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Pose: a verdadeira escola dos antecessores

Por Evandro Ferreira

Foto: Divulgação FX

O cenário é o subúrbio da alternativa Nova York dos anos 80, a sociedade da tela é composta por aqueles que tentam sobreviver na noite e por quem tenta se esconder dela. No meio de tudo isso, um grupo de minorias destila o mais alto nível de glamour, realeza e originalidade nas mais diversas categorias dos bailes das casas noturnas mais ecléticas possíveis. 

É no surgimento de uma histórica e dramática fase da cultura gay que acontece a série Pose, criada por Ryan Murphy (Glee, American Crime Story e Feud), Brad Falchuk (American Horror Story e Scream Queens) e pelo novato Steven Canals. A primeira temporada tem oito episódios e termina neste domingo, 22, no canal FX - mas, para o bem de todos, a segunda temporada já foi confirmada. 

Antes de qualquer outra coisa, é necessário entender a profundidade e a importância dessa série. É obrigatório salientar que boa parte do que existe hoje no mainstream do mundo do arco-íris é produto daquilo que a narrativa dramatúrgica de Pose retrata: a propagação da arte Drag, as músicas frenéticas de baladas e a veneração das divas do pop.

Até as problemáticas sociais que vivemos hoje estão presentes na superprodução, como o uso de drogas, prostituição, preconceito dos próprios gays contra transgêneros e a temida epidemia de AIDS.    

Elenco Pose. Foto: Divulgação FX

A partir daqui teremos leves spoilers do primeiro capítulo 

Tudo começa por um sonho e aqui é o desejo de ser bailarino de Damon, vivido por Ryan Jammal Swain, que leva o pobre rapaz a ser expulso de casa pela família e ir viver na rua. Do ponto de vista da teledramaturgia, ele é o nosso olhar e, a medida em que o primeiro capítulo vai se desenrolando, os demais personagens vão explicando diversos conceitos que muitas vezes é desconhecido para o telespectador, se tornando uma verdadeira escola para todos. 

Ao chegar na rua, ele conhece Blanca (Mj Rodrigues), uma mulher trans que descobre ser portadora do vírus da AIDS e decide sair da guarda da antiga Mãe* Elektra Abundance (Dominque Jackson) para criar a sua própria Casa*. E é nesse encontro que uma relação de amizade e de real família acontece. 

Elektra Abundance - Dominique Jackson. Foto: Divulgação 

Um dos destaques cênicos são os agitados Bailes*. Verdadeiros campeonatos com diversas categorias de desfile onde os integrantes de cada Casa disputam os troféus nas mais variadas e excêntricas categorias - quem conhece o reality Rupaul’s Drag Race sabe do que estamos falando. 

Tudo ditado pelo ritmo quente de uma trilha sonora temperada com hits das lendas Gloria Estefan, Diana Ross e Grace Jones, entre tantos outros mitos. Uma cena que vale guardar na memória é a seletiva de Damon numa escola de balé ao som de I Wanna Dance with Somebody (Who Love Me) da eterna Whitney Houston.

Outro destaque na trama é Indya Moore, que interpreta Angel, uma doce, mas ambiciosa mulher que trabalha como prostituta e conhece Stan Bowes, um homem casado que acaba se apaixonando por ela. O detalhe que acaba sendo relevante para a sociedade preconceituosa da época é o fato de Angel ser uma mulher trans. O desenrolar dessa história é uma das coisas que ganham bastante espaço na trama.

Uma questão importante, presente em todos os episódios, é a avassaladora epidemia de Aids que acontece na época do descobrimento do vírus - fase em que a medicina não tinha a mínima noção dos cuidados possíveis e necessários para os pacientes portadores do vírus. Cenas dos hospitais abandonados e lotados de pessoas em estado final de vida é um verdadeiro e necessário soco no estômago do telespectador. Um tema cada vez mais válido de debate. 

Elenco Trans Pose. Foto: Vanity Fair

Quando o assunto é representatividade, Pose não faz feio nem na tela e muito menos nos bastidores. Seguindo um modelo que deveria ser padrão para todos, os personagens trans são feitos por pessoas trans e esse grande detalhe é importante na missão que a série se propõe, que é o de reconhecimento de uma população que teve e tem um papel fundamental na cultura que hoje é bem mais vista e consumida nos mais diversos tipos midiáticos. 

O único fato negativo observado é que a série só tem oito episódios, acaba hoje e só volta no ano que vem. No Brasil, Pose deve estrear no segundo semestre no canal Fox Premiun, no entanto, é possível conhecer mais sobre o assunto assistindo ao documentário Paris Is Burning disponível na Netflix. 

Pequeno glossário:

*Mãe é o nome dado a responsável por casa, geralmente ela possui um vínculo afetivo com cada um dos seus filhos que na maioria dos casos são pessoas que foram expulsas de casa por causa de sua orientação sexual e / ou expressão de gênero. 

*Casa é a denominação dada a um grupo de pessoas que compõem uma equipe que disputa troféus em categorias. Exemplos presentes na série: Casa Abundance, Casa Evangelista e Casa Ferocity.

*Bailes são os encontros de disputa dos títulos representados em troféus em categorias onde uma banca de jurados avalia com notas e o mestre de cerimônia comanda o evento e anuncia a pontuação e os ganhadores.

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