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BLVESMAN não é sobre Blues, é sobre Negritude

“Tudo o que era preto era do demônio, e depois virou branco e foi aceito, eu vou chamar de Blues” 

*Por Ylanna Pires 

Capa do álbum "BLVESMAN" (Foto: Reprodução)

O estilo agressivamente reflexivo abordado pelo rapper baiano, Baco Exu do Blues em suas canções, se faz presente da maneira mais poética e minimamente pensada em seu novo projeto “BLVESMAN”; que não é sobre blues, e não é sobre música apenas. É sobre identidade.

O disco, que conta com 10 faixas, traz para além de todo um preciosismo visual, conhecido desde ESÚ, ou de Sulicídio  como não lembrar da capa com o Sudeste sangrando, na música que abriu os caminhos do hype para o poeta baiano  uma mensagem sobre protagonismo negro, devaneios amorosos e conflitos humanos. Com o teor agonizante tão forte quanto no interlúdio “En tu mira” e ainda mais envolvente quanto o da sua love song às avessas mais estourada: “Te amo, disgraça”. 

Ao longo de todo álbum do cantor, é perceptível a sua facilidade em linkar temas extremamente políticos e sociais como o racismo, o lugar do negro na sociedade, ou ainda, o Blues como fator impulsionante do primeiro grito de liberdade e de promoção da ascensão financeira para artistas negros. Com assuntos tão próprios da psiqué e do sentimentalismo humano, como o amor - com todas as suas nuances e imperfeições , as inseguranças e todas as outras “nóias” que envolvem as relações interpessoais. 

Bom, deve ser para sintetizar todas essas ideias, que o disco leva o nome da faixa número 1: Bluesman. E é um grito, não pelas repentinas mudanças de flow em algumas faixas, ou do Atabaque retumbante em outras, mas sim porque essa canção em específico, é um “combo” de toda contracultura que um rapper nordestino - de sotaque carregado de axé e regionalismo  preto e de origem pobre, representa para uma cena que há muito tempo vinha se desvinculando do seu propósito original. 

Rapper Baco Exu do Blues (Foto: Reprodução)

A música tema deste review carrega em cada linha de seus versos a crítica ferrenha a não-compreensão do Jazz e do Blues como movimentos da cultura negra e artifícios da manutenção da identidade afro. Além da tentativa de embranquecimento e apropriação daquilo que foi um divisor de águas para a civilização, como ilustra o trecho que outra canção, “BB King”: 

1903. A primeira vez que um homem branco observou um homem negro, não como um animal agressivo ou força braçal desprovida de inteligência. Desta vez percebe-se o talento, a criatividade, a música!

Além disso, o explícito dedo na cara que são os apontamentos contra as estruturas sociais de permanência da marginalização negra: crime, drogas, perseguição e cadeia. Atrelada a essas questões, a releitura do Evangelho, feita ironicamente pelo artista de nome pagão ao enfatizar a hipocrisia dos estereótipos discriminatórios, faz com que, quem escute "BLVSMAN", seja emergido nas contradições que muitas vezes sustenta, sem nem perceber. 

Sem massagem, Baco e sua obra vieram para explodir a Casa Grande, devolver as chicotadas e abrir os caminhos do rap. Por isso é Exú, por isso é Blues. 


Ouça BLUVSMAN:

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