Origins - o novo álbum do Imagine Dragons
Por Ana Flávia Sanção
Imagine Dragons lançou o quarto álbum de sua carreira, que completou 10 anos em 2018. Origins, com capa verde e florida, veio logo após um pouco mais de 1 ano do lançamento do terceiro CD, Evolve, para a surpresa de todos – e às vezes penso que dos próprios integrantes da banda.
Após uma turnê mundial que juntou fã de cinco continentes (com uma passagem singela e até tímida pelo Brasil, com um show no Lollapalooza e um sideshow no Rio de Janeiro) todos pensavam que banda sentaria e descansaria. Afinal, o ano havia sido cheio para metade dos integrantes – Dan Reynolds, vocalista, passou pelo divórcio e Wayne Sermon, guitarrista, dava "olá!" para sua terceira filhinha.
Origins então veio como um meteoro após o lançamento de dois singles autônomos – Natural e Born to Be Yours –, totalmente inesperado e curioso. Pelo lançamento dos singles anteriores, a primeira visão às cegas era de que o CD seria algo parecido com uma junção do estilo de Smoke + Mirrors e Evolve.
E talvez seja. E talvez não.
Natural abre o CD. É forte, algo que relembra os tempos antigos, com letras obscuras e um videoclipe que muitos dos fãs até hoje se perguntam qual é o significado por trás. A bateria e a guitarra na música são impecáveis – e o grito rasgado de Dan na ponte nos faz pensar até onde ele consegue esticar sua capacidade vocal.
Em seguida, há um choque de estilo. Boomerang é a segunda música e traz uma batida mais eletrônica ou pop, depende do ponto de vista de quem analisa. O início promete, mas da ponte para o fim da música decepcionam um pouco – não há letra, só a repetição de versos já ditos e a palavra boomerang várias vezes. Lembra uma irmã mais tímida de Thunder.
Machine, lançada como single dias antes do álbum, tem uma batida pesada e nos faz sentir como se estivéssemos indo à guerra. “When you’re gonna see I am not for sale?” desbrava, aos gritos, Dan Reynolds e o coral backing vocal dos outros integrantes. É boa. Gênero típico do Imagine Dragons, um pouco enfeitada, mas cumpre o papel. Ponto forte é o solo de guitarra incrível – e o único em destaque do CD inteiro.
Logo depois, Cool Out vem para ser uma jam de verão. Pop, com toques de R&B, tem um começo que lembra o teclado da época sagrada de Night Visions. A letra é um pouco confusa, pois a história que conta é sobre um término e até então não sei se dizer “Cool Out” seria a melhor forma de dispensar alguém.
Seguimos então com a balada eletrônica produzida por Jorgen Odegard, responsável por três remixes em CDs anteriors, Bad Liar, lançada de surpresa três dias antes de Origins sair oficialmente. Bad Liar é uma das mais ricas em termos de letras, mas o eletrônico deixou os fãs divididos. Há quem goste, há quem diga que foi exagero. Na minha opinião, a versão ao vivo deveria ter sido gravada no estúdio e a eletrônica deixada como faixa extra do Deluxe.
West Coast se destaca pelo seu folk meio country. O ritmo lembra The Lumineers e a música é uma das melhores de Origins, justamente pela limpeza do som. Zero, a seguir, não encaixa muito bem no conceito do álbum, especialmente por ser da trilha sonora de Detona Ralph. Ainda assim, a letra é profunda e triste, com reflexões sobre inferioridade, em contraste com o ritmo rápido e agitado.
Bullet in a Gun começa estranha, mas o toque tem algo de nostálgico e o ritmo da batida faz com que você balance ao som da música sem perceber. Ela trata da fama e de como muitos artistas são vendidos ou se sentem vendidos. Mais gritaria na ponte com “SELL OUT! SELL OUT! SELL OUT!”. É uma música que divide opinião, mas no fim é boa. Uma das poucas que não trata de amor ou relacionamento do CD.
Digital inicia como prima de West Coast, mas então uma mistura de sonoridades confusas se une e depois some no refrão, para dar uma melodia mais leve. Talvez o “We are the face of the future” tenha feito os Dragons viajarem um pouco demais pro futuro na hora de produzir a música. É do tipo que depois de escutada 20 vezes você começa a gostar e a não querer rir. Tem uma mensagem forte, mas ainda não consegue se comparar com hinos eternos como Radioactive.
Only é a pior aposta de todas. Começa boa e podemos escutar as baterias de Daniel Platzman funcionando perfeitamente – um diferencial da música dentre as outras de Origins. Mas então um espirito de the Chainsmokers ou Kygo toma conta no refrão e simplesmente... destrói. As letras também não ajudam muito.
Stuck, a seguinte, é um R&B. Romântica e, em certos aspectos, romântica demais. A música é boa, mas é basicamente a mesma coisa do início ao fim. Para quem gosta de músicas mais lentas, dá para o gasto. Para quem não, talvez seja aquela que será pulada na playlist aleatória.
Love é uma boa aposta e já chega mostrando que está ali para ficar. Com as letras que se repetem um pouco também – como muitas outras do álbum – ela passa uma mensagem carinhosa sobre amor e humanidade. A letra é consideravelmente boa e temos a participação especial da filha mais velha de Dan Reynolds, Arrow, no trecho “we are one”.
Birds e Burn Out seguem a mesma linha de música romântica lenta que Stuck. Não são músicas ruins, mas paradas. As letras se parecem um pouco, mas ainda assim mostram muito da voz grossa, mas, ao mesmo tempo, delicada, de Dan. Burn Out se destaca mais, por ter traços do Evolve e umas batidas nostálgicas dos primeiros trabalhos da banda.
Real Life é a música para os fãs nostálgicos. Grande referência ao Night Visions na melodia e na letra, apesar de ter efeitos leves que remetem ao Evolve. A letra fala sobre confortar alguém – mesmo que aquele conforto não seja o melhor de todos, é o que o outro tem a oferecer. É uma das melhores – se não a melhor – de Origins. Fecha o álbum em grande estilo.
O álbum é bom. Desagradou alguns fãs e assustou outros de primeira. Em certos aspectos, é quase um tiro no escuro dentro de uma mudança que talvez seja perigosa quando se está pondo em risco a qualidade de escrita das letras. Dentre os quatro álbuns lançados, Origins se mostra sendo o álbum mais pobre liricamente. As letras – não que sejam ruins – são mais minimalistas e mais repetitivas – coisa que já víamos em Evolve, mas não em todas – e isso atrapalha no julgamento do produto completo.
As batidas também são arriscadas e às vezes poluídas em alguns aspectos. Poderia ter sido usado menos efeitos e menos autotune na voz de Dan Reynolds, além de terem ressaltado mais os instrumentos dos outros participantes. Em Only, principalmente no refrão, parece que estamos escutando a uma colaboração de Dan Reynolds com algum DJ da moda.
Muito foi dito sobre a mudança, mas no fim Imagine Dragons se classifica como banda sem gênero musical. Acho válido experimentar diferentes gêneros e arranjos, mas deve haver certo cuidado para que não fuja da proposta e da ideologia musical da banda. A mensagem passada é diferente, às vezes melancólica, às vezes mais positiva, mas mostra muito do momento da vida deles. Com certeza foi produzida com muito carinho por todos eles. Resta esperar quais serão os próximos singles e futuros CDs. Mas a mensagem de Zero deixa claro a opinião da banda sobre o criticismo da indústria e os estereotipos: I don’t wanna hear about what to do. I don’t wanna do it just to do it for you.*
Escute Origins:
*Eu não quero escutar sobre o que devo fazer. Eu não quero fazer só para fazer para você.
Parabéns menina pela crítica, você foi bem sincera em relacre ao álbum e realmente foi certo o que você disse em relação aos fãs se assustarem
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