O que significa estar numa jam?

Me fiz essa pergunta e demorei a respondê-la, mas posso dizer que isso é muito mais que um desafio para criação de jogos

*Por Marcus Arboés 

O participante Daniel Geber passando seu tempo de descanso da melhor forma jogando (Foto: Ricardo Luiz)

Na primeira vez em que ouvi falar de game jam, em 2015, como uma maratona de desenvolvimento de jogos, onde os participantes (jammers) tinham um prazo limite para entregar um game com tema pré-determinado, imaginei algo bem diferente do que vi na Epo Jam e do que estou vendo e sentindo na Global Game Jam.

De início, minha resposta parecia certa - essas pessoas estão aqui pelo desafio - e realmente estavam, mas com o passar do tempo me pareceu realmente complicado resumir só a isso. Percebi isso quando vi um grupo de desenvolvedores rindo e se divertindo enquanto jogavam um jogo de cartas para descansar, percebi quando vi sorrisos nos rostos cansados, mesmo depois de dois dias mal dormidos e, principalmente, definitivamente, percebi quando conheci as pessoas.

Nem todo mundo aqui é profissional. Nem todo mundo aqui encara estar inserido em criação de jogos como um desafio ou um trabalho. Todas as pessoas que estão aqui têm uma particularidade dentro de si que os traz para esse ambiente, e, notei muitas vezes que isso pode estar associado a infância ou a adolescência. Algo que foi bom e que, de uma forma intensa, a gente pode sentir falta.

Talvez nem tudo, nem para todos, mas sim, as coisas são mais fáceis e mais simples quando somos menores. As coisas são mais fantásticas quando somos crianças cheias de sonhos… Dentre esses sonhos o de “criar um jogo”. Um jogo do seu jeito, com seus personagens - sim, aqueles que você desenhou no seu caderno, dando a eles nomes, histórias e poderes -, no mundo que você criou.

Pode ser (talvez eu afirme com certeza) que esses sonhos potencializaram não só o estar aqui numa jam, mas também levar isso para frente: trabalhar como web desenvolvedor, como designer ou cursar jogos digitais. E esses sonhos e gostos continuam presentes até agora. A gente encontra na história contada durante uma conversa na madrugada, encontra no personagem desenhado, no olhar admirado com a decoração temática de jogos no Sebraelab ou no significado do que é lar.

Aqui, como jammers, essas pessoas encontram algo que realça mais ainda o prazer nostálgico. A Game Jam é um refúgio de um final de semana, onde você encontra várias pessoas iguais a você. Não iguais de personalidade (com certeza não), nem de ocupação e muito menos de estilo. Você conhece e revê pessoas que, assim como você, se trancaram por horas em um quarto jogando o mesmo jogo que você, possivelmente até na mesma época.

O universo do quarto escuro, iluminado pela tela da televisão se torna um laboratório enorme, com vários computadores e, agora, com muito mais gente ao seu redor. Dessa vez, afirmo, sem estar sozinho.

Criar um jogo em casa ou num ambiente de trabalho pode ser realmente muito bom, digo, você fazer o que gosta. Mas estar rodeado de mais outras 40 pessoas, compartilhando um sentimento, uma positividade de poder viver suas vontades, seus gostos e trocando experiências, é diferente, é especial. É como estar em um universo, onde você não é o aluno estranho que passava a aula desenhando no ensino fundamental ou a garota que foi excluída pelas outras meninas por gostar de falar de anime e videogame.

O tema dessa Global Game Jam 2019 com certeza mexeu com tudo isso que eu disse. Tentar expressar o significado de lar para você em um jogo trará, dentro dos games, emoções, lembranças e sonhos de cada um dos participantes.