A esperança é Indie
Por Mônica Pimentel
Clara Campos é uma artista potiguar de indie rock, que faz música de forma totalmente independente. A natalense tem uma mente aberta e recheada de pensamentos positivos. Talvez por isso ela seja tão apaixonada por psicologia e sonha em estudar o curso na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Enquanto caminha devagar e sempre para realizar sua meta, Clara estuda Informática no IFRN Central.
Aos 17 anos, ela é cantora, compositora e produtora autônoma, possuindo dois EPs e um single, contabilizando um total de oito músicas no serviço de streaming Spotify. Fora os diversos covers que ela posta no YouTube desde que começou a compor, ela ainda publicou uma de suas músicas em inglês, cujo título é, ironicamente, em português e se chama “Eu gosto da sua cara”.
Para uma pessoa que não se considera nem um pouco metódica e organizada, Clara tem um cuidado enorme na hora de compor suas músicas. Suas principais inspirações musicais são a cantora Lorde, a banda Bastille e o artista Crywolf. A neozelandesa influenciou além da musicalidade de suas músicas, mas também nos temas delas. Bastille a inspira muito em relação ao seu cuidado na composição, como num processo de lapidação dos versos, quase um parnasianismo com conceito.
Do Crywolf, Clara se apaixonou não somente pelo seu cuidado nas letras, mas também pela padronização de seus álbuns. Cada álbum ambienta uma situação, em que cada música retrata um evento, criando uma ordem linear de acontecimentos. Além disso, ele é um artista independente que produz tudo autonomamente, como a natalense.
Em outubro de 2017, Clara Campos postou pela primeira vez no YouTube um vídeo de uma música autoral, chamada Pedestre. No mês seguinte, ela lançou o EP Arquétipo no Spotify, contendo três faixas. Ele é inspirado nos álbuns narrativos de Crywolf, que representa um ciclo o qual vez ou outra acontece em sua vida. Cada música representa uma etapa da situação que ela passa durante o ciclo. É um modelo que a vida dela eventualmente segue.
Isso é o nome da primeira faixa, a qual é macia e leve, apesar de ter um significado mais reflexivo. Essa canção não foi escrita para alguém em específico, ela tem um viés mais geral. É para todo o relacionamento banalizado, que, muitas vezes, não dá-se importância, e isso diz muito sobre a cantora: ela sabe dar valor ao que tem.
A próxima faixa do Arquétipo é Pedestre, cujo videoclipe autoral é o mais assistido do seu canal no YouTube, com 8.800 visualizações, e a música mais tocada do seu Spotify, com mais de 17.400 streams. Talvez pela fácil identificação com a letra, pela melodia harmoniosa e viciante, pelo mistério de não ser totalmente entendível ou por todas as alternativas já citadas ela seja a canção mais bem-sucedida da cantora. O que pegou a artista de surpresa, já que ela foi escrita numa brincadeira.
Clara admite que a última faixa do EP, Hoje, foi escrita para ela mesma, de acordo com coisas que ela precisava escutar, mas que ninguém nunca lhe disse. Ela fala com orgulho e carinho que esta é uma música ‘só dela’. Além de a poética misteriosa, a excentricidade da letra e um ritmo que embala e contagia qualquer ser vivo que possa escutar, Hoje reflete a esperança de Clara.
Arquétipo reflete a artista de um jeito que ela não pôde se descrever. Logo ela, que admitiu amar falar sobre si mesma. Esse EP é sentimental e é real. Ele tem conteúdo. E, acima de tudo, ele é timidamente autobiográfico. Ele reflete a identidade da sua criadora. Mas Clara conseguiu se mostrar em cada verso e em cada vídeo melhor do que quando fala sobre si mesma.
Os clipes, a capa do extended play e o cabelo da indie eram todos cor-de-rosa e marcaram a era do Arquétipo de um jeito sensacional, identitário e espantosamente independente. Clara, muitas vezes, recebe ajuda de seus amigos quando vai gravar os videoclipes e admite apreciar muito o tempo que passa fazendo isso com a companhia de quem ela gosta.
Porém, não se pode negar a sua autonomia como artista. A potiguar sempre gostou muito de registrar momentos e gravar vídeos de coisas aleatórias, só por gravar. O tempo passa e isso não muda. Ela ainda aprendeu sozinha a editá-los, o que ajudou bastante a ser uma artista mais indie ainda.
Além das músicas e videoclipes, Clara também faz colagens e artes digitais. Muitas de suas postagens no Instagram são imagens manipuladas e coladas por ela mesma. Inclusive, sua tatuagem no braço esquerdo de uma mão segurando um buquê de flores vem de uma colagem que ela fez: como se um prédio estivesse entregando flores a alguém.
O que já diz um pouco sobre a Clara também: ela é uma pessoa urbana, que gosta de ficar na janela de seu prédio observando lá de cima o que acontece lá embaixo; mas que está sempre oferecendo flores a alguém. Não literalmente, mas ela está sempre oferecendo o lado bom das coisas. Como a entrega de flores, que é como uma oferta de paz, um gesto de empatia, cheiroso e vistoso; ainda que ignore o óbvio fato de que elas durarão pouco.
Mesmo estando acostumada a fazer praticamente tudo sozinha, Clara resolveu compor e gravar em parceria com outra cantora potiguar e sua amiga que já participou do The Voice Kids, Mila Marinho. Amarelo é o single escrito pelas artistas em homenagem ao Setembro Amarelo de 2017, mas que só foi publicado em dezembro do mesmo ano, por elas terem decidido a ideia de última hora. Antes tarde do que nunca.
O Setembro Amarelo é uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio, para dar visibilidade à problemática e fomentar o debate em relação à depressão também, consequentemente, que é retratado na música de Clara e Mila. Infelizmente, a música não retratou o tema com a profundidade que ele merece. O que é compreensível, tendo em vista que a composição da Clara é geralmente assim: a letra é mais confusa para não ser tão direta a ponto de qualquer pessoa facilmente entender seu significado. Provavelmente, uma profundidade maior da letra seria a melhor estratégia para dignificar a campanha a qual elas quiseram representar, já que o suicídio e a depressão são cargas de pesadas falácias populares e preconceitos. Ao ficar na superfície do problema, as cantoras podem ter deixado um pouco de espaço para ideias contrárias ao que elas queriam passar como, por exemplo, que o suicídio é resultado de um dia ruim isoladamente.
Clara gostou bastante de ter escrito uma música em parceria com outra compositora, principalmente porque ela se interessa enormemente pela sistemática da mente de outras pessoas. Entender a formação de ideias na cabeça de outra pessoa é fascinante para a potiguar. Logo ela, que passa boa parte de seu tempo livre lendo artigos de psicologia.
Além de curiosamente apreciar artigos científicos sobre a psique humana, a indie também passa tempo relevante assistindo vídeos no canal no YouTube chamado Vox, que aborda temáticas excêntricas, porém interessantes. Fotografar, desenhar e ler são outras das coisas que Clara gosta de passar o tempo fazendo.
Quando a indie muda a tonalidade do cabelo de rosa para azul, inicia-se uma nova era, e por consequência, vem um novo EP. Este se chama Café e Cravo e assim é denominado porque na época em que compunha as músicas, Clara estava viciada em café gelado, visto que estava no verão e a Cidade do Sol leva essa estação muito a sério. E o cravo, por sua vez, remete ao arejamento.
Esse novo extended play traz algumas novidades mas nem tantas. O ukulele e o teclado são introduzidos em suas músicas, porém algumas delas parecem estar na era errada. Parecem demais com as canções do Arquétipo. Dessa vez, entretanto, faixas foram escritas com temas mais pontuais. Como ela mesma disse, esse é um EP menos conceitual. Além disso, a capa do Café e Cravo não foi feita por Clara, mas por seu amigo Antônio Vinícius.
0512 é a primeira faixa do EP e retrata especificamente um dia especial em que passou com um de seus melhores amigos. A compositora admite que já enjoou de tanto escutar essa música, mas ela decerto merece o abuso do replay. Sua musicalidade remete o primeiro EP, mas nem por isso ela deixa de espalhar uma certa paz a ouvidos alheios.
A próxima faixa é a preferida do Café e Cravo da cantora e se chama Festa de Fim do Mundo. É a primeira música mais lenta da artista e pode até remeter à melancolia. Sua musicalidade é espetacular e contagiante, mesmo que não seja animada.
A terceira faixa Dezembro é uma canção, segundo Clara, “muito verdadeira”, a qual ela queria poder dizer que não gosta, mas seria mentira. Sua musicalidade relembra o primeiro EP no geral, e sua letra remete especificamente à Hoje.
A última faixa se chama Ciano e é a música mais dançante e animada do Café e Cravo. É, provavelmente, a letra mais abrangente do EP, mas que transmite sua mensagem de forma eficiente. Essa é a única música até agora que teve o clipe produzido por alguém além de Clara, este foi o trabalho de um grupo de estudantes. Porém, a cantora afirma que ainda fará sua própria versão, como de costume.
Para Campos, música é um hobbie, não um futuro. Ela admite se divertir muito compondo, produzindo e até se apresentando, mas não é o seu maior sonho tornar isso uma carreira. Ela, entretanto, admite que não deixaria oportunidades passarem. Tanto é que ela já está em processo de criação do seu terceiro EP em conjunto com o Sopro, incubadora do IFRN - Cidade Alta.
Apesar de sua obsessão em dizer que não sabe das coisas, Clara é movida pelo que acredita. Constantemente, ela repete que tudo acontece por um motivo e isso é evidente quando ela se autodenomina “a louca das coincidências”. Mas ela é uma menina de riso fácil, positiva, esperançosa e genuína. Ela é um livro aberto, de mente recheada e alma colorida. Sua esperança é exalada pelos seus poros e isso a ajuda a fazer diferença não só no cenário musical potiguar, mas nas vidas de quem cativa. A lua tatuada em seu pulso só confirma a sua tranquilidade diante das angústias por que passa: relembra-na de que apesar de as coisas não terem saído como planejadas, ainda está tudo bem. Um ícone sensato e inspirador desse merece ser conhecido e reconhecido, como foi a proposta deste perfil especial.
A seguir, confira o clipe de Pedestre:
A seguir, confira o clipe de Pedestre:
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