Cart - Crítica
Emocionante e todos os sinônimos possíveis para a palavra continuam não sendo bons o suficiente para elogiá-lo
Por Mariana Batista
Emocionante, provavelmente, não seja uma palavra boa o bastante para descrever Cart. O filme é relativamente antigo, estreou em sete de setembro de 2014, porém, não é como se esse fato diminuísse sua relevância. Com o enredo inspirado pelo caso da rede de supermercados sul-coreana que demitiu vários de seus trabalhadores temporários – em sua maioria, mulheres – a fim de não atender à lei que exigia a regulamentação deles, Cart tece uma linha narrativa dramática bordada por uma forte crítica social.
O grande enfoque do filme é uma greve trabalhista liderada por mulheres que precisam trabalhar para sustentar seus filhos e as consequências de tal ato dentro de suas vidas. Sendo pioneiras tanto na criação de uma cooperativa dos trabalhadores dentro da empresa quanto na iniciativa de greve, as trabalhadoras são colocadas em destaque durante todo o filme. O intuito é mostrar a simplicidade do movimento e contrariar o estereótipo equivocado de que um movimento trabalhista é apenas histeria coletiva e, aparentemente, sem motivo.
A cena de maior destaque é aquela em que as mulheres ocupam o espaço do mercado. Uma das protagonistas, Lee Hyemi, leva o próprio filho para dentro do manifesto pacífico por não ter com quem deixá-lo. Dentro do cenário, é possível ver a fragilidade daquelas mulheres, o retrato social da desigualdade em que vivem e pela qual lutam contra, além dos sentimentos de compaixão, amizade e empoderamento que se ali se instauram; mostrando como um movimento feminista/trabalhista ocorre quando se está inserido dentro dele e através da ótica daqueles que ali se encontram.
O retrato perfeito do empoderamento daquelas mulheres está em outra protagonista, Han Sunhee. Funcionária “modelo” que trabalhou por cinco anos a fim de conseguir um emprego fixo – o tempo aceitável seria de apenas dois anos – e, de repente, viu as portas da oportunidade se fecharem assim que pôde colocar as mãos no trinco. Sunhee se vê, literalmente, jogada dentro de uma luta da qual não se sente capaz defender e, por este motivo, se vê cada vez mais ausente na vida dos filhos, principalmente do mais velho, Choi Taeyoung. A construção da personagem e de sua relação com o filho mais velho em decorrência das consequências da greve faz com que o desenvolvimento da trama a partir deste contexto seja algo realmente admirável de se apreciar.
Em contraste ao movimento pacífico, o posicionamento violento dos donos do mercado é algo chocante. A crítica à empresa que visa apenas o próprio lucro se mostra no posicionamento elitista do grupo. As funcionárias são ignoradas, o movimento é tido como um manifesto incoerente e o posicionamento machista pode ser visto a todo o momento – principalmente no modo como os supervisores olham para as trabalhadoras durante a primeira, e aparentemente única, reunião que tiveram. Isso sem contar os ataques físicos à greve.
“The Mart”, empresa dona do mercado. Foto: Reprodução |
“Fazer as coisas conforme o desejo dos trabalhadores, isso é uma empresa?”
A trilha sonora do filme é absolutamente fantástica. A faixa título Crying Out, cantada por Do Kyungsoo, vocalista principal do boy-group sul coreano EXO e ator que interpreta o jovem Choi Taeyoung, fala sobre o cotidiano cansativo e explorador das trabalhadoras, a união e empoderamento que elas conseguiram através de seu manifesto, e o grito de protesto que constantemente tende a ser silenciado. Em suma, pode-se dizer que Crying Out é a representação musical de uma breve frase de Sunhee: “Nós somente queremos a sua atenção para o que estamos gritando. Por favor, ouçam nossos corações. Nós não desejamos machucar ninguém. Nós só queremos ser tratados como humanos”.
Algo que deixa a desejar é a atuação do único homem que aderiu à greve, o gerente Dong Joon. O personagem parece levemente disperso em seu papel, apesar de sua relevância dentro do filme e, subitamente, torna-se presidente da cooperativa anteriormente liderada pelas duas protagonistas, Hyemi e Sunhee. Apesar de ser importante para o enredo, o personagem não foi apresentado de forma tão coerente quanto às demais protagonistas.
Apesar disso, Cart é um bom filme com um ótimo roteiro e uma trilha sonora que complementa a crítica e a mensagem que o filme pretende passar. Emocionante e todos os sinônimos possíveis para a palavra continuam não sendo bons o suficiente para elogiá-lo.
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