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Vingadores: Guerra Infinita - Crítica

Por Paulo Prado


Há dez anos iniciava-se uma nova era dos personagens adaptados dos quadrinhos para o cinema, uma adaptação com muitas pretensões. Talvez não frutificasse, mas esse não era o propósito.  Uma adequação da arte sequencial para o cinema não é tão simples como parece. Pois bem, os executivos da Marvel têm isso edificado em sua mente bem antes da sua compra pela Disney – o maior exemplo que posso citar é quando Jon Favreau torna gigante um dos personagens menos aclamados pelo público, o Homem de Ferro. Até o seu primeiro filme. Mas não é apenas adaptar, é construir um novo personagem que seja adotado e aclamado por uma nova geração pouco familiarizada com o universo e ainda não decepcionar os fãs da origem.

É comum a Marvel ter heróis muito bem resolvidos, com motivações e causas muito bem adequadas. O mesmo não posso falar dos vilões, ou não poderia, pois essa era uma das razões que mais se tornavam incômodas em seus filmes, além de piadas fora de tempo e tom: deixo ênfase a Dr. Estranho nestes dois casos. Mas isso não faz com que a produção seja de todo ruim, deixo claro. Uma vez que a Marvel tem apreço ao feedback do público – críticos, fãs e simpatizantes – nota-se claramente competências mais esclarecidas e desenvolvidas como o Abutre (Michael Keaton) e Killmonger (Michael B. Jordan). Sim, nos faz levar expectativas, boas ou ruins, ao terceiro filme dos Vingadores. E a surpresa deixa transparecer.


Guerra Infinita tem o antagonista melhor construído até então. Thanos (Josh Brolin) consegue se consagrar com sua humanidade – um vilão que aprendemos a temer a cada cena pós-crédito dos filmes lançados até então – assim, ele ganha o foco central do filme. É notória, a cada escolha realizada pelo Titã, a dor sentida pelo sacrifício. As suas ações não condizem com o seu querer, mas o bem maior deve prevalecer. Stephen McFeely e Christopher Markus criam um personagem com poderes bem maiores que os fornecidos pelas Joias do Infinito. A propensão de transmitir empatia recruta entusiastas a causa e por todo lugar “já vemos camisetas de apoio a ela” – metade daqueles que se mantém vingadores. Temos o vilão que amamos e odiamos em mesma proporção. 

Boa parte do filme é dedicada a mostrar Thanos em busca das Joias.
Todo esse amor se torna ainda mais forte cada vez que somos postos diante de uma crise familiar entre Gamora (Zoë Saldaña) e Thanos. A afeição entre pai e filha ganha força e o dilema parental vai contra os objetivos do titã revelando o mais íntimo dos seus sentimentos e medos, expondo suas aflições. Neste momento ele se torna mais humano quer qualquer um dos protagonistas em cena. Ele ganha o respeito e a afinidade do público. O Titã Louco não aparenta ser tão desequilibrado assim, ele também tem muito a perder. Pois tudo tem um custo. 

A cultura é a força que move o ser humano, é um fator de identificação. A batalha de Wakanda, melhor produzida e elabora que no próprio Pantera Negra, tomou rumos incríveis e se tornou um dos arcos mais bonitos a presenciar. Neste momento a terra assume múltiplas identidades culturais. As misturas, falo, cultura nacional que influencia sobre o filme, se fizeram presentes de mãos dadas com a Cultura Pop, se tornando um momento muito importante de identificação com o público.

Foi preciso que todos os heróis do MCU se unissem para enfrentar o Titã Louco.
Apesar dos conflitos, que me levaram a lembrar do primeiro Vingadores, o trabalho em grupo dos personagens consegue ser muito mais que eficaz e os embates pessoais demonstram não serem tão importantes quanto aparentavam ser em primeiro tempo. Surge a química, abrindo espaço para cenas de ação construídas em uma sincronia perfeita de tirar o fôlego. A narrativa facilita para que os heróis revelem as suas evoluções pessoais, mas Steve Rogers (Chris Evans) não se torna muito feliz já que seu progresso não passa de uma barba por fazer. Apesar de estar entre os personagens principais da trama e sempre com ótimas cenas de batalha, seu tempo de tela é diminuído abrindo espaço para tramas maiores e com mais importância. O arco que envolve os personagens Visão (Paul Bettany) e Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) se encaixam nesse acontecimento. Embora é de se acreditar que o Capitão ganhará muito mais força no segundo ato. A terra precisa de um líder ou, mais precisamente, uma líder.

As franquias de cinemas têm sempre um padrão de construção de filmes. Muitos acabam seguindo essa tal fórmula que pode ser caracterizada como: apresentação, confrontação e resolução – também os plot point que estão incluídos dentro dessa estrutura. Os 3 atos de Syd Field. Pois bem a Marvel ousa com a sua própria formula redefine esses conceitos no filme mais esperado da franquia até então e ela consegue nos apresentar mais que um simples filme construído em cima de uma fórmula corriqueira. Imprevisibilidade, emoção, empatia, a sensação de perigo e a genialidade de nos fazer emergir no filme nos captura. E nos faz ser parte do filme, mas dessa vez não sabemos disso. A ida para casa é em silêncio, o efeito da adrenalina ainda está ali, mas a emoção e o crer que fazemos parte de algo maior não nos deixa enunciar. E a única frase que sabemos pronunciar é: “eu não quero ir”.     

Vingadores: Guerra Infinita nos apresenta hoje um dos melhores vilões já retratados no meio cinematográfico, ele consegue convencer através de suas motivações que, talvez, o errado possa vir a ser o certo de alguma forma. O carisma do personagem divide o público com os seus discursos diretos e bem formulados nos fazendo acreditar em algo maior. A resposta para a pergunta: “Qual é a formula da Marvel? ”, eu diria que essa fórmula de que tanto se fala viria ser um trabalho de dedicação, uma forma de aprender com erros passados para ter uma melhor implementação ao futuro, a fórmula Marvel é a atenção que ela tanto dedica aos fãs ao ouvir o que eles têm a falar. A Marvel conseguiu mais uma vez e ela fez mais do que isso. Ela fez história.

"Eu finalmente vou descansar e ver o sol nascer em um universo agradecido. As escolhas mais difíceis requerem as vontades mais fortes."

Thanos

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