar. O filme recebeu 5 indicações ao Oscar e ganhou na categoria Efeitos Visuais.

Trailer de A Origem:

Trailer de Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge:

Trailer de Interestelar:

O que vem a seguir?

Muitos filmes de Christopher Nolan são discutidos por possuírem frases de efeito e explicações exacerbadas e complexas. Entretanto, o fato é que o cineasta já foi elogiado por vários acadêmicos e profissionais da área, entre eles James Cameron, e em 2015 entrou na lista das “100 pessoas mais influentes do mundo” da revista Time. No Reino Unido, ele já chegou a ser o segundo diretor mais estudado, ficando atrás somente de Quentin Tarantino.

Algo interessante a respeito de Nolan, é que ele se recusa a fazer filmes em 3D, pois é fã de formatos antigos (películas em 70mm) e é a favor da preservação de obras clássicas. É justamente em diretores de épocas passadas que Nolan encontra sua inspiração, como Stanley Kubrick e Ridley Scott. Portanto, qual a conclusão da questão posta no início deste texto? Será que ainda resta algum reconhecimento para Nolan obter?

Dunkirk é um drama que conta apenas um episódio ocorrido na Segunda Guerra Mundial, conhecido como Operação Dínamo, em que soldados tiveram que ser resgatados por civis. É o filme mais curto de Nolan (menos de duas horas), mas que já está arrancando várias críticas positivas. Há quem diga que é a obra prima do diretor. Como a Academia adora películas inspiradas em histórias reais, sobretudo filmes de guerra, será que agora Nolan tem a sorte de ser indicado a Melhor Diretor? Era esta a obra que faltava para o cineasta segurar a tão estimada estatueta dourada? Se é um gênio ou simplesmente um bom diretor, talvez este não seja o momento adequado para definir. Christopher Nolan ainda tem muitos trabalhos pela frente. Vamos aguardar o que vem a seguir. 

Trailer de Dunkirk: