Novidades

Bingo: O Rei das Manhãs - Crítica

Quando vida e arte se misturam

Por PH Dias 


Daniel Rezende estreia bem no seu primeiro longa-metragem, dando o ritmo necessário para um personagem com muitas camadas. Vale ressaltar, no entanto, que o diretor é um grande montador dentro do cinema brasileiro, tendo trabalhado em projetos como Cidade de Deus, Tropa de Elite, Tropa de Elite 2. Por isso, o que ele sabe é usado - como movimentos de câmera mais rápidos - seja para dinamizar o filme em algumas cenas de maior ação (planos-sequência muito bem filmados), seja em partes em que a câmera está mais calma, oferecendo um tom de amenidade para os personagens. Ou seja, a montagem, feita por Marcio Hashimoto, e o ritmo são bem-sucedidos quanto à finalidade do filme.

O roteiro escrito por Luiz Bolognesi (Como nossos pais) explora bem a personalidade de Gustavo Mendes/Bingo (Vladimir Brichta), desde um cara amoroso com seu filho, Gabriel Mendes (Cauã Martins), junto também com sua mãe, Marta Mendes (Ana Lúcia Torre). Até um cara que tinha problemas com alcoolismo e drogas, somado a uma pessoa que dava tudo de si para realizar um trabalho bem feito e tentar ser reconhecido por ele, já que essa ideia é que guia o filme na metade de sua exibição, desenvolvendo ainda mais o personagem de Gustavo. Todas essas personalidades são muito bem explanadas e entendidas a qualquer pessoa que possa assistir ao filme.


Como o filme se passa na década de 1980, a direção de arte, feita por Cassio Amarante, é muito bem produzida. Vemos um grande jogo de luzes na parte das boates, o colorido galhofa da roupa das pessoas, detalhes técnicos de alguns cenários e marcas de produtos que remetem a esse período no Brasil, e a trilha sonora composta por músicas brasileiras e internacionais dos anos oitenta. Isso tudo faz o expectador se sentir dentro dessa época e, consequentemente, desse período de exageros nas formas que os cidadãos se expressavam em uma fase de redemocratização.


A fotografia feita por Lula Carvalho é bem produzida, pois ele consegue explorar bem as cores de acordo com a situação emocional de cada personagem, seja ele um tom mais escuro, para representar a dor e a decadência de alguém, seja em tons mais vibrantes e claros para demonstrar alegria e felicidade dos personagens dentro do filme.


A atuação de Vladimir Brichta é espetacular, o filme é ele. Em meio a um ritmo impresso pelo diretor, ele consegue se adequar, dosando bem as ações do personagem, tanto estando vestido de palhaço, partes essas que rendem boas cenas de comédia, se preparando para o papel, quanto até mesmo em um estado crítico de vida. Vladimir consegue passar muito bem para as pessoas como era o estilo de vida em uma década sem limites para as coisas dentro da nossa sociedade. Leandra Leal também está incrível no seu papel de Lúcia, diretora do programa de Bingo; mostra uma personagem mais rude quanto aos seus interesses, que é tentar elevar a audiência do programa. Augusto Madeira (Vasconcelos) rouba a cena, principalmente em partes que tem uma interação maior com o personagem de Gustavo Mendes/Bingo. O elenco de apoio também cumpre seu papel, destaque para Cauã Martins, que faz seu filho, e mostra na sua atuação todo o drama de um menino mais novo que não tem mais a companhia do seu pai.  Ana Lúcia Torre também atua bem, mostrando uma ex-atriz que sonha ainda em voltar a ter um papel de destaque na televisão. 


Dessa forma, o filme cumpre bem sua função de mostrar uma pessoa, que foi do auge para a decadência na carreira, e teve os mais variados problemas e vícios dentro de um contexto social explicado, mas que consegue se reabilitar através da arte.

Nenhum comentário