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Sana 2017: Entrevista com Pablo Miyazawa aponta um novo caminho para o jornalismo

Pablo Miyazawa. Foto: IGN Brasil. 
Uma das palestras que mais chamaram a atenção do público no palco Arena Games durante o Sana 2017 foi “Trabalhar com cultura pop: o emprego dos sonhos”. A conversa foi conduzida por Renato Siqueira, que trabalha com jogos e é um dos organizadores do Sana, e teve a ilustre participação de Pablo Miyazawa, 39, jornalista que atualmente é Editor-Chefe do IGN Brasil.

Pablo, que além de ter participado da palestra também foi ao Sana divulgar seu recente livro, 52 Mitos Pop, cedeu uma entrevista ao Caderno de Pauta em que narrou sua trajetória jornalística na área da cultura pop/nerd e revelou o que pensa a respeito do futuro que esse território pode conceder ao Jornalismo. É importante ressaltar que o IGN é o maior portal de cultura pop e entretenimento do mundo, com 24 edições espalhadas pelo globo. O que significa que Miyazawa tem muito a nos ensinar.

A entrevista completa com Pablo Miyazawa você confere a seguir.

Caderno de Pauta: Você trabalha com cultura pop há quanto tempo?

Eu diria que acerca de vinte anos. Eu comecei a trabalhar na Nintendo, com atendimento ao consumidor, e virei jornalista de revistas de cultura pop em 1998.

CP: Durante todos esses anos, qual a mudança que você vê em trabalhar com cultura pop?

Eu comecei a trabalhar em um momento em que o mercado, tanto de cultura pop como o de jornalismo, estava passando por uma transição. Porque a Internet estava surgindo como um novo meio das pessoas consumirem informação, só que ninguém sabia exatamente o tamanho que iria ficar. As pessoas ainda compravam revistas, assistiam televisão aberta, ainda iam ao cinema, compravam CD’s e games físicos, então, na virada dos anos 90 para os anos 2000, muita coisa era diferente do que é hoje. A tecnologia está crescendo, ficando muito veloz. Falar que as coisas estão mudando é até engraçado porque já mudaram e vão mudar cada vez mais. Eu enxergo que passei da transição e agora vejo no nosso mundo um público que está mais exigente com o conteúdo. Devido à velocidade da informação, as pessoas querem as coisas mais rápidas, elas sabem mais, elas gostam de mais coisas e têm mais interesse. Quando eu comecei, era tudo mais dividido por nichos e as pessoas tinham paciência; elas respeitavam muito mais a figura do jornalista, que era um sujeito que tinha a informação somente para ele e depois divulgava, hoje não é assim. Hoje todo o mundo tem tudo ao mesmo tempo. As redes sociais permitem que uma mesma informação se propague muito rápido. É muito difícil para um profissional novo, que está entrando nessa área agora, se adaptar a esse meio. Eu acho que é ainda mais difícil para um cara da minha geração se adaptar. É como se minha profissão tivesse mudado completamente. É como se antes eu fosse um jogador de futebol e agora o esporte mudou, me forçando a jogar com as mãos. Essa é a brutal diferença do que é ser jornalista hoje. E de cultura pop principalmente, pois todos os elementos da cultura pop mudaram sua essência. A música, a televisão, os programas, os desenhos animados, os videogames são consumidos diferentes. O que pouco mudou foram os quadrinhos e a literatura. Então o profissional tem que se reinventar, tem que acompanhar de uma maneira muito intensa e não pode achar que o que é novo é errado. Tem que olhar para frente e se adaptar.   

CP: Hoje você considera que a cultura pop é um bom ramo para o jornalismo?

Eu acho que é um dos poucos ramos em que a pessoa pode crescer de uma maneira não convencional. Se você pensar em jornalismo esportivo, ele ainda é muito ligado aos grandes veículos e marcas, a televisão aberta é muito forte para esporte, muitos jornais se sustentam por causa do seu caderno de esportes. Mas você não vê tantos youtubers de esporte, por exemplo. Política. Política tem muitos comentaristas, youtubers, mas a cobertura ainda está na televisão e nos jornais. São dois assuntos para um público mais velho. A cultura pop é um assunto jovem, que pode ser um assunto de adulto e de pessoas mais velhas. O jovem é quem está ditando a maneira como a Comunicação é feita e vai ser. É o jovem que está determinando que o YouTube é mais importante que a TV aberta. É o jovem que está determinando que prefere ler as coisas nas redes sociais a comprar revistas e jornal. E o jovem consome cultura pop. Hoje ela é um caminho que tem futuro para o jornalista porque é algo que sempre vai existir e nunca vai parar. Vai continuar cada vez mais e a sua cobertura ficará cada vez maior. Ela só tende a crescer, expandir e acompanhar a tecnologia. A maneira como as pessoas vão consumir cultura pop tem muito a ver com a maneira que as pessoas vão consumir tudo no futuro. Tudo o que mudar, a cultura pop vai mudar junto.

CP: O que você tem a dizer a quem pretende começar a trabalhar nessa área?

Tem que ter coragem, não ter preconceitos. Quem começa com preconceito nem deveria sair de casa. Você não pode achar que as coisas estão erradas do modo que são e era melhor do jeito que estava antes. Isso você não pode pensar. O que vale é o que é hoje. Você tem que respeitar o que está acontecendo. Deixar os preconceitos de lado e ter coragem para começar. Não fique esperando a oportunidade cair no seu colo, pois se ela podia ter caído antes, não vai mais. A chance é você que cria. Ninguém impede você de começar seu próprio negócio hoje, seja ele por escrito, por vídeo, por podcasts, ou de qualquer maneira. Você talvez não consiga um espaço na grande mídia, mas o que é a grande mídia hoje? Ela não é mais o jornalismo impresso. Ela é esses youtubers que têm 6, 10 milhões de inscritos. Os paradigmas mudaram. É preciso acompanhar esses padrões, olhar para frente e ver que nada impede você de fazer seu próprio negócio. Se você ficar esperando as coisas caírem do céu, enviar currículos para grandes empresas – como acontecia antigamente – você vai ter mais dificuldade do que eu tive há vinte anos.    

CP: Você também veio ao Sana para divulgar seu livro. Do que se trata?

52 Mitos Pop foi lançado pela editora Paralela, em São Paulo. Ele está nas livrarias há um ano, está vendendo bem e eu me propus a decifrar histórias, lendas urbanas, mitos que escutamos sobre a cultura pop. Desde desenhos animados a cinema, televisão, games e quadrinhos. Eu acho que todos esses segmentos possuem suas histórias, suas mentiras e mitos que podemos desbravar. Esse livro não existiria há vinte anos, por exemplo, porque primeiro eu não teria como investigar e segundo porque muitas dessas histórias eram verdadeiras há vinte anos. As pessoas realmente acreditavam naquele final macabro de Caverna do Dragão. Muita gente não tinha onde investigar esse tipo de coisa, pois não existia essa amplitude de informações que a Internet proporciona. Hoje esse livro é possível porque essas informações, esses boatos, ainda se propagam. E isso é legal. São boatos que, apesar da Internet, ainda existem. O livro é necessário para tentar decifrar essas coisas. Por exemplo: De Volta para o Futuro de fato previu o futuro? Muita gente acredita que sim simplesmente pela lembrança do filme. O livro se propõe a conversar sobre esses assuntos de uma maneira mais educativa e jornalística. Muitos mitos que estão aqui continuam acontecendo e não foram decifrados.   

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