Bohemian Rhapsody: um filme para celebrar o Queen e o Freddie Mercury
Por Marcelha Pereira
Ator Rami Malek como Freddie Mercury |
Provavelmente você já escutou We are the Champions em algum momento da sua vida e já cantou We Will Rock You com seus amigos na sala de aula, todos batendo pés e mãos sincronizadamente. Caso não, você é uma pessoa mais jovem, mas ainda assim deve ter assistido Esquadrão Suicida e vibrado ao som de Bohemian Rhapsody. E foi ela, de todas as músicas emblemáticas do Queen, a escolhida para dar nome ao filme sobre a vida de Freddie Mercury, que caminha junto com a história da banda, sob direção de Bryan Singer.
Duas batidas com o pé, uma com a mão. Duas batidas com o pé, uma com a mão. Duas batidas com o pé, uma com a mão. Sing it. We Will Rock You! Surgida nos anos 70, ninguém imaginava que a banda britânica Queen se firmaria no imaginário do rock and roll, mas ela fez seu nome e grande parte do sucesso veio por causa do modo inovador como construíam suas músicas e agiam nos palcos. Freddie Mercury, como vocalista, era o centro do show em todas as apresentações e, como ninguém, sabia encantar e envolver o público em meio aos seus rodopios e potência vocal sem igual.
Suas roupas, seu modo de falar, de cantar, de dançar e até andar eram marcantes e dificilmente voltaremos a ter algum cantor com a mesma presença que Freddie tinha. Por esse motivo, talvez, tenha sido um desafio tão grande produzir um filme sobre sua vida. Rami Malek, que interpreta o astro do rock, consegue trazer um bom trabalho em sua atuação. O ator reproduz com exatidão os trejeitos, chegando a chocar por ficar extremamente parecido com o cantor em alguns momentos. O único ponto negativo de sua caracterização é que ele já possui os dentes protuberantes e, em vez de usarem a característica física já presente nele a favor, fizeram questão de adicionar uma prótese que deixou os dentes grandes demais, fazendo com que Rami parecesse caricato.
À esquerda, Rami Malek. À direita, Freddie Mercury |
A narrativa é apressada, o que pode ser justificado pela quantidade de informações a serem dadas sobre a vida pessoal de Freddie Mercury, além da formação da banda e sua fase até o estrelato. Porém, um erro notável e que traz destaque negativo é a falta aprofundamento em partes-chave. O roteiro ao mesmo tempo que acerta ao retratar os conflitos internos de Mercury através da construção das cenas, peca ao não dar aprofundamento necessário no período obscuro pelo qual o cantor passou - quando ele, ao precisar lidar com a solidão, sua pior inimiga, acaba se escondendo entre as festas, bebidas e drogas.
O roteiro ganha em grande parte por causa de Rami Malek, que transmite muito bem as emoções por meio de suas caras e bocas. O ator soube conduzir a narrativa por meio de suas expressões ao mostrar os conflitos que Freddie passava ao trair Mary Austin com homens, ao mesmo tempo em que se viu com ciúmes dela quando, após algum tempo desde a separação, ela começou a namorar. Ele exerce um bom papel em outras cenas, também, ao expressar a relação de Freddie com sua família ou quando começa a perceber que há algo de errado consigo e vai ao hospital, além da cena de preparação de sua voz para o Live Aid.
Contudo, Rami comete um deslize na cena do show do Live Aid. Quem é fã de Queen, já assistiu incontáveis vezes ao show da banda no estádio de Wembley, em 13 de julho de 1985. Sabe que é um show marcante e que Freddie estava a todo vapor. Se suas apresentações já eram memoráveis, a do Live Aid entrou para a história naquele ano. No filme, o ator parece mecanizado nesse momento. E, como parte do encerramento da obra cinematográfica, deixa a desejar.
A gravação do show era o momento mais esperado, já que as notícias que saíram sobre o filme falavam que a música Bohemian Rhapsody havia sido gravada misturando a voz de Rami Malek e Marc Martel, cantor famoso por fazer cover de músicas do Queen. Havia expectativa de ser uma das cenas mais marcantes, já que era óbvio que a versão de Bohemian feita com Malek apareceria nesse momento, mas o lip sync quebrou um pouco a experiência do momento. Ademais, a direção de arte e fotografia foi esplêndida em muitos momentos cuidadosamente pensada e executada, inclusive nos momentos que antecedem a apresentação do Live Aid, mas há um trecho específico nessa cena em que a câmera passa por baixo do Freddie Mercury e foca no Brian May que não há justificativa para terem feito o movimento, deixando solto.
Houveram, também, alterações na ordem cronológica para que o filme ficasse mais fechado. Como o Live Aid é um dos shows mais marcantes do Queen, o objetivo era encerrar a produção com a apresentação da banda no festival, então o roteiro antecipou a revelação do Freddie para a banda sobre ter AIDS. No filme, ele conta antes do show, porém, o cantor só revelou a doença em 1987, dois anos depois. O mesmo segue com a separação dele com a Mary Austin: mostram que os dois se separaram depois do Rock in Rio, com Freddie mostrando a ela o público cantando Love of My Life, mas o término aconteceu anos antes (acredita-se que em meados dos anos de 1973 e 74).
John Deacon (Joseph Mazello), Roger Taylor (Ben Hardy), Freddie Mercury (Rami Malek) e Brian May (Gwilym Lee) |
Outras mudanças foram feitas para deixarem a adaptação cinematográfica atraente, como o modo como Freddie, Roger Taylor (Ben Hardy) e Brian May (Gwilym Lee) se conheceram. Não foi com Mercury indo atrás deles para se apresentar após um show, ele já era amigo deles e chegaram a morar juntos antes de Freddie entrar na banda Smile e transformá-la em Queen.
E falando sobre Roger e Brian, é preciso elogiar a atuação de Ben e Gwilym, além do ator Joseph Mazello – que interpretou o quarto Queen, John Deacon. Eles, apesar do filme ser focado na figura do Freddie, tiveram importante participação em retratar a relação de família que eles tinham e mostrar que todos os membros participavam de cada processo de construção das músicas. Queen só foi grande e conquistou todo o mundo porque foi construído por quatro integrantes, apesar de só ter tido lugar para uma rainha histérica. Vale a pena assistir Bohemian Rhapsody, principalmente se você é fã. É um filme para chorar e cantar junto, celebrar a existência do Queen e de Freddie Mercury.
The show must go on!
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