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Histórias de Game Jam

Confinamento, modo survival ativado e muita vivência para compartilhar

* Por Luiz Gustavo Ribeiro

Sempre que vou viajar, minha mãe me recomenda fazer uma lista dos utensílios básicos e necessários para os dias em que vou ficar fora. Como mais um jovem que se acha dono do mundo, eu termino não fazendo e arcando com as consequências posteriormente. Já viajei sem toalha, sem tênis e subestimei o frio em muitas das vezes. Na Global Game Jam, posso te garantir que não sou o único a ter vivido isso. Confinados por mais de 48h, muitos dos participantes já passaram por situações adversas que vão de uma noite sem moletom ao terror da rebelião de Alcaçuz. Por esse motivo, fui saber um pouco mais das peculiaridades dos jammers que enfrentaram alguns “perrengues” em outras edições de Game Jam. 

Aquela Jam com frio em Natal

Uma história de Ruben Carmona, natalense e designer gráfico de 22 anos 

(Foto: Luiz Gustavo Ribeiro/CadernetaNerd)

“Foi na Epo Jam, era dezembro em Natal, então eu estava só com a roupa do corpo. Foi no IMD, eu não trouxe casaco, não trouxe edredom, trouxe apenas um lençol super fininho, e eu ia dormir no chão mesmo. Ao invés de dormir nos quartos apropriados para dormir, eu escolhi dormir nas cadeirinhas dos corredores, porque é impossível ficar nos quartos sem congelar, sem ficar no doente. No terceiro dia, eu já estava quase morrendo de gripe, completamente resfriado. Primeiro, o jogo deu todo errado, mas como foi a primeira (Jam) é normal. E dessa vez estou bem mais preparado, trouxe muitas roupas, trouxe meias e estou com meu edredom perto do meu computador, porque se qualquer coisa acontecer já fico envolto ao meu “mantinho” e fica tudo certo!” 

Aquela Jam com a Rebelião de Alcaçuz 

Uma história de Robson “Talbone”, paulista que mora em Natal desde criança, artista de 25 anos 

(Foto: Luiz Gustavo Ribeiro/CadernetaNerd)

“Foi na GGJ de 2016. Ela caiu exatamente quando estourou a rebelião de Alcaçuz e todo aquele problema que teve. Muita gente da área do crime estava fazendo estardalhaço em Natal, queimando ônibus e todo mundo estava morrendo de medo de sair de casa. Então, além da Jam ter tido menos gente, a gente fez tipo uma barricada, foi quase como um apocalipse zumbi. Passamos 48 horas dentro da UFRN, presos, porque não tinha como sair. Quase não tinha comida, tinha uma pizzaria que fazia entrega lá, mas foi só uma vez no fim de semana. Foi uma coisa bem louca e ficamos esse tempo todo fazendo jogo e com medo dos presos que poderiam chegar a qualquer hora.” 

Aquela Jam com problemas matemáticos 

Uma história de Wesley Ronald, paraibano e programador de 26 anos 

(Foto: Luiz Gustavo Ribeiro/CadernetaNerd)

“Foi na Epo Jam de 2018, eu passei cinco horas programando um negócio que eu não estava programando. Eu achava que não ia conseguir, estava fazendo altos cálculos para tentar resolver o problema. Então, eu encontrei na documentação algumas funções que fazia o que eu estava tentando fazer há horas com a matemática. Reduziu muitos as linhas do código e em cinco minutos depois que eu encontrei as funções, eu consegui solucionar meu problema de cinco horas…” 

Aquela Jam com o rapaz que não fez a lista de viagem 

Uma história de Lucas Paiva, natalense e artista de 22 anos 

(Foto: Luiz Gustavo Ribeiro/CadernetaNerd)

“A primeira Game Jam que eu participei, em janeiro de 2018, meu grupo estava fazendo um jogo só que eu não tinha me preparado. Eu não trouxe nada, eu trouxe um caderno e pronto. Não trouxe comida e eu fiquei tentando sobreviver na Game Jam. Eu ‘roubei’ o laptop de um colega meu do grupo, ele ficou sem fazer nada e eu fiquei desenhando. Foi horrível porque eu achei que ia ter computador. Eu fiquei dormindo no frio, porque não tinha onde dormir, foi horrível a situação. Agora eu vim mais preparado, mas esqueci a caneta pra desenhar. Mas está sendo resolvido e eu tento arrumar tudo metodicamente, sobre o que eu tenho que levar: computador e coisas para o computador, comida, coisas pra tomar banho e coisas para dormir.” 

Aquela Jam com os streams estranhos 

Uma história de Carlos Lennon, paraibano e game designer de 19 anos 

(Foto: Luiz Gustavo Ribeiro/CadernetaNerd)

“Bem quando a gente fez o jogo, parecia simples, tipo mal feito, mas o povo acabou gostando muito que acabou tendo gameplay de países estranhos. Teve uma gameplay de um árabe gritando com sons estranhos e ficou cantando a música do jogo, que foi feita com a boca, as pessoas do jogo tentam imitar a música por alguma razão. Teve a gameplay de um francês, que ele gostou tanto da música que ficou fazendo hip-hop com ela, tem até para download.” 

Aquela Jam com o "perrengue” musical 

Uma história de Maurício Ramalho, natalense e sonoplasta de 22 anos 

(Foto: Luiz Gustavo Ribeiro/CadernetaNerd)

“Minha primeira jam foi a Epo Jam de 2018, fomos fazer o jogo e olhamos os diversificadores. Como gostamos de nos limitar, a gente foi fazer o jogo com o máximo de diversificadores possíveis, e tentamos fazer as coisas do jeito mais difícil possível. O desenho foi em papel e não foi digitalizado. Eu faço música mas é bem entre aspas, eu gosto de estudar, mas nunca parei para criar mesmo. Tinha um diversificador de criar sons com a boca e nós decidimos fazer o todos os sons assim. Eu gravei a música, os efeitos sonoros, tudo com a boca com meu celular no gravador, eu passei a madrugada toda no armário do banheiro, a edição foi bem difícil, mas a música foi bem doida e deu certo. Nesta jam, praticamente só eu que mexia com som. Então eu fiz pra praticamente o som de todas as equipes, mesmo sem ter trabalhado com efeitos sonoros. Me deram uma lista com coisas do tipo, som de uma minhoca pulando, e eu não sabia como fazer isso, pegamos pandeiro e violão... mas deu certo.”

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