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Artists’ Alley do Sana 2017: uma pauta sobre a busca por reconhecimento artístico feminino

Por Ana Flávia Sanção e Marcelha Pereira

Sheryda Lopes é uma das 48 artistas que expõem seus trabalhos no Artists’ Alley. Foto: Caderno de Pauta

O Artists’ Alley é um estande que promove os artistas conterrâneos, dando maior visibilidade às obras produzidas em solo regional. Essa iniciativa abre portas para uma área ainda pouco valorizada - a sociedade brasileira, de uma forma geral, dá pouco crédito aos produtos artísticos e artesanais. Não há incentivo nem financiamento suficiente por parte do governo e a demanda de escolas (sejam de música, artes plásticas ou desenho) é baixa.

As carreiras como artistas são difíceis e mal remuneradas - há sempre uma batalha constante para conseguir reconhecimento por aquilo que se faz e manter-se financeiramente bem. As oportunidades são escassas e muitas vezes o trabalho é confundido apenas como um “hobby”. “É uma coisa muito desafiadora porque a gente tem muitas vozes que não estimulam, que deixam a gente com medo, com dúvida”, conta Sheryda Lopes, 31.

Paloma Cabral. Foto: Caderno de Pauta
“É difícil falar isso, mas realmente possui muito preconceito, vivemos numa sociedade em que somos educados a necessariamente trabalhar, estudar e ser bem-sucedido. As pessoas não se interessam em conhecer o universo artístico, nem apoiam os filhos e nem os artistas”, desabafa Paloma Cabral, outra das artistas presentes no estande.

No entanto, apesar da ótima iniciativa, dos 48 artistas que estão apresentando seus trabalhos no Sana 2017, apenas 18 são mulheres. Os números da feira refletem uma realidade social: as artistas femininas ainda estão caminhando para ganhar espaço. A pouca credibilidade artística cai ainda mais quando dividimos a produção por gênero - poucas são as mulheres com grande destaque.

“Com certeza, a mulher ganhou mais espaço hoje em dia, porque com a velocidade da informação que a internet nos proporciona, a gente pôde conhecer melhor as lutas das minorias e poder dizer ao público que não conhecia isso que é difícil para as mulheres, para os LGBTQ+, nós conseguimos espaço maior, porém ainda muito reduzido”, observa Paloma.

Alexia Martins e seus desenhos. Foto: Caderno de Pauta
“Então, eu vejo que as artistas femininas cresceram muito. Antigamente a gente só conhecia homens... Picasso, Van Gogh, essas coisas assim. E atualmente tem muitas mulheres famosas”, diz Alexia Martins que, aos 14 anos, expõe pela primeira vez seus desenhos ao público.

A entrada da mulher no campo também a deixa exposta aos comentários machistas e misóginos, principalmente quando ela está se inserindo em campos historicamente predominado pelo sexo masculino. “As artistas mulheres ainda ouvem muitas besteiras machistas de artista. Mas o que eu acho legal é que muitas artistas atualmente escolhem temas feministas, e eu acho que essa coisa do meio vira também uma inspiração, e a gente coloca uma resistência na nossa arte”, declarou Sheryda.

Para que o mercado artístico cresça no Brasil, é preciso apoio; não só do governo, mas também da sociedade em geral. Quanto à arte feminina, a receita é a mesma, porém com ingredientes a mais: apoiar nossas artistas, não baixar a cabeça para o machismo e as imposições sociais, acreditar no seu talento e criar uma corrente de união com as companheiras. “As mina tem que se ajudar”, disse Sheryda. E ela não falou mais que a verdade.

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