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One Day At A Time - Crítica

A série de televisão norte-americana da Netflix usa sarcasmo, representatividade e leveza na medida certa para levantar discussões importantes, como transtornos mentais, bullying, machismo, racismo e imigração

* Por Francisca Pires

“One Day at a Time” é uma história que mescla comédia e drama, buscando retratar lições cotidianas acerca dos mais diversos assuntos. O programa foi desenvolvido por Gloria Calderon Kellett e Mike Royce, estruturado no gênero sitcom (comédia de situação) e já possui duas temporadas. A primeira foi lançada em janeiro de 2017 e a segunda, cerca de um ano depois, em janeiro de 2018. Ambas são compostas por treze episódios com menos de 30 minutos de duração cada.

Imagem de divulgação da série One Day At A Time

As filmagens da série foram feitas na Califórnia e se baseiam em outra sitcom, de mesmo nome, exibida nos Estados Unidos de 1975 até 1984. O elenco é estrelado por Justina Machado, Todd Grinnell, Isabella Gomez, Marcel Ruiz, Stephen Tobolowsky e Rita Moreno. Por sua vez, o enredo gira em torno de uma família cubano-americana, que mora em Los Angeles desde que a matriarca Lydia Riera, a abuelita, precisou fugir de Havana quando ainda era adolescente, devido à ascensão de Fidel Castro ao poder. Sua única filha, Penelope Alvarez, é uma veterana do exército que sofre de TEPT (Transtorno do Estresse Pós-Traumático) e cria sozinha seus dois filhos, Elena e Alex - o casamento com o pai das crianças acabou quando o alcoolismo enfrentado por ele passou a ser uma ameaça à integridade da família. Além daqueles que compõem o núcleo familiar, existem mais dois personagens que fazem parte do desenrolar da série: Dr. Leslie Berkowitz, chefe de Penelope, e Schneider, síndico do prédio.

Além do alcoolismo e TEPT, cada personagem vivencia de forma individual algum acontecimento que levanta uma questão a ser discutida. Elena, por exemplo, é uma militante de quinze anos, defensora dos direitos humanos que, ao vivenciar suas primeiras relações amorosas, afirma-se lésbica em uma família tradicional católica. Alex, por sua vez, sofre racismo na escola por ter traços físicos que evidenciam sua descendência latina, ainda que tenha nascido americano. Seus colegas de classe fazem piadas sobre a imigração, proferem frases de ódio e chegam a fazer menção ao muro capaz de separar sua nação das demais. No entanto, ainda que questões polêmicas envolvendo relacionamentos, estereótipos sexistas, armamento e religião sejam abordadas no decorrer dos episódios, as discussões são sempre levantadas de forma muito leve e bem humorada, o que faz com que o telespectador consiga refletir de forma abrangente sobre os temas.

Durante o desenrolar da história, os personagens costumam fazer referência a acontecimentos bem atuais, o que torna o enredo cada vez mais próximo a quem está assistindo. A série também não busca ser discreta quanto aos seus posicionamentos ideológicos, ficando assim bem evidente qual a opinião dos personagens sobre cada assunto. Mesmo que no roteiro surja o debate, visto que nem sempre os personagens possuem a mesma opinião, o desfecho sempre procura mostrar qual lado está sendo mais sensato com relação ao tema, promovendo assim uma identificação por parte do público. O objetivo é frisar o respeito às diferenças, mas sem deixar espaço para qualquer tipo de preconceito ou pensamento retrógrado que possa vir a ferir a integridade do outro.

Ademais, outra característica relevante da trama é a valorização da cultura cubana. A abuelita faz questão de preservar, nos mínimos detalhes do cotidiano, os costumes de sua terra natal, além de ensinar à sua família sobre a luta enfrentada pelos seus ancestrais. Elementos como música, culinária, traços da religião católica e rituais passados de geração para geração (a chamada festa quinceanera, por exemplo) compõem a identidade da família, mostrando o quão importante é defender os valores da sua raça.

One Day at a Time é a prova de que ainda é possível fazer humor sem uso de elementos que prejudiquem a individualidade e escolha das pessoas. Em tempos de intolerância é, portanto, uma esperança de que os grandes espaços de audiência possam ser usados para disseminação de mensagens importantes. A série fala de respeito e, sobretudo, ensina a como lidar com as questões pessoais da melhor forma possível, incentivando quem assiste a buscar sua evolução gradativamente.Ou seja, como diz o próprio título, um dia de cada vez.

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