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Zootopia e a importância de tentar

São inúmeros os filmes infantis que nos trazem lições, mas o que falar sobre esse em específico?

*Por Marcelha Pereira

Em Zootopia, Judy Hopps é uma recém-formada policial indo para a cidade grande em busca de concretizar o seu sonho (Foto: Divulgação)
Esse texto não é uma análise-crítica de Zootopia, o que tenho para dizer é uma experiência pessoal que tenho com ele. Particularmente, adoro filmes “para crianças” e penso que o “mundo dos adultos” seria melhor se nós dedicássemos algum tempo da nossa vida para as produções infantis. Toda animação traz lições morais de amizade, empoderamento e até mesmo de saúde mental (Divertida Mente é um tapa na cara ao abordar essa última questão). O objetivo é ensinar as crianças, mas é ainda melhor quando os adultos acabam aprendendo junto. 

Então vamos começar pela música principal de Zootopia, Try Everything (Tentar de Tudo), cantada pela Shakira

Eu fiz besteira essa noite, perdi mais uma luta, ainda estou bagunçada, mas vou apenas começar novamente. Continuo caindo, continuo batendo no chão. Sempre me levanto, agora para ver o que está por vir. Aves não apenas voam, elas caem e se levantam, ninguém aprende sem errar. Eu não vou desistir, não, não vou ceder até chegar ao fim e depois começarei de novo. Não, não irei embora, quero tentar de tudo, quero tentar mesmo que eu possa falhar.

É com essa trilha sonora que Judy Hopps, nossa coelha recém-formada como policial, se lembra dos desafios que passou em sua formação enquanto sai de sua cidade rural para a “cidade grande”, Zootopia. Como primeira integrante da classe social dos coelhos a querer ser policial, ela sofre com o preconceito desde sua entrada para a Academia de Polícia, onde todos achavam que uma coelha não poderia ocupar aquele espaço, por seu tamanho e pela sua “fragilidade”. Ela é julgada por sua classe, assim como pelo seu gênero e, ao não baixar a cabeça e desistir dos seus sonhos, ela mostra o que uma coelha é capaz de fazer.

Policial Judy Hopps em ação (Foto: Divulgação)
[O parágrafo a seguir pode conter leves spoilers, então é só ir para o seguinte]


Ao chegar à cidade, o preconceito persiste e de forma ainda mais escancarada no Departamento de Polícia de Zootopia (DPZ). Por ser uma coelha, seu potencial é duvidado e ela é a única policial a não pegar um caso criminal. Seu chefe prefere deixá-la como guarda de trânsito. Frente à situação, Judy decide que será a melhor guarda de trânsito que puder, mas seu instinto policial a faz se envolver em solucionar um pequeno caso de roubo, sendo reprimida pelo chefe por não ser sua função. Em meio à discussão com seu superior, ela pede uma chance para mostrar sua capacidade e acaba assumindo o caso de desaparecimento do Sr. Lontroso, até então ignorado pelo DPZ, mas que é a chave para o desenrolar de toda a história. 

Nada é fácil no decorrer dos acontecimentos e Judy se mostra forte e sensível a cada novo empecilho. Insegura, também. Impulsiva. Comete erros. Tudo em nome do que acredita. E eu, particularmente, me sinto um pouco como ela. Claro que não sou policial e não estou atrás de solucionar algum crime, mas me refiro às simples ações cotidianas. Às vezes me culpo por ter feito algo errado ou impulsivo e percebo que diversas pessoas ao meu redor se sentem da mesma forma, como se precisássemos ser perfeitos e fazer coisas certas sempre. Judy, no fundo, se parece muito com todos nós. 

Ela não se mostra perfeita e chega até mesmo a vencer seu próprio preconceito e medo em relação às raposas ao se juntar com Nick Wilde, um criminoso que acaba sendo envolvido, por ela, na investigação. Esse preconceito de Judy vem de uma ideia impregnada na sociedade em que vive. Na história antiga desta civilização animal, as raposas eram, além de predadoras dos coelhos, consideradas pelo resto dos animais como um grupo pouco confiável e estereotipado como “malandro”. E é por esse estereótipo carregado desde pequeno que Nick enxerga a vida de crime como o seu único destino.

Nick Wilde provocando Judy em uma das primeiras cenas dos dois juntos (Foto: Divulgação)
Achou a situação do Nick parecida com a de crianças da nossa própria sociedade? Você não é o único. Não foi à toa que Zootopia ganhou o Globo de Ouro e o Oscar de Melhor Filme de Animação em 2017. Zootopia retrata de forma realista o mundo real, onde questões como a desigualdade social, racismo, machismo e sexismo são enraizadas na sociedade e estão presentes de formas tão sutis que muitos não se dão conta. Esse é só mais um dos motivos para eu amar essa produção. Além dessa questão social, há as questões internas de Judy sobre força e determinação que falei anteriormente. 

Algumas vezes, quando me sinto desencorajada, corro para assistir ao filme e basta 11 minutos para sentir minhas forças renovadas. Quando não tenho tanto tempo assim, coloco apenas Try Everything para tocar – automaticamente lembro da Judy e me sinto melhor. E é assim que nós adultos podemos aprender um pouco caso deixemos que o filme nos toque. Estamos em 2019 e até hoje sou lembrada de que é preciso guardar os medos no bolso e tirar deles a força para tentar coisas novas e avançar naquilo que me faz feliz. 

O Luiz Gustavo Ribeiro, aqui do Caderneta Nerd, já tinha falado em janeiro de 2018 sobre a importância de se sentir representado, como negro, em um filme como Pantera Negra. E, nos dias de hoje, nunca foi tão necessário encontrar obras que te preencham o coração e nas quais você se enxergue. Zootopia é uma dessas produções para mim. Me ensinou, e ainda ensina, que tenho meus defeitos e que não tenho que fazer tudo certo a todo momento, ao mesmo tempo que preciso passar por cima de inseguranças do que os outros que podem pensar ou falar de mim. Aprendi que preciso apenas levantar a cabeça e tentar.

Olhe o quão longe você chegou, você tem enchido seu coração com amor. Você tem feito o bastante, respire fundo, não se machuque, não precisa correr tão rápido. Às vezes chegamos por último, mas fizemos nosso melhor.
Try Everything

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