Três Anúncios para um Crime - Crítica
Por Léo Figueiredo
Já faz muito tempo que não é novidade encontrar em Hollywood
roteiros em que a vingança familiar é o centro, seja pai/mãe em busca dos
assassinos do filho/filha, ou vice-versa. Até a perda de um animal já foi mote
para chacina, caso de De Volta ao Jogo (John Wick). Porém, quando o luto é
abordado de maneira criativa e o tema é destrinchado com todas suas facetas
morais, mórbidas e psicológicas saltando na tela como um soco na cara do
público, eis aí uma história que chama a atenção.
E o que impacta logo de início em Três Anúncios para Um Crime é a reação de Mildred Haeys (Frances McDormand), por meio da qual
todo o enredo é impulsionado. Sete meses após sua filha ter sido vítima de um
estupro e ter sido morta no ato, Mildred, insatisfeita com o fato da polícia
não ter encontrado os culpados pelo crime, aluga três outdoors em uma estrada
perto de sua residência.
A mensagem que ela põe neles é forte o bastante para
despertar a atenção do oficial Jason Dixon (Sam Rockwell) e do Delegado Bill Willoughby (Woody Harrelson), assim como de toda a cidade. E apesar das
autoridades insistirem que o caso não pode ser solucionado, a obstinação de
Mildred permanece sólida como uma rocha.
Bill confronta Mildred por causa dos outdoors. |
Três Anúncios para Um
Crime é dirigido e
escrito por Martin McDonagh (de Sete Psicopatas e um Shih Tzu). Curioso:
analisando apenas a cena de abertura, a qual destaca os outdoors, poderia se afirmar que o filme é uma obra
que carrega uma dramaticidade profunda. E ela está ali... De modo incomum. Acostumado
com comédias, aqui McDonagh não isenta o roteiro de ironias e pitadas de humor,
algo que não desvia da temática central nem prejudica o andamento da narrativa.
E, no caso do personagem de Sam Rockwell, o humor é uma ferramenta que ajuda a
revelar traços do seu caráter.
Nesse sentido, o roteiro não enfraquece em momento algum. O
drama guia o percurso e mostra ao espectador os estragos que vêm antes e depois
de uma morte. Apesar de o foco estar em Frances McDormand e sua melancolia por
ter perdido a filha – por sinal, sua atuação está impecável e acompanhar a
volatilidade das suas feições é incrível –, também é abordado o medo de Bill
diante da sua doença e o temperamento nada normal de Jason e seu histórico de
racismo.
Frances McDormand e Sam Rockwell formam a dupla de grandes atuações do filme. Merecem a estatueta dourada. |
Os três “núcleos”, por assim dizer, sustentam bem o filme e o
talentoso elenco também ajuda a manter a qualidade da produção. Todos possuem
um trajeto bem definido no que diz respeito a propósitos e redenção, cada qual
possuindo uma relação íntima com o fim irremediável. Talvez apenas o personagem
de Peter Dinklage fique um pouco
deslocado mediante um roteiro minuciosamente estruturado.
Com um mote inventivo e situações surpreendentes, Três Anúncios para Um Crime tem um tom
de filme independente e provavelmente várias pessoas encarem como
uma simples produção e a esqueçam no decorrer do tempo. No entanto, já ganhou grandes prêmios, o que comprova
seus grandes méritos. E é muito bom saber que a criatividade ainda tem um lugar ao sol.
Três Anúncios Para um Crime recebeu 7 indicações
ao Oscar
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