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The Walking Dead: 8ª Temporada - Crítica

Por Paulo Prado


O retorno às origens renova o espírito e ancora em novos objetivos para reconquistar a sua humanidade. A oitava temporada de The Walking Dead construiu alicerces em uma temática de redenção, renovação e segue em um novo caminho para o bem maior.  Os pensamentos e vontades individualistas, que prevaleceram desde a sua primeira temporada, dão lugar a um novo sistema mais igualitário, justo e direito. Ela renasce perante às cinzas de erros catastróficos e tenta novamente restaurar o seu lugar de direito entre às grandes séries em produção.   


Como esperado, toda a temporada se constrói em volta do embate entre Rick (Andrew Lincoln) e Negan (Jeffrey Dean Morgan). Uma guerra que aparentemente não iria dar muitos resultados. É confuso analisar as intenções postas neste embate e é fácil notar a discrepância de construção, como se cada episódio decidisse seguir em rumos diferentes. Desta forma, cada capítulo toma para si uma personalidade divergente tornando a trama um tanto complexa. The Walking Dead tem, na sua primeira parte, transtorno dissociativo de personalidade. E quem me dera que fosse apenas isso.


É lógico acreditar que em um cenário pós-apocalíptico a primeira coisa a se fazer para sobreviver, além de procurar um lugar seguro, é economizar recursos. Na série, além de zumbis, existe facções que estão à procura do pouco que você tem. Há uma constante guerra por suprimentos e além de defende-los é dever racionalizar para sobreviver. Bem, com Rick e seu grupo a lógica não funciona bem assim; é constante a busca por suprimentos e o gasto deles é muito maior do que o achado. Então surge a pergunta: Se a todo momento eles estão em busca de guarnecimento, então como eles conseguem gastar tanto sem achar nada? É um dos mistérios da vida. Por se tratar de uma série ficcional é certo pensar que isso não é algo válido a se comentar, mas The Walking Dead tem a característica de sempre estar com um pé na realidade isso faz com que pequenos detalhes se tornem altamente relevantes. Não é um sonho em que um zumbi tomba escada abaixo e não consiga acordar um grupo de pessoas que está dormindo ao lado dela.

Os fãs se entristecem ao ver até que ponto a série chegou após seis boas temporadas. O pensamento de desistir invade a mente. O grupo de amigos, que semanalmente reuniam-se para assistir aos novos episódios, foi desfeito. Já não é tão atrativo assim e não vale o esforço. Até o segundo ato.


O momento de desconstrução. The Walking Dead, por cultura própria, quebrou paradigmas desde sua primeira temporada com boas representações raciais e de gênero. Sempre igualitária em suas representações. Robert Kirkman brinca com a ideia de uma realidade pós-apocalíptica em que o ser humano consegue ser tão civilizado quanto em um mundo regido por regras que lhe diz o que fazer e pensar. A ética do apocalipse prevalece e todos somos iguais perante a ele.


Isso se estabelece de maneira mais inabalável do que nunca. Carol (Melissa McBride), apesar de poucas participações heroicas, surge com um papel importante para o tema redenção junto do garoto Henry (James Michael Keats). A personagem revive em seu arco todo o drama passado na primeira e segunda temporada, mas de uma nova perspectiva, claro. Toda a premissa dramática faz com que a personagem rebusque a esperança naqueles que estão a sua volta, renascendo de forma significativa na série.

O perdão se torna a saída para alguns personagens, mas para outros nem tanto. Tara (Alanna Masterson) e Maggie Greene (Lauren Cohan) ganham muita credibilidade nesse quesito ao levar o drama de forma – distintas para as duas – ao assumir uma nova visão de mundo, tomando lideranças e se provando perante todos. Ganham autonomia para agirem por conta própria. Já Eugene Porter (Josh McDermitt) assume um papel muito importante – digo que essa importância está acima do nível de relevância do próprio personagem para a narrativa. Ele é o típico personagem feito para se odiar por seus atos bastantes individualistas, um reflexo perfeito do ser humano.  E é disso que ele tira vantagem para se tornar bem-sucedido.


A morte de um personagem importante choca de maneira inacreditável os fãs da produção. Não para menos já que a série consegue criar um vínculo quase que familiar entre fãs e personagens. Foi difícil entender, de início, como a conclusão do arco de Carl Grimes (Chandler Riggs) beneficiaria toda a história, pois era de se acreditar que ele seria o sucessor do personagem de Andrew Lincoln, ele era o futuro da série.




A morte de Carl provocou o início de uma nova fase. Além de seguir um caminho bastante afastado dos quadrinhos a série vai estabelecer uma nova forma do personagem principal tratar o mundo ao se redor. Surgem novas preocupações que vão além de uma relação familiar e o bem maior irá prevalecer perante as suas escolhas. Ela deixa marcos que se estabelecem quando Rick decide o destino de Negan e leva a série a oferecer easter eggs que estabelecem os rumos da próxima temporada evitando os famosos cliffshangers sempre estabelecidos ao final de uma temporada. Bastante chato.

The Walking Dead foi além do que o esperado. A trama, apesar de em primeiro momento se fazer confusa, indica a liberdade de novos caminhos. Ela conseguiu tratar de diversas temáticas sem desfocar da história principal. A crise política interna dos dois lados da guerra teve um grande destaque nesse sentido e deve ser levada, ainda, por algumas temporadas. A produção volta a se encontrar em seus objetivos e surge uma luz no fim do túnel podendo ser desenvolvida de forma que chegue a iluminar ideias e novamente, de forma inovadora, se provando em não ser só “apenas mais uma série de zumbis”.

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